Capítulo 41

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Me deito em minha cama após tomar um ótimo banho quentinho e vestir minha camisola de algodão. Ajeito o despertador e apago o abajur, mordo o lábio com força ao lembrar dos beijos de Andrew e sorrio a seguir.
Até parece um sonho.
Eu e Andrew namorando.
Quando eu poderia imaginar uma coisa dessas ?
Me ajeito na cama, cobrindo o ombro e me deitado de lado. Adormeço pensando em como o meu último ano escolar poderia trazer tantas mudanças.

" "

Acordo estressada com o despertador e ainda com os olhos fechados o pego, desligando o e colocando o objeto sobre o criado mudo da esquerda. O cabelo grudado em minha testa me mostra que a noite foi fria e eu fiz questão de dormir sem amarra lo antes. Jogo a coberta para o lado e coloco as pernas para fora da cama, as obrigando a caminharem até o banheiro.
Definitivamente, passar o domingo todo deitada só me rendeu dores no corpo.
Escovo os dentes após tomar um banho e lavar os cabelos, fazendo uma maquiagem com apenas um rímel e um gloss clarinho. Retiro a toalha do corpo e visto a roupa que separei a pouco, uma calça jeans preta com rasgos nas pernas, um moletom cinza sem estampa e com bolso único na frente, uma regata de sarja cinza também, uma lingerie azul bebê e meias finas bancas e curtas para usar com o meu vans preto.
Ajusto na mochila o material do dia e retiro o celular do carregador, pegando minha carteira e a enfiando no bolso da frente da mochila.
Arrumo minha cama rapidamente e ao abrir a janela do quarto me deparo com Charlie deitado no batente da janela, pego o bichinho dorminhoco no colo e jogo a mochila em cima de um dos ombros. Coloco meus óculos e saio deixando a porta aberta.
- vô ? - chamo ao descer as escadas.
- cozinha.
Olho os potes de água e ração de Charlie e vendo que vovô já os encheu abaixo e deixo o gatinho em frente a eles para poder se alimentar. Caminho até a cozinha e encontro vovô sentado comendo waffles com mel.
- isso está com uma ótima aparência. - me sento na banqueta ao seu lado.
- deixeis as suas ali. - ele aponta para a pilha de waffles a sua frente. - espero que esteja com fome.
- nossa vô, tem muitas. - rio e ele me olha com ternura.
- achei que você traria alguém pro café.
- está se referindo a Andrew ? - pego três com a ajuda de um garfo e as coloco no meu prato.
- Grayson ou o menino Sam.
- por que não o chama de Andrew vô ? - jogo mel nos waffles.
- por que ainda não o conheço o suficiente para chama lo pelo primeiro nome, certo. - ele coloca um pedaço do waffle na boca.
- isso é meio antiquado. - começo a comer.
- não, esse é o jeito certo de se conhecer alguém.

" "

Sentada em uma mesa escondida na biblioteca deixo com que alguns livros de ficção adolescente e literatura inglesa caiam sobre a madeira desgastada da mesa de canto.
Preciso escrever minha síntese para a aula da senhorita Rubin e acho que esse livros me farão ter alguma ideia de como descrever meus sentimentos, sejam eles por Andrew, por Sammy ou por vovô. Abro o epílogo de todos eles, lendo com atenção as palavras macias com que cada um pretende mostrar no livro. Pego meu caderno e uma caneta e coloco os fones de ouvido, começo a ouvir uma música suave que me permita pensar e apreciar o som.

Os sentimentos podem ser qualquer coisa que usamos como desculpa para tentar entender o que acontece dentro de nós, podem ser apenas expressões mal compreendidas ou até mesmo podem ser o que somos.
Meus sentimentos são confusos ou apenas eu que não saiba difundi los, separar cada um deles e lhes colocar um nome e função. O amor pode ser ódio, a raiva pode ser calma, o amargo pode ser doce, a vaidade pode ser desleixo assim como a confusão pode se tornar clara. A intensidade do sentimento pode causar dor, alegria, paixão, sofrimento mas em momento algum pode lhe trazer compreensão, essa dádiva só vem quando os sentimentos são puros. Meus sentimentos são indescritíveis, impassíveis e extraordinariamente fortes, fortes ao ponto de me fazer querer gritar. Os sentimentos podem ser ruins, podem ser bons, mas nada muda o fato de eles serem sentimentos, sentir nos torna mais humanos e racionais e quem diz não sentir... Não sabe o que fazer com tantos deles em seu peito.

Sorrio com o final da minha síntese e fico feliz pela mesma ter quase vinte linhas, destaco a folha do caderno e com a régua retiro a rebarba. Desligo a música e coloco os livros de volta nos lugares, ao voltar para a minha mesa encontro Andrew sentado na única cadeira disponível depois da minha. Os olhos curiosos lendo meu trabalho, os lábios fechados e rodados, as pernas juntas por causa do tamanho da mesa.
Tão lindo.
- nunca te vi na biblioteca ? - me sento em meu lugar.
Ele finalmente me encara e sorri de lado, as sobrancelhas grossas e negras destacando os olhos verdes amendoados que eu tanto amo.
- não tinha motivo para vir aqui antes. - sua mão paira sobre a minha e entrelaça nossos dedos. - você escreve bem, não sabia que tinha esse talento.
- ah, não é um talento é só algo que eu precisei fazer pra aula de literatura. - pego a folha com a mão restante e a coloco dentro do caderno.
- eu acho que você escreve muito bem, já pensou em escrever alguma coisa que não fosse trabalho ?
- não, a única coisa que eu preciso me dedicar é na carta da faculdade. Eu já a escrevi a uns dois dias, mas vou esperar mais um tempo pra enviar, vai que surge alguma ideia nova.
- ruiva, se a sua carta for na mesma onda desse trabalho não vai existir limites que te separem de Harvard.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora