*Cães de guarda*

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À noite é deveras longa para Lorena,
Augusto e principalmente para Tereza que está atrás das grades.

-Bom dia para os dois pombinhos que estão na gaiola!
Diz o sargento.

-Não esperem um café da manhã apetitoso,

principalmente você pombinha!

O cafezinho com os quitutes deliciosos que você comia em Ouro Negro!

Sinto em lhes informar que não fazem mais parte de seu cardápio!

-Por favor, seu sargento! Eu nada fiz.

Foi o Jorge e o Juca, eu não fiz nada!

O escravo ciente de seu estado, sabia ser muito complicado, não teve pena de Tereza e sorrindo disse:

-Está daí, sempri si faz di coitada, ela é uma cobrinha qui ta prontinha pra mordê a mão que chegá perto!

O Juca era cabra mar dimais.
Essa ai é pura inveja, quiria o lugar da sinhazinha, toda a fazenda qui essa ai vivi ela tem inveja das sinhá.

É cobra, e ajudo sim! Ela queria qui a sinhá morreci memo!

-Olha, vejam só como é! Os pombinhos vão abrindo o bico.

É Tereza, não há como mentir, seu cúmplice não a de querer ir para a forca, sozinho.

- Ele mente! Eu não fiz nada.

E Tereza chorando senta-se no chão sujo da cela,

pois o que lhe resta é somente chorar e se lamentar.

Jorge o negro fujão dá gargalhadas como se a insanidade tivesse lhe tomado conta da mente.

O sargento passa uma caneca de esmalte nas barras de ferro fazendo um horrível barulho, sai dando estridentes gargalhadas.

A prisão é um lugar de tormento para o corpo e para a alma...

E somente por pensar que o caminho para fora dali será a forca,

trás uma repentina loucura e insanidade nas mentes que pensam que sempre irão ganhar,e pensam que por inveja e lucro vale à pena se arriscar.

Há um ditado que diz que a vingança vem á cavalo!

E o castigo vem galopando!

Para Tereza a vingança veio de todas as formas.

o que lhe resta é aguardar o desfecho de seus atos.

*Ouro Negro*

Ana trás o café no quarto para Lorena que esta com os ferimentos ainda inchados e mais negros ainda, ela senta-se na cama e limpa os ferimentos,

Fabíola muito prestativa a ajuda e ela veste uma saia e uma blusa confortáveis e já se podia ouvir o barulho de cascos de cavalos chegando e de charretes também, com certeza o dia seria de muitas visitas.

Todos da vizinhança e da cidade estavam curiosos e também solidários á Lorena, sua bravura era digna de ser elogiada e admirada por todos.

inclusive alguns fazendeiros e pessoas que chegavam trouxeram as esposas, para que Lorena se sentisse mais a vontade com as visitas.

Ela desce as escadas e Constâncio está em pé na sala.

- Bom dia senhorita, os homens já foram para a fazenda Santa Lucia e eu estou saindo agora vim saber se está melhor?

- Bom dia, não se preocupe estou bem, apesar da aparência, estou melhor.

Constâncio não deixe o barão a esperar.

- Sim, até senhorita!

Ele sai e já encontra as primeiras visitas que estão a chegar.

-A senhorita é uma mulher muito corajosa, diziam as mulheres;

- És mesmo uma dama de ferro.

O quintal e o alpendre passaram a manhã toda com visitas e chegada à hora do almoço vem chegando seu Antônio seu advogado e sua esposa e logo atrás vem o barão.

Augusto não pode vir, pois ficou a mando de seu pai no eito cuidando dos escravos enquanto Constâncio cuidava dos trabalhadores.

Havia uma enorme diferença entre os escravos e os trabalhadores, enquanto os escravos trabalhavam lentos e amedrontados os trabalhadores de Ouro Negro trabalhavam com muito boa vontade e às vezes cantavam musicas africanas em meio ao eito e o serviço dos trabalhadores era o dobro comparado aos dos escravos.

Até mesmo o feitor do senhor barão admirou-se de quanto o serviço havia rendido.

-Cuidarei de tudo para você senhorita! Como seu advogado não permitirei que os culpados fiquem em pune, todos pagarão segundo a lei.

Disse seu Antônio muito horrorizado com a aparência de Lorena.

O Senhor barão diz
Com um tom exaltado;

-A senhorita fez muito bem em matar aquele sacripantas, ignóbil e biltre!

A morte foi-lhe pouco por tamanha desgraça que ele causou á senhorita e a mim!

Eu mesmo o mataria e tiraria sua pele.

Como pode o Juca fazer isso com a senhorinha?

Todos admiravam.
Assim o dia passa , depois de varias visitas Lorena se recolhe para o merecido descanso.

A noite chega e já se faz tarde, porém Augusto não se contém em ficar sem ver sua amada.
Mesmo com grande dor no peito
Escreve lhe uma carta.

Arria Sultão e sai pela noite escura até chegar em Ouro Negro. O som dos cascos de cavalo fazem com que os cães ladrem alvoroçados,

acordando assim, Jordão que sai ás pressas de seu quarto com uma espingarda nas mãos.

Vê um cavaleiro desmontar frente à casa grande e ao longe logo reconhece

ser Augusto com seu cavalo branco.

Jordão raia com os cães que se calam e vão logo deitar-se.

Maria Boaventura

A BELA DE OURO NEGRO حيث تعيش القصص. اكتشف الآن