O ferreiro.

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Na segunda de manhã...

Pitu adentra a casa grande e informa a Lorena que o sargento acaba de chegar.
- Bons dias Senhorita, vejo que já estás bem.
- Bons dias senhor sargento, deveras estou bem. Venha e se achegue, vamos tomar um café.
- Sim Senhorita. Venho trazer um parecer do Senhor Juiz sobre o caso seu e o de Tereza.
Ele retira do alforge alguns papéis e os entrega a Lorena.
- Deixe-me ver...
... Como pela lei regida em nossa comarca a senhorita agindo em legítima defesa, fica isenta de quaisquer culpa... A escrava Tereza sendo da posse da Senhorita Lorena... Como por motivos anteriores conhecidos ( não havendo morte) Volta a sua dona original que agirá segundo lhe aprouver. Deferido da lei(143) E o negro denominado por Jorge, será devolvido ao seu dono que agirá segundo lhe aprouver.
Tenho dito.
Armindo da Cruz e Souza
Juíz da comarca.

- Ora, ora! Então dona Tereza volta para Ouro Negro. Diz Lorena.
- Sim! Por minha vontade ela iria para forca sem pestanejar, o que ela fez pra Senhorita, com certeza merece a forca!
- Temo que ela também fosse ter a mesma preferência, seus dias de professorinha acabaram para sempre. Muito bem!
O sargento podes me fazer um imenso favor?
- Diga-me que o farei com prazer.
- Pode me conseguir um ferreiro e levá-lo a delegacia antes que eu vá buscar a Tereza?
- Tão logo chegue a vila eu providenciarei um para a senhorita.
- Fico grata, Tereza deveras não poderá ter a mesma vida que tinha aqui.
Temo que até mesmo as pessoas pacatas que vivem em minha fazenda não verão com bons olhos a volta dela, na verdade, sinto pena de Tereza, mas ela escolheu seu destino.
Passar bem sargento!
- Quando ela se mancomunou com aqueles facínoras ela cavou sua própria cova, o que lhe resta é enterrar-se. Passar bem Senhorita!
O sargento vai embora e Lorena prepara a todos para volta de Tereza.
Ela chama Dário e lhe encumbe  de levar uma carta até certa fazenda.
Logo após sua saída ela reúne as mulheres para as novas notícias.

- Chamei as aqui na cozinha para dar lhes uma notícia e pedir lhes um grande favor,
Tereza irá voltar para Ouro Negro.
Na mesma hora as mulheres se destamparam em maldizeres contra ela.
- Sinhazinha, aquela cobra vai vortá?! 
- Aquela fia do demonho tento mata a sinhazinha!
- Num trás ela pra cá minina!
Lorena fica em silêncio e logo após todas falarem ela com muita calma diz:
- Eu deveras sei o que Tereza fez, mas preciso tira la da delegacia, foram ordens do Senhor Juiz. Não se apoquente, ela vai ficar pouco tempo aqui eu já sei o novo destino dela, tenham paciência.
Eu peço a todas que sejam boas com ela, aqui será o último tempo de paz que ela viverá, então vamos ser boas.
Como aquelas mulheres não podem negar nada para sua Sinhá menina, vão receber muito bem a Tereza.

Mais uma noite passa rápido e o dia amanhece...

O senhor Barão já liquidou suas dúvidas e faz planos para sua fazenda, que se encontra bem menor.

Lorena chega logo pela manhã acompanhada de Jordão. Augusto a recebe com um beijo e logo que ela cumprimenta a família Munhoz, ela segue para a senzala. Onofre está na porta com as chaves nas mãos, ele está desconsertado com o rumo que a venda da fazenda e dos escravos tomarão,  seu destino está incerto, porém ele está crente que a morte iminente da noiva do senhorzinho irá abrir lhe novos horizontes.

