Amiga Liberdade

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Logo após receber o seu belo presente, Lorena veste-se elegantemente e junto com seu primo Hugo e Sandra partem para a vila de São Gabriel.
Ao chegarem vão imediatamente para a casa, Sandra que já sabia ser a casa mais bonita da vila, surpreende-se com a beleza da mobilia...
- A casa é magnífica.
Não imagino o motivo de você não viver aqui.
- Eu gosto da fazenda, não me vejo morando aqui na vila, creio que me sentiria só, e preza.
Em Ouro Negro tenho família e liberdade.
O que realmente quero é que vocês sejam felizes aqui.
- Seremos minha amada priminha, seremos!
- Vou deixá-los a fazer planos e vou na casa de seu Antônio, tenho alguns negócios com ele.
- Vá, ficaremos bem, se tivermos um tempinho iremos namorar.
- Hugo, não me deixe constrangida perante Lorena.
- Não se constranja, Hugo é um menino, carente que irá me roubar Olga.
- Não roubarei o que nunca pertenceu a ti.

Eles sorriem como crianças brincando.
Lorena vai ao encontro de seu Antônio e encontra o sargento pelo caminho.

- Bons dias Senhorita!
- Bons dias sargento.
- Como tens passado, tivestes notícias de Tereza?
- Senhor sargento, ontem mesmo estive com a dona dela, não perguntei, pois temi ouvir a resposta.
Espero que ela esteja bem, mas tento não relembrar o passado, pois o futuro é o que realmente importa.
- Tens toda razão, o futuro é o que importa.
O sargento a cumprimenta dando um toque em seu quepe.
Lorena segue seu caminho, deixando o sargento pensativo.
- Tenho que me empenhar nessa investigação, já encontrei o salafrário Boticário que vendeu o veneno para o Onofre, agora terei que pensar em algo para impedir que o veneno chegue ao copo da Senhorita antes que ela beba e perda sua vida.
Vai ser um pandemônio,
Prender o Barão, minha nossa!
Se fosse um borrabotas qualquer, seria bem melhor.
Pensa sargento, pensa!
E ele volta pra delegacia pensando em formular uma boa estratégia para pegar o Barão e Onofre.

- Bons dias senhor Antônio!
- Senhorita Lorena, como tens passado?
- Muito bem, amanhã irei para a Capital resolver uns assuntos, antes gostaria de saber.
O senhor conseguiu resolver o pedido que lhe fiz?
- Sim, o primeiro pedido está aqui.
- Está tudo terminado, pronto para a entrega?
- Está pronto.
- Agradeço.
E a senhora Hélia, como está?
- Deveras muito bem!
- Meu primo Hugo, voltou de sua lua de mel.
Ele e Sandra sua esposa, irão morar em minha casa aqui na vila.
Estou a lhe comunicar para que o senhor não se assuste ao ver a casa habitada.
- Certamente estranharia, desejo toda a felicidade para eles.
- Senhorita, sua aquisição da fazenda Santa Lucia e de seus escravos, causaram-me preocupações.
Fiquei cá imaginando se o senhor Barão não ficou com mágoas da Senhorita não lhe emprestar o dinheiro.
O tenho visto pelos cantos, até mesmo envergonhado pelo falatório que a quase bancarrotas que o aconteceu.
O Barão não é homem que se deixa intimidar, a senhorita, apesar de te-lo tirado da enrascada fez com que ele perdesse metade de seu prestígio.
- Não creio que meu futuro sogro esteja a maquinar algo contra mim, afinal de contas serei sua nora e toda minha fortuna será de seu filho e de seus netos.

Lorena medida por alguns segundos...

- Senhor Antônio, espero que suas suspeitas sejam apenas suspeitas.
- Também espero, mas se cuide.
Não quero que nada aconteça com a senhorita.
- A única coisa que me acontecerá, vai ser me casar sem o vestido de noiva, pois falta somente um mês para meu casamento e ainda não o tenho!
- Pois então vá rápido para a Capital e resolva esse empasse que costuma tirar o sono de muitas noivas.
- Irei, meu sono não é tirado por um vestido, com certeza, sentiria-me bem melhor me casando de calças e botas.
Seu Antônio ri das palavras de Lorena, porem uma pontinha de preocupação paira por seus pensamentos.

