Capítulo 138

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Com uma xícara de chá nas mãos observo Andrew escrever com suas próprias palavras o que entendeu - do resumo - de Otelo. A temperatura alta do líquido esquenta com facilidade a cerâmica amarela, deixando a palma de minhas mãos um pouco mais aquecidas do que o necessário. Já faz quase quinze minutos que ele está escrevendo, os olhos verdes amendoados concentrados na tarefa e  escrever em uma perfeita caligrafia. As palavras fluem como a água de um rio, o fazendo virar a folha para usar as linhas do outro lado. As mangas da camisa dobradas até os cotovelos apoiados na mesa, e por mais que o aquecedor esteja ligado, eu não arriscaria ficar desse jeito. Algumas fios rebeldes de seu cabelo estão caídos sobre a testa, o que torna o seu rosto muito mais atraente e belo. As bochechas lisas e com um leve e quase imperceptível tom rosado nas maçãs do rosto.
Uma obra de arte em carne e osso.
- se continuar me olhando assim vamos ter que resolver isso lá em cima ruiva. - sua voz me tira, prematuramente, de meu devaneio.
- já terminou ? - encosto a cerâmica nos lábios, tomando um gole do chá para disfarçar a vergonha de ter sido pega.
- sim, obrigada pela sua ajuda. Eu,  realmente, não iria conseguir fazer isso sozinho. - com a mão esquerda, ele retira os fios perdidos da testa, os jogando para trás.
- você pode fazer qualquer coisa sozinho Andrew, é só querer. - deixo a xícara sobre a mesa, puxando o notebook em minha direção e o desligando.
- não diga isso, sabe que eu posso interpretar de um jeito totalmente malicioso depois de ver você mordendo aquela merda de caneta.
Um pequeno espaço surge entre meus lábios e meu coração começa a bater mais forte, mais rápido e com certeza, meu rosto está corado. Andrew se levanta devagar, esticando o tecido caro da camisa branca para baixo, causando o leve abrir de um dos botões, criando uma fresta que me permite visualizar um pedaço da pele de seu peito. Não foram necessárias nem dois passos para que ele estivesse em minha frente, os joelhos tocando os meus e o troco se flexionando para baixo, deixando as mãos apoiadas em minhas coxas e o rosto bem próximo do meu.
- eu ainda quero terminar o que começamos no seu closet, seria incrível fazer você ver o espetáculo que é quando goza. - sua voz está mais grave, o desejo sexual já focando visível em sua calça social apertada. - e acredite, eu nunca deixo nada pela metade.
- e seu eu disse que ... fiquei curiosa em saber o que se passava pela sua cabeça naquela noite ? - mordo meu lábio inferior internamente, observando com atenção cada movimento de sua boca.
- eu diria o contrário do que todos dizem : a curiosidade não mata o gato.

Vesti uma camisa de mangas compridas branca e lisa e um short de seda pérola para dormir, ao olhar no espelho penso em como a idéia de Andrew poderia ser, se caso tivéssemos uma chance. Com a escova de cabelo nas mãos, penteio os fios com lentidão, notando que a cada dia eles parecem maiores.
E se eu cortar um pouco ?
Meus pensamentos são interrompidos pelo toque alto do celular,  me viro e deixo o closet ainda com a escova nas mãos. A largando em cima da penteadeira, ao lado do notebook fechado e indo até cama para apanhar o aparelho. O nome de Sam brilha na tela e eu abro sua mensagem.

Na quinta, eu passo na sua casa ou você na minha ?
Amorzinho 😍.

Hoje é domingo e você já está se preocupando com quinta ? 😂
M.

Claro, preciso saber se vamos manter nossa tradição viva depois do último jogo.
Amorzinho 😍.

Claro que vamos, eu passo na sua casa, não se preocupe.
M.

Okay.
Amorzinho 😍.

Vai para a escola amanhã ?
Amorzinho 😍.

Me sento na beirada da cama, usando as pernas para me empurrar para o meio do colchão.

Sim, por que ?
M.

Vou precisar de uma carona.
Amorzinho 😍.

Nem precisa pedir, passo aí no horário de sempre.
M.

Até. ❤️
Amorzinho 😍.

❤️.
M.