As portas se abrem!
A queima da outra senzala não diminuiu em nada o mau cheiro que exala dali.
Mulheres, crianças e homens abarrotados em um galpão pequeno. Uns com ferros nós pescoços, outros nas mãos.
Uma escrava com seus seios magros a murchos amamentando um bebezinho esquelético e sem forças nem para expressar seu choro.
Lorena olha e lágrimas rolam em seu rosto.
Pela primeira vez ela sentiu raiva e mágoas de Augusto.
Ele nota a revolta que sua amada mostra em suas expressões e lhe diz:
- Perdoe-me Lorena, eu sei que poderia ter lutado por ele, fui um mísero fraco!
Perdoe-me.
Ela enxuga as faces e lhe diz:
- Meu amor, sei que é deveras difícil confrontar gerações de mentes cauterizadas. Agradeço-lhe por reconhecer seu erro e arrepender se.
- Gostaria de chamar a atenção de todos vocês, meu nome é Lorena e sou a dona da fazenda Ouro Negro. Sinto muito pela maneira que até hoje foram tratados...
Eles não compreendem o que está acontecendo, apenas olham para àquela jovem que tem uma voz mansa como nunca ouviram.
- ...Eu os comprei, e quero lhes fazer uma proposta, a mesma que fiz para os escravos de minha fazenda...

O Senhor Barão sendo um homem sagaz havia vendido os negros mais revoltosos, após despedir alguns de seus capangas, os negros que restaram eram mais submissos, caso contrário, haveriam revoluções e debandadas.
Logo após a explicação, ele se mantiveram da mesma forma que estavam. Onofre dá um sorrisinho sarcástico e diz:

- É Senhorita! Digo te que não será fácil lidar com essa negaiada daqui, essa raça só sabe o que é o chicote e nada mais.
- Espero que esteja enganado!
Ela olha para a mãe com a criança e pergunta qual e o seu nome.
A mulher continua a balançar seu corpo e nada diz.
- Muito bem, amanhã retornarei e conversaremos outra vez.
Ela sai entristecida e após um dedo de prosa com sua futura sogra e a despedida de Augusto segue para São Gabriel.
- Não compreendo Jordão, porque eles estão assim?!
- Eles devem ter apanhado do Onofre e tiveram medo, amanhã a senhorita trás o Sebastião, a Ana e o Rosauro,
Eles vão explicar de uma maneira que eles vão intender, a Senhorinha vai ver.
Na delegacia Tereza está atônita, o ferreiro colocou lhe um bola de ferro de dois quilos em seu tornozelo ligada a uma corrente que alcançava somente até seus braços. Não havia jeito de se movimentar sem carregar a bola de ferro, a qual será sua amiga mais fiel para o resto de sua vida.
- Boas tardes, sargento!
- Igualmente Senhorita!
Vejo que viestes pessoalmente buscar sua escrava.
- Sim, pretendo levá-la agora mesmo.
- Ela é toda sua. Tereza olha com olhar choroso e diz:

- Sinhá, fico feliz em ve lá, por favor, porque colocaram esses ferros em mim?!
Não entendo.
- Deverias entender Tereza, o nome disso é falta de confiança! E na minha fazenda ninguém confia em você.
- Sinhá, eu nunca mais farei de um nada para prejudicar ninguém, já paguei meu erro Sinhá.
Eu juro por Deus! Serei uma boa menina, vou ensinar todos a ler e escrever, não abrirei minha boca, eu juro!!!
- Vamos, temos que ir.
Tereza tenta arrastar a bola de ferro, porém é muito pesada , ela pega-a nos braços e caminha atrás de Lorena e de Jordão em pleno silêncio.- Tenhas juízo Tereza e não voltes para cá.
- Onde foi parar o nego amante de Tereza? Pergunta Jordão.:
- O senhorzinho dele o vendeu para um quebrador de pedras para construção, aquele só sairá de lá morto!
Lorena está deveras triste por Tereza, também pelos escravos que queria que já estivessem livres.
A vida de uma Senhorita revolucionária tem se tornado cheia de complicações.

Augusto está pensativo, em seu íntimo sente que decepcionou sua bela dama de ferro.

27/3/2021
Maria Boaventura

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now