Uma canção de lamento

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Dizem os sábios:
- Não há dor que perdure para sempre.
Não há alegria que não tenha um momento de descanso.
E logo após uma grande
tempestade, sempre vem a calmaria...

Lorena de braços dados ao seu esposo segue o cortejo com seu coração quebrantado.

Os passos lentos da multidão silenciosa, não condizem com os pensamentos que há em cada cabeça.
- Estou aqui pela família.
- A Baronesa deve estar feliz, esse Barão era um monstro!
- Pobre mamãe.
- Porque fizestes isso comigo, papai?
- Esse Barão, sua vida desregrada, sempre na luxúria.
É isso que acontece com gente assim...

Não havia um pensamento favorável que pudesse aliviar a culpa da alma do senhor Barão.

Após o enterro, amigos mais íntimos vêm para casa do falecido.
Palavras de solidariedade e consolo, alimentadas com um café com biscoito, fazem a alma dos enlutados respirarem, paz.

- Venha, sente-se aqui minha nora.
Vamos conversar um pouco.
- Sim, senhora.
- Não deixe que o coração mau e ambicioso de meu falecido marido intervenha na felicidade sua e de meu filho.
Augusto é um homem exemplar, não permitas que os atos do pai tragam infelicidade em seu futuro.

Lorena coloca sua mão sobre as mãos de sua sogra, sorri e diz:
- Eu amo seu filho, não há nada que alguém possa fazer que mude esse estado.
Eu o admiro grandemente.
Não se apoquente, ele é minha vida.
- Fico feliz com suas palavras
minha filha...

As duas se abraçam firmando um pacto de amizade entre duas mulheres que têm em seus corações um amor genuíno por um homem de alma amorosa e bondosa.
Logo após conversas e despedidas, Augusto e sua amada vão para Ouro Negro.

Todos na fazenda estão tristes com o ocorrido, até mesmo o vento que balança as folhas verdes das majestosas palmeiras, se recolhe enlutado não dando o ar de sua graças nesse dia de profunda tristeza.

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Canção de lamento

Os lábios de seu povo já não sorriem como outrora
A voz emudeceu nas gargantas daqueles que ti amam.
As lágrimas se derramam
Em cântaros dos olhos pesarosos dos filhos de sua negra mãe.
Seu nome será lembrado a cada batida dos corações enlutados.
O vazio de sua ausência somente é preenchido com as recordações de sua presença.
Sem Nome...
Cem amigos, cem irmãos e cem amores!
A quantidade se torna
Sem dimensões perto do seu insigne coração.
As mansões celestiais se alegram com sua chegada, nós choramos com sua partida.
Sem Nome...

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Após o jantar Augusto e Lorena vai para o alpendre.
A lua está cheia, sua beleza resplandece triste...
Ele abraça sua amada que se perdeu em seus pensamentos olhando a lua.

- Posso dizer que a amo?
- Deves me dizer todos os momentos, para que eu não me esqueça nem por um segundo.
- Sei que nada está sendo como planejamos, meu coração está quebrado, imagino que deveras o seu está da mesma forma.
Mas eu a amo!
Tudo o que aconteceu não mudou em nada esse amor.
- Nada fará com que meu amor mude, eu o amo como sempre amei.

Augusto a beija nós lábios ardentemente e sussurra em seu ouvido:
Eu a amo, a quero, a desejo como o sol deseja a lua.

Ela beija as mãos de Augusto e também sussurra em seu ouvido:
- Eu o amo, o quero e o desejo como a lua deseja tocar seu amado sol...

Ele a pega no colo, ela sorri...
Augusto caminha para as escadas levando sua esposa nós braços.
Ela olha os degraus e diz para seu marido:
- tem certeza que não quer que eu suba?!
- Jamais!
A levarei nos braços, como se faz um marido apaixonado.

Os dois sorriem
E Augusto a leva nos braços até a porta do quarto.
Lorena abre o trinco e eles entram e fecham a porta.

O quarto está perfumado, as flores foram trocadas e pétalas de rosas brancas estão sobre a colcha da cama.

As cortinas de cetim vermelhas estão abertas, a claridade do luar adentra o recinto, fazendo com que o ambiente se torne romântico
E extremamente belo.

O casal se beija...
As mãos suadas e trêmulas de Augusto desabotoam os botões de pérolas da blusa de sua amada, que cai ao chão mostrando o colo de seus seios e sua pele branca, sedosa.
Lorena tira o prendedor de seus cabelos loiros, que caem sobre os ombros intensificando mais ainda sua beleza.

Ela desabotoa os botões da camisa de Augusto...

Ele beija sua boca, seu pescoço, seu ombro.
O corações se aceleram...
Com um toque sútil nas alças da combinação de seda, ela desce flutuando até ao chão.

Dois corpos belos e nus.
Dois corações pulsando acelerados e apaixonados.
O arrepio na pele e o amor no ar.

Sob a luz do luar que entra pela janela aberta, eles se amam...
A noite foi deveras pequena para um amor tão grande.
A madrugada chega e o cansaço faz com que o casal apaixonado adormeçam nus um nos braços do outro.
Uma só carne, um só coração e um só amor.

O galo canta...

Augusto abre os olhos e vê em seus braços a deusa mais linda, nua e adormecida.
Ele a beija e ela desperta com um imenso sorriso nos lábios.
- Bom dia meu amor!
Ela puxa o cobertor sobre seus seios e cora.

- Bom dia meu amor!

Ele puxa o cobertor e acaricia seus seios e diz em um tom de adoração.
- Você é a mulher mais linda que existe na face da terra.
E eu sou o homem mais sortudo do mundo inteiro!

Ela sorri.

- Você é o homem mais gentil e cavalheiro do mundo!

Os olhares apaixonados se encontram e mais uma vez se entregam ao amor.

Após se vestirem, Vão até a janela e olham para a imensidão de Ouro Negro.
Que agora junto com a metade de Santa Lucia se tornou uma imensidão sem fim.

- São tantas terras, tenho absoluta certeza que jamais conseguiremos cultiva-las!
Se você concordar com uma idéia que tive, acho que seríamos bem mais felizes...
Gostaria de prestar essa homenagem ao meu amigo Jordão.

- Tudo o que você quiser, tudo que ti fizer feliz eu assino em baixo!
Diz Augusto.
Eles sorriem e descem para tomar o café da manhã.

Na cozinha, as mulheres ainda tristes, porém curiosas!

Olham para a Sinhá menina com olhos zombeteiros.
Lorena olha as caras curiosas e pergunta:
- O que está havendo com vocês?!
Elas disfarçam e voltam para os afazeres.
- E a Rita onde está?!
- No quartinho Sinhá.
- Onde está Pitu?
Queremos falar com todos daqui da fazenda, pede para O Pitu reunir todos para nós Sara.
- Sim Senhorita!

Augusto sorri, seus olhos não saem de seus amada, ela continua como sempre foi, mandona.
- De agora em diante, vamos chamar essa linda mulher de senhora Lorena.
Agora ela é uma mulher casada.
- O Senhor Augusto tem razão!
Agora sou senhora Augusto Munhoz.

Todos sorriem.
Augusto sai para os lados do curral ele vai celar dois cavalos para após a conversa que terão com todos os trabalhadores, irem ao túmulo de Jordão levar flores e logo após cavalgarem pela fazenda.

- Conta prá nois como foi sua primeira noiti minina.
- Até você Ana?!
- Conta!
- Está bem, Augusto é o homem mais gentil do mundo, eu sou a mulher mais feliz do mundo.
Nós nos amamos e graças a uns ensinamentos de Fabíola,
Posso dizer que...
Enfim, eu amo esse homem!
Todas sorriem com as palavras evasivas de Lorena.

Maria Boaventura

A BELA DE OURO NEGRO Onde histórias criam vida. Descubra agora