Largo o celular ao lado do corpo e me jogo para trás, virando o rosto para olhar o céu pela janela. As nuvens em um tom de laranja e amarelo se misturam a uma cor rosa no final, deixando o cenário perfeito para uma réplica em uma tela. Poucas estrelas já começam a surgir em meio a parte azul, os pontos brilhantes me lembrando os olhos de Andrew.
O brilho maravilhoso que aquelas belas esferas verdes tem.
Molho os lábios com a ponta da língua, sentindo um arrepio violento subir pela minha espinha quando um vento balança minhas cortinas, o tecido rosa balançando suavemente para os lados. Agarro um travesseiro, enfiando o rosto em meio a maciez e absorvendo cada partícula do cheiro de Andrew que insiste em não deixar minha roupa de cama.
Giro o corpo, me jogando para a beirada e me levanto para fechar a janela antes que fique com frio novamente. Enfio os braços para fora, esticando as mãos para tocar as argolas e puxar as partes dobráveis para que elas se encontrem, instantâneamente meus olhos se dirigem a casa dos Grayson's. Os carros de luxo sumiram e não há nenhum movimento estranho do lado de fora, a janela do quarto de Andrew está fechada e com as cortinas seguem o mesmo padrão.
O que ele deve estar fazendo ?
Fecho a janela logo, trancando a mesma e fechando as cortinas.
- Mia ! - escuto a voz alta do meu avô.
- já estou indo. - digo alto, não tão quanto ele, mas o suficiente para que ele ouça.
Calço os chinelos e corro para fora do quarto, acelerando os passos pelo corredor e descendo a escada com pressa. Vovô, Josh e Natan estão sentados nos sofás da sala, ambos conversando animadamente sobre algo que eu, provavelmente, não conheça.
Droga, eu não deveria ter me vestido assim !
A ideia de estar usando um short de seda e ainda por cima, estar sem sutiã, enquanto temos visitas é constrangedora. Cruzo os braços, na tentativa de esconder meus mamilos enrijecidos por conta do frio e sorrio falsamente quando meu avô me olhar.
- podia ter me avisado que tínhamos visitas. - digo rápido, sentindo as bochechas esquentarem mais rápido do que um ferro de passar.
Rapidamente, os olhos dos gêmeos pairam sobre mim. Natan sorri fraco e logo desvia o olhar de minhas pernas ao pareceber meu constrangimento, já Josh arqueia a sobrancelha esquerda e sorri de lado, analisando não só minhas pernas nuas mas também meu colo, um pouco exposto por conta do pequeno decote.
- devia, achei que você não havia se preparado para dormir ainda. - ele faz um barulho com a garganta, fazendo com que Josh para me olhar descaradamente.
- Oi rapazes. - caminho depressa, indo logo me sentar ao lado de meu avô no sofá de dois lugares.
- Oi Mia, desculpa aparecer assim. - Natan sorri graciosamente, expondo as covinhas em suas bochechas.
- não se preocupe. Sobre o que estavam conversando ?
- os rapazes estavam me contando sobre uma instituição em Orlando que recolhe carros antigos, doando o valor que conseguirem pelo veículo inteiro ou pelas peças para orfanatos. - meu avô coloca uma das mãos em meu joelho direito. - pensei que dar o Fufu para essa instituição seria uma boa idéia, mas queria falar com você antes, já que ele ainda é seu.
- ah, claro. É uma ótima idéia. - ajeito os óculos. - mas eles realmente doam o dinheiro que conseguem ?
- é totalmente seguro Mia, alguns amigos meus costumam levar peças quase todos os anos lá e o responsável pelo lugar sempre mostra fotos das doações, sejam elas em brinquedos, roupas ou materiais escolares. - a resposta, por incrível que pareça, vem de Josh e ele realmente parece se importar com isso.
- se for assim, tudo bem. Mas quem ficaria responsável por levar o Fufu até lá ?
- temos o contato de um dos criadores da instalação, eles mesmos podem vir buscar o carro e você, pode aproveitar para tirar todas e quaisquer dúvidas que tenha sobre o destino dele. - Natan sorri sem mostrar os dentes ao me responder. - eles podem vir essa semana ainda, se você quiser.
- se o objetivo é ajudar os orfanatos eles podem vir buscar quando quiserem. - digo, acariciando os dedos do meu avô.
A aliança de ouro ainda está ali, em seu dedo anelar esquerdo. O metal fino e elegante nunca esteve fora de seu lugar desde que eu me entendo por gente e, saber que meu avô ainda a usa depois de anos do falecimento da vovó é inspirador.
- tudo bem então, vou avisar o Ethan que temos uma doação. - ambos os irmãos se levantam, me deixando um pouco espantada pela sincronia.
- eu levo vocês até a porta. - meu avô se apressa em se levantar, deixando meu joelho sem o calor da palma de sua mão.
- boa noite meninos.
- boa noite Mia.

Desde que ganhei o carro novo o pensamento do que eu faria com o Fufu nunca deixou minhas noites de sono serem tranquilas, talvez o fato de eu ter o usado por pouco tempo e ter me apegado ele possam ter influenciado bastante nessa questão. Doar o meu primeiro carro para ajudar crianças em orfanatos é a melhor ideia que já apareceu, pensar em como elas vão ficar felizes em receber roupas, brinquedos ou materiais novos é de se aquecer o coração. Puxo minhas pernas para cima, abraçando as mesmas ao ouvir a porta se fechando.
Esse é o destino certo do Fufu, e eu sei que me desfazer dele vai ser menos doloroso do que parece.
Eu espero. 

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora