Capítulo 101

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Acordo sem ouvir o despertador tocar, ainda com os olhos fechados estico meus braços e pernas e relaxo ao ouvir os barulhos dos ossos se encostando. Abro os olhos e o ar entra rápido em meus pulmões, com uma das mãos retiro o edredom de cima das pernas e as coloco para fora da cama. Apanho o celular e ligo a tela.
Seis e meia !
Trinta minutos perdidos, mas tudo bem, deixo o celular sobre o travesseiro e tiro os fios grudados do rosto. Me levanto sem calçar os chinelos e dou alguns passos para chegar até a janela de madeira, a abrindo e já sentindo os raios de sol, ainda fracos tocam minha pele. Empurro as partes dobráveis para fora e deixo com que o vento balance meus cabelos, me viro para ir até o banheiro, passando a mão pela penteadeira e pela cômoda.
Os únicos móveis que eu trouxe da minha antiga casa.
Se é que aquela casa já foi um lar !
Não recebi mais cartas dos meus pais nos últimos dois meses, sei que talvez eles tenham desistido de falar comigo por conta dos anos que se passaram sem uma resposta da minha parte ou estejam apenas sem tempo entre o trabalho e as viagens.
Assim como eles não tiveram tempo para mim...
Eu não tenho raiva deles, muito menos rancor por terem me deixado para curtir a vida em outros cantos do mundo, por que meu avô sempre me deu todo o amor e carinho que eu precisava. Mas eu me sentia incompleta quando chegava o dia das mães ou dos pais, todos os presentes que eu fazia na escola eram destinados ao meu avô e ele adorou cada um deles.
Entro no banheiro e arranco a camisola do corpo, jogando dentro do cesto debaixo da pia e me encarnado no espelho do banheiro. Os fios bagunçados, os olhos aparentemente cansados, os lábios secos e pálidos, prendo os cabelos no topo da cabeça com uma presilha, pego a toalha e a deixo em cima da tampa da privada.
Entro no box e ligo o chuveiro na água quente, deixo a água molhar meu corpo, me lavando com o sabonete líquido com o auxílio da esponja. O perfume floral chega às minhas narinas e sorrio ao me lembrar de Sam me importunando para comprar esse sabonete absurdamente caro, alegando que o cheiro era perfeito para mim.
Deixo o banho assim que termino de me enxaguar e me seco com a toalha felpuda, desprezando a sensação gostosa em minha pele e logo a enrolando no corpo. Entrando no closet acendo a luz e abro uma das gavetas, pegando uma calcinha branca e na gaveta de baixo apanho um sutiã da mesma cor. Me viro para pendurar a toalha no mancebo ao lado do espelho e visto a lingerie, enquanto fecho o sutiã viro os olhos para já escolher uma roupa. Ajeito as alças e na arara apanho uma camisa jeans escura azul e uma regata branca sem estampa, pego em uma das prateleiras uma calça jeans escura e o tênis branco. Visto tudo e lembro de pegar uma meia cinza em uma das gavetas, deixo o closet com os sapatos nas mão e me sento na cama, enfiando os pés nas meias e calçando os tênis rápido. Corro até o banheiro e abro a nécessaire, tirando uma caneta delineadora fazendo um traço fino rente aos cílios e usando o rímel em seguida, borrifo meu perfume favorito e passo um gloss rosa nos lábios. Deixo o banheiro e me sento na poltrona, apanhando a escova de cabelos e desfazendo meu coque, começando a pentear os fios com cuidado e mesmo assim sofrendo para desembaraçar os nós que uma noite mal dormida causou.

" "

Sentada na cadeira desconfortável da escola, questiono a ausência de Sammy enquanto resolvo os exercícios de matemática. A senhorita Tunner nunca foi de muitas palavras e seu olhar intimidador sobre a sala em completo silêncio é desnecessário, talvez seja esse o motivo da maioria dos alunos preferirem fazer trabalhos de compensação de falta ao participar de suas aulas e permanecer no mesmo ambiente que ela. Eu diria que Tunner é alguém que já foi muito ferida pela vida, os olhos negros são tão frios como o inverno e seus trinta e seis anos quase imperceptíveis pelo cuidado extremo com a aparência. Os cabelos castanhos longos e cheio de cachos largos e aparentam ter a textura sedosa, a boca envolvida em um batom sem cor alguma, o corpo envolto de um vestido justo azul escuro sem mangas e até os joelhos.
Ela é bonita, mas duvido que deixe alguém chegar perto o suficiente para saber disso.
- já terminou de me examinar senhorita Collins ou precisa de ajuda para resolver seus exercícios ? - a voz cheia de raiva me faz estremecer de susto, eu não queria ter sido pega.
- eu estou bem, obrigada. - digo alto o suficiente para que ela ouvisse.
Evito de olhar em sua direção e mantenho os olhos fixos no caderno e nos exercícios, agora, resolvidos e com suas respostas passadas a caneta.
- quando terminar, te quero fora da minha sala.
Levanto o olhar devagar e a encaro incrédula.
Essa vaca só pode estar brincando ?
- o que ? - digo encarnado seu rosto, a pele dourada quase brilhando.
- me dê os exercícios e saia da minha sala, não preciso de seus olhos focados em mim senhorita Collins, e sim no seu trabalho.
- eu já terminei. - recolho as canetas espalhadas pela mesa e as guardo em um dos lados do estojo cor de rosa.
- então por favor, já sabe o que deve fazer.
Arranco a folha do caderno e me certifico de escrever meu nome na parte de cima e retirar a rebarba antes de entregá-la a mulher amarga em minha frente. Enfio o caderno na mochila junto com o estojo e o livro de matemática e me levanto com pressa, vendo Tunner com a mão estendida para pegar meu trabalho. Ignorando sua mão, deixo a folha sobre sua mesa ganhando um olhar raivoso em troca. Jogo a mochila sobre um dos ombros e deixo aquele ser desprezível para trás.
Espero que isso não prejudique a minha nota em matemática !

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora