Santa Lucia

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A noite passa lentamente para alguns, para outros ela mais parece uma flecha atirada por um caçador voraz.
Amanhece...
O dia vem sorrindo dando seu brilho amarelado a todas as criações do supremo Ser que com suas mãos os esculpiu esplêndida mente.

Augusto logo de manhã vai a Ouro Negro.
Antes de sua saída vai ter com Onofre pedindo lhe que separe a negrinha para levar a fazenda de sua noiva, segundo o pedido de seu pai.
- Sim senhorzinho, o patrão me falou e separei Anastácia.
É uma neguinha bem sabida e vai dar conta do recado.
Venha cá negrinha! Vê se aprende tudo que lhe ensinarem na fazenda da Senhorita noiva do patraozinho.
Anastácia balança a cabeça em um tom afirmativo, com seus pés descalços e uma trouxinha com uns trapinhos, juntamente com a esperança de quando voltar ir ser uma escrava de dentro da casa grande do Barão. Parte na carruagem com Augusto, o que ele nunca imaginaria é que estava levando a executora de sua amada.
A neguinha ia inocentemente sem saber o que o futuro lhe reservaria, pois em sua candidez estava indo para aprender o ofício de cozinheira e arrecadar algumas informações para Onofre, que via naquela negrinha a forma de obter suas tão sonhadas terras e uns poucos escravos. Ser Senhor era seu mais almejado sonho.

As palmeiras majestosas de Ouro Negro estavam mais brilhantes nessa manhã, suas folhas de tocavam quase orquestrando uma sinfonia celestial executada por seus lentos movimentos

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As palmeiras majestosas de Ouro Negro estavam mais brilhantes nessa manhã, suas folhas de tocavam quase orquestrando uma sinfonia celestial executada por seus lentos movimentos. O príncipe encantado nessa manhã em particular, vem de carruagem e trás consigo a morte...

Ao longe pode-se ver a silueta da carruagem que vem chegando. Lorena está no escritório cuidando de algumas papeladas, quando a ouve o chegar.
- É o Sinhozinho Sinhá!
- Obrigada Maria, já estou indo.
Lorena vai ao alpendre e Augusto lhe dá um enorme sorriso, seu coração enamorado pula feito burro xucro. Ele sobe as escadarias, Anastácia o segue meio acrabunhada.
Depois de um beijo e olhares faiscantes ele diz:
- Essa é Anastácia, uma escrava de fora de casa, papai anda a reclamar da nossa cozinheira e lhe pediu para que Ana a ensine os segredos do fogão.
- Por certo que sim! Sejas bem vinda Anastácia. Maria irá te levar até a cozinha e te instalar em um quarto.

Ela balança a cabeça e segue Maria. Chegando a cozinha Ana lhe sorri e a coloca no quartinho de Tereza, ela não irá mais precisar do quarto, pois já tem o seu de grades de ferro.
Augusto diz a Lorena a decisão de seu pai em vender lhe parte de Santa Lucia.
- Irei falar com seu Antônio que prepare a papelada para o acerto com seu pai.
Meu querido! Estou mais feliz pelos escravos de seu pai, irei lhes oferecer o mesmo que ofereci para os daqui, isso será minha maior vitória, eles terão a chance de serem livres finalmente!
- Eu apóio sua decisão e espero que meu pai se reerga e deixe de ser um doidivanas.
- Eu também, meu amor.

Os dias voam, e o domingo chega rapidamente. Logo pela manhã chega seu Antônio com todos os papéis redigidos, tudo está pronto para a compra da fazenda Santa Lucia.
O Barão chega, suas feições estão melhores do que se podia imaginar, pois no seu íntimo ele sabe que no futuro próximo com a morte da sua nora tudo retornará a sua posse.
Apesar de haver algo de diferente em seu filho, que não está tão palerma como dantes, a empáfia do Barão é demasiadamente grande para que veja que o menino Augusto cresceu e a outrora inocência, deu lugar a um homem dono de seu destino.

Deveras o amor tem mudado Augusto, ele se tornou mais forte e dono de si.
- Podemos então firmar o negócio a metade de minha fazenda e todos os escravos são seus, porém continuarão trabalhando para mim.
- Senhor Barão, Augusto e eu conversamos e as condições de trabalho mudarão muito para eles.
Eles serão tratados como trabalhadores meus.
Tentaremos agir de uma melhor forma para que tudo corra bem, tanto para o senhor, quanto para os escravos.
- Realmente, para quem se encontra na enrascada que né encontro tudo me deve ser lucro!
- Senhor Barão, depois de todos os termos lidos o senhor concordando e a senhorita também, podemos assinar as escrituras, diz Senhor Antônio.
- Sim, reitero que outras formas haveriam de selarmos esse acordo, um empréstimo seria bem melhor ou até mesmo o tal dote!
Augusto olha para Lorena que não muda de feições.
- Barão não há outra forma,
Se pretendes declinar, esse é o momento.
Não há Ainda assinatura nenhuma.
- Não pretendo! Digo ainda, que dei minha palavra e palavra dada é palavra deve ser cumprida. Apenas quis ter certeza que esse era mesmo o término do acerto.

E mesmo com o coração relutante assina a escritura. Lorena a pega nas mãos e sorri. O olhar do Barão no rosto de sua nora solta faíscas de ódio, quisera ele estrangula-la com suas próprias mãos.
- O que é teu tá guardado norinha dos infernos! Vou cuspir no seu túmulo. Pensam o Barão.

Tudo acertado, Lorena busca uma maneira dos escravos do Barão continuarem trabalhando sem açoites ou maus tratos. Seu Antônio e o Barão vão juntos para São Gabriel, o pagamento será entregue no banco, e mesmo sendo domingo foi feita uma excessão, o senhor gerente não nega um só pedido para a senhorita Lorena.
Augusto fica para o almoço, onde irão discutir a melhor forma de realizar a transação de escravos para trabalhadores, eles vêm que deveras não será fácil como foi em Ouro Negro.
Os escravos de Santa Lucia são imensamente rebeldes, os castigos recebidos assim os moldaram.

Anastácia está sendo bem tratada como nunca tivera sido em sua malfadada vida. Ela vê as mulheres sorrindo e os homens conversando e cantando. Todos vivem felizes em Ouro Negro.
- Como pode ser? Ninguém vai no tronco, nem as mulher vão aos quartinho de nenhum home?.
Ana a ensina com todo carinho e Lorena a trata com o mesmo amor pelo qual todos são tratados. Rita e Maria fazem dois vestidos novos para ela e Sara da lhe uma de suas chinelas. Anastácia vê um mundo completamente diferente do seu, e com toda a força de seu coração o deseja para si.
- Anastácia você está aprendendo a cozinhar, tens gostado de seu quarto?
Ela muito tímida responde baixinho.

- Sim sinhá, to gostano muito daqui, todo mundo mi trata muito bem.
- Fico contente por isso, você pode caminhar pela fazenda, ir aonde quiser, todos aqui são boas pessoas e te tratarão muitíssimo bem.
- Fico agradecida sinhá.
Lorena lhe sorri e sai para a sala de estar.

25/3/2021

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now