Castigo

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Lorena olha para Dionísio que está frente à casa, e o convida para acompanhá-la até  a cozinha que foi construída para receber a nova quantidade de pessoas que vieram de Santa Lucia.
- Minha cara amiga, aquela que segue na gaiola é a tal Tereza?
- Sim meu amigo, é a própria.
E enquanto caminham Lorena conta a ele como a comprou em um leilão por um preço exorbitante, e tudo o que fez para que ela cumprisse com as obrigações que eram, tão somente lecionar para todos os que quisessem aprender.
- Eu criei expectativas para meus trabalhadores e não consegui supri- las, queria que todos pudessem ler suas cartas de alforria quando chegar o dia em que as terão em suas mãos. Infelizmente, Tereza frustou esses sonhos, por enquanto!
- Não esmoreça, seus sonhos irão se concretizar. Você verá Senhorita Lorena.
E os dois riem.
Chegam ao local onde os trabalhadores estão, Lorena vê que todos os seus amigos de Ouro Negro estão se empenhando ao máximo para que os ex escravos do Barão se sintam em casa.

Rita e Sara, estão trabalhando na cozinha da baronesa, elas tem um tratamento diferenciado das antigas escravas, são bem tratadas por todos inclusive o senhor Barão. Ele sabe o mato em que tira lenha. Além do mais, quem quer pegar mosca usa mel e não, limão.

A fazenda de dona Perpétua, localiza-se a algumas léguas de distância. O caminho é longo e acidentado, os sacolejos da carruagem com o passar dos quilômetros se torna aborrecível.

- Titia, as estradas parece-me estarem piores do que na vinda!
- Estela minha sobrinha, é o cansaço que se apodera do corpo. Daqui a pouco chegaremos, não se apoquente.
- Tereza deve estar a sofrer deveras naquele carroção.
- Pois que sofra! Não tenho pena dessa negrinha, nem por um instante.
- Sei que ela merece todo sofrimento pelo que fez a mamãe e a papai, mas mesmo assim, sinto-me apenada.
- Deixe sua pena para quem a mereça, essa negrinha mataria você por um vestido, ou por menos que isso.
- Quando penso que a tive por amiga, custo a crer no que ela aprontou.

O tempo passa lentamente e quase no embocar da noite elas chegam a fazenda São Benedito.
A propriedade é imensa, dona Perpétua e senhora de muitos escravos e suas plantações são insignes,  muitos ajudantes e um capataz muito dedicado. Suas criações de animais são numerosas, o que faz dela uma mulher afamada por sua administração.
Porém, sua viuvez e sua veia escravocrata a deixaram enrijecida e taciturna.

- Levem-na para senzala e a tranquem em uma cela.
- Sinhá Perpétua, por favor, eu não fiz nada do que disseram, sou inocente!
Estela, me ajude?!
- Não existe mais uma amiga aqui.
Ninguém merece conhecer, nem tecer amizades com uma pessoa dissimulada feito você Tereza.
- Levem-na logo!
Se você não se calar, mandarei chicotear- te até que desmaie.

A noite chega e Augusto vem ver sua amada, ele se alegra em rever Dionísio e os três, após o jantar dirigem-se ao alpendre, um lugar tão refrescante que se tornou o principal ambiente para se entremear uma conversa agradável.

- Fico imensamente feliz em saber da vinda de Hugo e da senhora Sandra, nosso casamento está às portas e creio que todos estarão presentes.
- Eu sou quem fica mais feliz! Diz Lorena, que segura nas mãos de Augusto.
- Aproveitando que os dois pombinhos estão juntos, gostaria de dizer algo que pensei durante o banho.
- Pois Diga-nos.
- E se eu lecionasse para todos aqui na fazenda?! Afinal, sou professor formado, apesar de nunca ter exercido a profissão.
- É uma ideia maravilhosa! Juntariá-mos a fome e a vontade de comer. Diz Lorena.
- Seria mesmo explêndido, é o desejo de Lorena desde que aqui chegou.
E doravante todos teriam o acesso as letras.
- Como vocês bem o sabe, tenho passado por momentos difíceis, sem motivação para existir, me seria uma honra poder participar dessa empreitada que minha amiga tomou para si. Seria um bálsamo para minha existência, além de uma jovem cavaleira que me despertou um grande interesse.
- Vejo que a senhorita Iara está conquistando corações.
Lorena sorri e diz:
- Está feito ! Você meu amigo é o mais novo professor interino de Ouro Negro.
- E o serei com muita honra e  e esmero.

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now