A tarde no bordel...
- Senhor Barão, boas tardes!
- Boas tardes sargento.
O sargento pede uma bebida para a garçonete e assentar-se próximo ao Barão.
- Estais quieto Senhor Barão, algo a lhe preocupar?
- Ora, sargento.
A única coisa a me preocupar é que o sargento da vila ao invés de estar na delegacia ou em uma ronda pela vila, está no meio da tarde no bordel bebendo.
- Vejo que o Barão está deveras irritado, só lhe fiz uma simples pergunta e vens com várias pedras na mão.
- Cuide de sua vida, deixe a minha que cuido eu!
- Está bem, boas tardes!
O sargento vê que não se pode brincar com um homem soberbo feito o Barão.

Lorena , Hugo e Sandra voltam para Ouro Negro.

Quando escurece, Hugo leva Sandra para ficar na casa de seu pai.
Ana arruma as malas de Lorena.
Dionísio chega e os dois vão para sala de jantar.
- Queres que leve carta sua para a família?
Sim, irei escreve-la logo após o jantar.
Augusto virá hoje?
- Temo que não, combinamos de nós vermos amanhã na estação.

Eles jantam e Dionísio sobe para escrever a carta para sua família na capital.

Lorena sai ao alpendre.
A noite está linda!
A lua plantada, o vento suave que paira no ar, faz com que as folhas das palmeiras cintilem.
O clima detém um frescor agradabilíssimo.

Ela para frente as escadarias, fecha os olhos para receber o som prazeroso do cricrilar do grilo.
O esfregar das folhas soam como uma canção celestial.

- Senhorita, atrapalho?
- De modo algum, Jordão.
Entre e sente-se, vamos conversar um pouco.
A noite está belíssima, é um pecado nos recolher ao sono.
- Está muito linda mesmo, a lua tá enorme.
- E você, como está?
As coisas vão bem entre Rita e você?
- Vão sim, Rita é uma grande mulher.
- Deveras, realmente ela é uma extraordinária mulher.
Jordão, você sabe que lhe tenho um carinho enorme, o considero como um irmão para mim.
Espere-me, já volto!
Lorena entra na casa e poucos minutos depois ela volta com um papel em suas mãos.

- Este presente seria dado a você, logo após meu casamento, porém você é meu amigo mais fiel, não há ninguém que mereça mais receber o que está escrito nele.

Ela estende a mão e entrega lhe o papel timbrado.

-Consegues lê-lo?

Ele está trêmulo, suas mãos não conseguem segurar o papel, ela sorri e lhe diz:

- Deixe -me ler para você.

Ele ciente do que aquele papel diria, com sua voz quase não saindo da garganta pede para que ela leia.

- Perante a quem interessar
Eu Lorena...
Alforria a Jordão...
A partir dessa data...
Ele, somente ele se faz dono e Senhor de seus atos.
Tendo liberdade plena para ir e vir, comprar e vender.
Tomar todas as decisões referentes a sua própria vida.
Eu confirmo e assino:

Lorena...

Ele olha no rosto de Lorena e chora feito uma criança.
Agradece sua Sinhá por dar a ele o que sempre foi-lhe roubado.
- Deus a abençoe Senhorita!
Você me fez o homem mais feliz do mundo.
- Jordão, você é meu amigo mais fiel.
Não dei-lhe nada além do que sempre deveria ser seu.
Você conquistou sua liberdade, espero que agora que és livre, ainda fiques aqui em Ouro Negro.
Aqui é e sempre será sua casa meu amigo.
- Eu não tenho outro endereço onde eu quero estar.
- Muito em breve todos terão suas cartas de alforria, porém a sua era-me a que mais desejava entregar.
Você não nasceu para ser escravo, ninguém nasceu.
É uma condição que deve ser estinguida da face da terra.
Sejas feliz!
Posso lhe dar um abraço meu amigo?
- pode sim, eu Agradeço sua bondade pra comigo.
Lorena o abraça com todo o carinho que sente por esse explêndido homem.

Ele desce as escadas com seu coração aos pulos de alegria.

Lorena sobe para seu quarto que está com as cortinas fechadas.
Ela abre,
sai para o alpendre de seu quarto e sente-se em paz por conceder ao seu amigo a tão sonhada liberdade.

- Bendito seja o dia em que a senhorita Lorena me compro, bendita seja essa mulher que tanto amo.

Com seus olhos merejados segue rumo ao seu quarto,
Sentindo-se o homem mais feliz do mundo.

Maria Boaventura.

A BELA DE OURO NEGRO Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora