A Via Láctea

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Essa cela está me tirando o pouco de sanidade que me resta. A cada segundo que passa é como se ela fosse se comprimindo e ficando cada vez menor. Falta-me ar e eu acredito que a qualquer minuto eu irei morrer sufocado. As noites eu tenho pesadelos horríveis. Não consigo dormir e não consigo comer. A única coisa que me faz aguentar é saber que daqui a alguns dias, meses ou até mesmo anos eu terei meu amado Alexander lá fora me esperando.

Não me arrependo do que eu fiz e mesmo vendo quais foram as consequências do meu ato, eu teria feito tudo de novo. Fiz porque precisava ficar ao seu lado naquele momento difícil. Fiz o que fiz somente por amor.

Uma semana se passou e o meu advogado me disse que a minha situação estava crítica. Não só a minha como também a do meu cunhado. Nós estamos sendo acusados de fralde, roubo de identidade e até mesmo formação de quadrinha já que tinham mais pessoas envolvidas. Meu padrinho perdeu seu cargo no conselho da ordem dos advogados e estava sendo processado. A coisa está realmente feia para o meu lado. O diagnóstico segundo ele é que tanto eu quanto o Jace pagaremos no mínimo cinco anos em regime fechado. Resumindo: Nós estamos ferrados.

Estou entrando na segunda semana e comecei a receber visitas. A minha avó estava inconsolável. Ela se culpava pelo que estava acontecendo, afinal de conta, a ideia daquilo tudo havia sido dela. Mas eu não a culpo, eu a agradeço porque foi graças a ela que o meu amado Alexander está aqui agora. Falando do Alexander.... Até agora ele não veio me visitar, Isabelle me disse que ele está desolado trancado dentro do quarto. Não quer falar com ninguém e não está se alimentando. Estou muito preocupado, mas nada posso fazer daqui de dentro.

Terceira semana. O advogado me disse que a testemunha principal decidiu que não iria depor no julgamento. Disse também que a denúncia havia sido retirada. Sem denuncia sem crime ele me disse. Segundo ele agora vai ser mais fácil me tirar desse lugar. Vou continuar respondendo processo, mas não vou precisar ficar trancado feito um criminoso. Ele acredita que o meu caso nem vá a julgamento, já que as queixas foram retiradas e o principal prejudicada que era o Alexander não iria ficar contra nós. Resumindo.... Em alguns dias eu estarei fora desse inferno.

Último dia de prisão. Um mês, eu perdi um mês da minha vida trancado, um mês em ver a luz do sol, um mês em ver o Alexander.

Na saída estavam a minha avó e o meu padrinho me esperando. Nenhum sinal do Alexander. Na verdade, eu não tive nenhum sinal dele em todo o momento em que estive preso.

- Onde está o Alexander? – Perguntei assim que a minha avó parou de me abraçar e me beijar. – Porque ele não está aqui com vocês?

- Acho melhor a gente conversar em casa, meu filho. – Disse voltando a beijar a minha testa.

- Eu não vou a lugar nenhum até saber o que aconteceu.

Viu quando sua avó olhou para o seu padrinho. Ambos traziam consigo uma tristeza estranha no olhar e aquilo estava o deixando ainda mais preocupado.

- Ele foi embora, meu querido.

Eu ouvi errado. Eu não posso ter ouvido aquilo. Respira Magnus. Respira porque você deve está imaginado coisas.

- Como assim ele foi embora? – Fique calmo. Você só precisa ficar calmo.

- Ele pediu que a Isabelle me entregasse as chaves do seu apartamento. Disse que iria fazer um tratamento na Inglaterra e que não voltaria tão cedo.

Era um de pesadelos se tornando realidade. Alexander não pode ter ido embora sem se despedir. Ele não pode ter feito isso comigo.

- Eu sinto muito meu amor.

Sinto quando a minha avó me abraçou com ternura. Sinto meu coração se partindo em mil pedaços, sinto o choro e o desespero e sinto que eu iria desfalecer a qualquer momento. Aquilo não poderia estar acontecendo. Meu casamento havia sido anulado pela justiça, eu perdi um mês dentro de uma jaula e agora estou perdendo o amor da a vida. Era muito para eu aguentar. Era muito para qualquer ser humano aguentar.

Tentei ligar para o seu celular, mas ele não atendia e não respondia as minhas mensagens. Uma semana depois o aparelho estava desligado ou fora da área de cobertura. Alexander não queria falar comigo. Fui atrás do meu sogro para ver se ele tinha alguma ideia do que havia acontecido, mas ele também estava no escuro. O Alexander havia sumido do mapa.

As semanas iriam se passando e consigo levando o cheiro que ele deixou dentro do meu apartamento. Agora só haviam me restado as lembranças.

Um mês. Dois meses. Três meses. Quatro meses. Cinco meses já havia passado desde a última que o vi. Isabelle as vezes vem me visitar e eu sempre pergunto dele. Eu sigo o seu processo através da minha ex-cunhada que agora se tornou uma das minhas melhores amigas. Segundo ela o Alexander está andado com a ajuda de um andador. Ela me diz que ele está bem e que aparentemente está feliz com a sua vida na Inglaterra. Feliz. Como ele pode estar feliz depois de tudo o que aconteceu entre eles? Como ele pode esquece-lo desse jeito?

Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Minha respiração estava cada vez mais pesada. Precisava de ar fresco. Precisava sair um pouco daquele quarto.

Fui para a praia mais próxima da minha casa. Tinha alguma coisa no mar que me atraia e que me acalmava.

Fiquei sentado admirando as ondas. Como será que vivem as sereias? Como vivem os peixes e as algas? Como deve ser a vida lá embaixo?

Olhei para os calmantes dentro da minha carteira. Olhei para o mar. O que eu iria perder? Nada. Eu não tinha nada para perder.

Peguei um. Dois. Três. Quatro. Cinco.... Deis comprimidos. E os coloquei imediatamente em minha boca. Retirei meus sapatos e a minha blusa. Caminhei lentamente até o mar. Da onde eu estava dava para ver a área e o calçadão. Deserto. Não tinha ninguém para salva-lo caso ele precise ser salvo.

Sono. Os remédios estavam começando a fazer efeito. Não tenho mais forças para nadar. Não tenho mais forças para boiar. A única coisa que me resta é deixar que as ondas me levem. Sinto a água entrando pela minha boca. Sinto a água entrando em meu nariz e ouvido. Sinto meu corpo afundado.

Nada. Agora eu não sinto nada.

 



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Esse foi o capitulo mais triste que eu já escrevi. Revisei somente uma vez por medo de começar a chorar de novo. Sim. Eu escrevi e eu mesma estou triste e deprimida com o que aconteceu. Mas infelizmente eu tenho um cronograma de acontecimentos para seguir e mesmo com o coração perdido eu não posso simplesmente passar por cima da minha ideia inicial. Enfim... Espero que vocês tenham gostado e desculpem qualquer coisa.

Um GRANDE beijo no coração!


Nosso céu Particular ( Malec )Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu