Descanse em paz

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A dor que a perda de um ente querido pode trazer
É imensurável, inigualável.

A dor de ser julgado culpado por algo que jamais imaginou seus pensamentos.

Não há como medir ou explicar tamanha indignação.

O sargento convicto de seu julgamento, explanou seu comentário , deixando todos boquiabertos com sua narrativa.

Discurso encerrado...
Não há nenhum resquícios de dúvida.
O Barão juntamente com seu feitor, planejaram e executaram o plano para a morte de sua nora.
A motivação foi a fortuna de que,
seu filho Augusto seria o único herdeiro.

- Jordão meu amigo, salvou minha vida!
Deu sua vida por mim.

Chora e lamenta a dama de ferro.
Naquele instante seu coração sangra e seu choro é ouvido por todos.
A bela noiva, toda ensanguentada, descobrindo que seu sogro à queria morta.
Pelo maldito dinheiro, logo ela que nunca o valorizou.

Augusto olha para Lorena, seu coração está em mil pedaços.

- Meu amor, perdoe-me por ser filho de um mostro que sempre julguei ser um pai!

Os olhos de ambos vertem lágrimas e soluços de dor e desespero.

- Anastácia, você colocou a água do vidro que ti dei na taça da Senhora Lorena?!
- sim sargento! Coloquei tudinho pra qui o Onofre visse, si não ele ia me matá.

- Muito bem, agora existe um enorme dilema que terá que ser desvendado.
Quem envenenou o Barão?
Doutor como o senhor disse que foi veneno, tens algum em mente que possam ter usado?
- Pela rapidez da morte, tenho absoluta certeza que foi cicuta.
- O frasco com a cicuta está aqui comigo.
- Deixe-me cheira-lo, ser for, somente pelo cheiro peculiar, saberei.

O sargento retira de seu bolso o frasco e o entrega para o doutor.

- Sem dúvidas, é cicuta!
- Então, quem colocou cicuta na taça do Barão?!

- Ora, sargento! Isso não e hora para investigação.
Temos que preparar vários velórios, os nossos mortos estão caídos ao chão.
E lá vem o senhor com perguntas infundadas para os convidados, faça-me o favor!
- Senhor Agenor, não há melhor hora do que essa.
As pistas não podem esfriar,
Agora mesmo vou descobrir que matou o Barão!

Senhora Lorena, a senhora tinha conhecimento que estavam tramando contra sua vida?
- Sargento! Poupe-nos de suas desconfianças.
Minha prima é a vítima aqui,
Não a ré ou a assassina.

Um grande alvoroço se faz novamente.
Todos se posicionam contra as suspeitas do sargento contra a senhora Lorena.
Mas, em tese o sargento tinha lá suas razões.
A única prejudicada seria ela, pois morreria.
Seu maligno sogro queria matá-la e separa-la de seu amor, para ficar com sua fortuna.
Ela era a suspeita número um.
O sargento teve muitas dúvidas se Rita e Jordão não teriam contado para ela sobre sua tentativa de ser assassinada.

E se ela sabendo de tal coisa, resolveu fazer justiça com suas próprias mãos?!
Afinal de contas, a dama de ferro era uma mulher destemida, e já havia matado um homem sem pestanejar.

- Sinto muito senhora, mais terei que levá-la à delegacia
para prestar depoimento.

-Senhor sargento, jamais fará tal coisa!
Olhe para minha esposa e diga-me se uma mulher no dia do seu casamento mataria seu próprio sogro?!
- Ora, Senhor Augusto.
Um homem no dia do casamento de seu próprio filho primogênito, não intentou matar sua nora?
Então, nesse mundo tudo pode acontecer.

- Ela não irá, somente por cima do meu cadáver!
- Não faça isso Senhor, já tem cadáveres demais nesse casamento!
- Meu amor, não se intervenha com o sargento.
Deixe-me trocar esse vestido e irei, não temo nada, não fiz nada!
Se o sargento pensa que sou deveras culpada, que me leve presa!
- Eu irei com a senhora e a defenderei: diz Rafael filho de seu Agenor.
- Ninguém vai levá a Sinhá!
Foi eu que botei o veneno no copo do Barão!

Todos olham para ele.

- Sebastião? Não pode ser!
Estais mentindo.

- Fui eu!
Diz Ana aos prantos.
- Fui eu, Sinhá! Diz Olga
- Fui eu! Diz João
- Fui eu, sargento!
Diz Rita.
- Fui eu, eu matei o maldito que queria matá nossa sinhá minina!
Diz Rosauro.
- Fui eu!
- Fui eu!
- Fui eu, diz Constâncio.
- Fui eu! Diz Fabíola.

Derrepente todos levantam suas mãos e gritam em um só coro.
- Fui eu! ...
Lorena se ajoelha ao chão e chora mais ainda ao ver que todos os seus amigos tomaram a culpa sobre si.

Os convidados ao verem o que os escravos estavam fazendo por sua dona questionaram em seus pensamentos, o porque de tanto amor e comprometimento.
Compreenderam que amizade e gratidão tem que ser recíproco.

O delegado que ouviu tudo esbabacado, toma a palavra e diz:
É deveras impossível levar tantas pessoas para as celas da delegacia.
Com a minha casta experiência, vejo uma vasta impossibilidade de saber sem uma minuciosa investigação quem envenenou o Barão.

- Tenho por mim que foi ele mesmo quem morreu com seu próprio veneno!

Diz Augusto visivelmente indignado com os atos monstruosos de seu pai.

- Perdoe-me, mamãe.
- Estais perdoado meu filho.
Meu marido, Barão Inácio Munhoz, sempre foi um homem rude e ambicioso.
Sua morte, nada mais é, que o ganho por sua arrogância.
Minha nora sempre foi uma mulher de reputação exemplar.
Tenho certeza que Alguém que ama próximo como ela ama e faz tudo por todos independente de cor ou raça, jamais mataria Alguém, por tão pouco, feito dinheiro.
Ainda mais o pai do homem que ela tanto ama.
Por favor! Encerrem esse assunto.
Deixe-me enterrar meu marido.

Todos se calam.

Voltam para suas casas se prepararem para os velórios.

Lorena manda preparar o velório de Jordão na sala de estar da casa grande.
Todos em Ouro Negro passam a noite chorando e se lamentando pela perda de Jordão.

No terreiro, o batuque tocou a noite toda.
Músicas tristes de lamento,
Que somente quem é Negro e escravo conhece.

Maria Boaventura.

A BELA DE OURO NEGRO Onde histórias criam vida. Descubra agora