A proposta

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Capitulo 4

Após a saída do barão, Constâncio deixa a casa grande e vai fazer o que Lorena lhe havia pedido.
Juca está no cafezal cuidando dos escravos; como sempre xingando e quando em vez passa com seu cavalo perto de algum escravo e o açoita.

Os escravos o temem pela violência que sempre os submete, Constâncio não concorda com a maldade de Juca, porém, ele os mantém submissos, e com sua severidade cuida sozinho de todos os escravos.

Constâncio diz a Juca que domingo ele estará de folga, ele fica meio desconfiado, mas, é uma boa ideia passar o dia todo no bordel da vila.

A tarde cai e os escravos vão para senzala, Rita e Sara levam as roupas novas e todos se banham, jantam e vão descansar do dia de labuta. A senzala após a limpeza está bem mais habitável que antes.

Na casa grande, Ana e Maria servem o jantar de Lorena, que come em silêncio, ela está pensativa e se prepara para o dia de domingo que será um dia decisivo em Ouro Negro.
Lorena depois do jantar encaminha-se à biblioteca e pega um livro antigo de poesia portuguesa, ainda em silêncio e muito pensativa sobe as escadas, entra em seu quarto, tenta ler algumas páginas do livro, todavia seus pensamentos estão tão conturbados que deixa a leitura nas primeiras páginas, coloca a camisola, olha as cortinas de cetim que estão serradas cobrindo as grandes janelas de vidro, puxa-as e abre as janelas.
Olha as estrelas que estão mais brilhantes do que de costume, sai para um pequeno alpendre que ha do lado de fora de seu quarto no segundo andar da casa. Abre os braços como se desejasse voar para aquele céu que parece se iluminar somente para acalmar lhe o coração. Lágrimas rolam de seus olhos, apesar de aparentar ser forte como uma rocha, temia...

Volta a entrar em seu quarto, fecha as janelas mantendo as cortinas abertas.

Senta-se em sua cama e outra vez chora.

O cheiro de café recém coado exala por toda casa grande, Lorena se vira na cama, cobre a cabeça e torna a se virar...

Levanta-se olha a claridade que vem de sua janela.
Espreguiça-se olhando o belo dia de sol que faz do lado de fora.

Na cozinha o café está coado, o leite fervido, Pitu e Rosauro estão sentados em um banquinho na cozinha tomando café quando de repente surge Lorena,

Rosauro se levanta rapidamente, Pitu abre um sorriso com seus dentes branquinhos.

- Sinhá quer bolinho de polvilho pro café da manhã?

Lorena caminha até a trempe do fogão pega um bolinho recém frito, ainda muito quente, morde o bolinho e diz:

- Muito bom, Ana, realmente delicioso! Da pra fazer para todos?

- Sim sinhá! Faço agorinha.

Rosauro vai saindo de mansinho pela porta dos fundos. Lorena o vê e logo diz a ele.

- Rosauro, fique! Quando Ana terminar o café da manhã, leve a senzala, por favor.

- Sim Sinhá!

O dia amanhecera belo, mas que de costume, o sol baila escondendo-se por entre as nuvens, o vento esta assoprando uma brisa fresca. É um dia de alegria para todos os escravos de Ouro Negro.

Após o café da manhã Lorena sai da casa grande, desce as escadas e ruma-se para a senzala. Constâncio a espera segurando um molho de chaves em suas mãos. Os escravos já haviam terminado de tomar o café, todos eles estão asentados em volta da grande mesa para as refeições, mesa esta que Lorena havia mandado colocar bem no meio da senzala.

Constâncio abre a porta de grades, todos estão dentro da senzala, inclusive, Pitu e Rosauro que trouxeram o café da manhã.

Lorena entra, olha para todos que estão usando roupas novas costuradas pelas mulheres que capricharam na costura. O mau cheiro da senzala com a limpeza havia desaparecido por completo.

Lorena de pé frente à mesa diz:

- Bons dias a todos vocês! Eles cabisbaixos respondem ao cumprimento.

- Como todos já sabem, sou a nova proprietária de Ouro Negro, quero em primeiro lugar agradecer a todos pelo trabalho que veem fazendo. Quero também lhes pedir desculpas pelo modo que todos foram tratados até o dia de hoje.

Constâncio se mantém de pé ao lado de Lorena ouvindo calado o que ela diz, ele sempre prudente, está armado com uma garrucha e uma espingarda; teme que os negros se revoltem e aproveitando a ausência de Juca queiram fugir.

- De hoje em diante irei mudar a maneira que Ouro Negro vem sendo administrada, vou precisar da compreensão de todos, sei que todos foram tratados de uma maneira desumana, porém isto acaba hoje...

E continua discorrendo seu discurso, preparando as mentes de todos para a proposta que ela tem lhes fazer.

Todos os escravos olham uns para os outros, parecem não entender nada daquilo que Lorena tão eloquentemente diz.

- Vou mudar tudo, tudo mesmo, começando por vocês que estão trabalhando aqui há muito tempo. Rosauro, Sebastião, miro, José e outros a menos tempo. Quero lhes propor que, de hoje em diante não haja mais açoites nem grilhões, nem grades. Vocês terão liberdade para andar em minha fazenda, comer dos frutos aqui produzidos...

Enquanto ela fala, um alvoroço formou-se, todos falam ao mesmo tempo alguns deles se levantam, Constâncio teme pelo pior e grita:

- Silêncio! Vocês querem ouvir o que a senhorita tem pra falar, ou não?

Os ânimos se aquietam e Sebastião que parece ser o que falava mais alto e com mais desenvoltura levanta-se e diz:

- Sinhá Lorena, vai deixa que andemos livre, a sinhá vai libertar nós todos? Não podemos acreditar!

- Bom Sebastião, eu preciso de vocês.

Quando ela diz isto se forma um novo falatório, Sebastião olha para os outros que já estão se exaltando também e diz:

- Não estava dizendo, é liberdade nada! Não falei gente?!

Lorena olha com um olhar seguro, leva a cabeça e diz com voz firme:

- Se vocês não me deixarem falar, não tenho como terminar o que...

Antes que ela acabace de falar uns três homens se levantam e Constâncio pega a cartucheira e a impôe nas mãos, apontando para eles. Lorena segura o cano da arma e o abaixa... Constâncio mantém-se em alerta, até que Lorena grita com voz imponente:

- Façam silêncio!

E bate com as mãos com muita força sobre a grande mesa de madeira onde todos estão assentados de redor.

- O que tenho para dizer é muito importante, principalmente para vocês, todos se sentem, agora!

E um a um foram se sentando e o silêncio se fez...

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now