Visita inesperada

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Capitulo 11

Todos os outros escravos tinham um imenso respeito pela sinhazinha menina e com certeza aqueles dois iriam repensar sobre as palavras de Lorena.

Constâncio lhes chamou a atenção mais uma vez, saltou os dois jovens que foram se lavar e fazerem curativos nas feridas.

Lorena disse a Sebastião que fosse cuidar daquele nariz e saiu da senzala acompanhada de Constâncio.

- Não acredito que tudo que já disse não teve nenhuma valia para eles.

- Senhorita eles são assim mesmo, eu estou admirado de quase todos estarem se comportando tão bem.

- Espero que isso não se repita, odiaria ter que manda-los para outra fazenda onde certamente sofreriam com agressões e açoites, mas com certeza eu o farei se for preciso.

Sebastião ainda segurando o nariz que saia um pouco de sangue acompanhou os dois brigões e lhes advertiu:

- Vocês dois vai acabar com nossa liberdade, mais duas colheitas e a gente é livre com nossa carta de alforria nas mãos, vocês vão embora mais, nós não vamos perder a liberdade por causa de dois burros feito os dois.

Jordão os seguiu e olhando para eles com seus olhos assustadores disse lhes:

- Vocês são burros! A sinhazinha tem razão, vocês são burros!

Em todas as fazendas que já passamos escravizados sem ter o que comer, apanhando feito bicho, aí vem à sinhazinha e da oportunidade de nos virarmos gente e vocês ficam esperdiçando.

Temos comida, bebida, roupa limpa e liberdade para andarmos para pescar, sem açoite sem ferros e vocês querem acabar com isso? Se vocês estragarem a vida minha aqui, com certeza vocês não vão para outra fazenda eu mesmo mato vocês, eu mato!

Os jovens temeram Jordão, pois conheciam sua fama. Sebastião ficou calado, ele mais que todos almejava sua liberdade a todo custo.

O dia realmente começou agitado em Ouro Negro.

Lorena ainda nervosa pelo acontecido vai subindo as escadarias que levam ao alpendre quando vê na estrada chegando um trole de aluguel.

Desce com um sorriso largo e com os braços abertos, seu primo Hugo.

Lorena desce as escadas correndo.

- Me de cá um abraço maninha linda, que saudades de você!

- Hugo! Que saudades, que saudades! Que felicidades em te ter aqui comigo.

Os dois se abraçam, Hugo levanta Lorena no ar e rodopia.

Hugo acerta a corrida com o cocheiro que deixa suas bagagens no alpendre, os dois sobem as escadas de braços dados as saudades era demais.

Lorena e Hugo foram criados como irmãos e se amavam como tal, não se separavam nunca a não ser nestes meses que Lorena estava em Ouro Negro.

Entram na casa grande, Hugo se maravilha com a beleza da fazenda e da casa, elogia Lorena pelo zelo com que vem cuidando da sua fazenda.

- Deveras sua fazenda é lindíssima!

- Sim, apenas me queixo da solidão de não ter alguém pra conversar, sobre assuntos de senhorinhas é claro!

Dizendo isto sorri.

Lorena coloca Hugo a par de tudo o que está acontecendo na fazenda, conta a ele sobre a liberdade de seus escravos, sobre a ideia que teve para a colheita do café e sobre a briga que acabara de acontecer.

Hugo fica extasiado com tantas notícias e diz:

- Nunca imaginei que você fosse resistir a tantos fatos que estais passando aqui você está de parabéns prima, se fosse outra senhorita cheia de rapa pés já teria partido para a corte sem ao menos olhar atrás.

Conversaram por mais alguns momentos e Ana diz que o almoço está servido.

À mesa a conversa continua, muitos sorrisos.

Lorena põe se a perguntar sobre as senhorinhas que ficaram na corte e sobre a que pés andam o movimento abolicionista.

- Está perto o fim da escravidão primo?

- Penso que não! Nossos mandantes não querem que o Brasil perca a mão de obra escrava, assim sendo minha cara, teremos que lutar muito para transformarmos aos poucos a cada fazendeiro os fazendo verem que escravidão é um prejuízo e não lucro.

- E vamos conseguir, aqui começarei por minhas terras e depois outros irão ver meu exemplo e também vão copiar-me.

Se DEUS assim o quiser.

E logo após o almoço lhe mostrarei a fazenda, pedirei a Rosauro que sele dois cavalos e iremos cavalgando, se você não estiver muito cansado?

- Claro que não! Irei com todo prazer estou curiosíssimo para conhecer a tão famosa, Ouro Negro.

Após o almoço saíram para cavalgar. Hugo pode ver que a fazenda era magnífica, estava muito bem cuidada sua lavoura era esplêndida. O café estava pronto para o transporte. Ele admirou Lorena pela bravura e garra.

- Minha querida, seu pai deixou-lhe por herança uma joia lapidada, você está se saindo maravilhosamente bem. Está tudo muito bem administrado.

Você é digna de ter recebido este patrimônio.

Olhando para ela ele disse:

- Você merece! Foi uma grande ideia negociar a liberdade com os escravos, assim eles ficam três anos e quando saírem se eles quiserem partir não saíram com as mãos abanando perdidos sem saber para onde ir.

- Obrigada primo Hugo, realmente foi-me uma boa ideia, se os tivesse libertado logo que cheguei, eles sairiam sem destino para esmolar ou ficarem por aí sem ter guarida, agora após os três anos eles sairão com pelo menos alguma dignidade.

Depois de andarem por parte da fazenda voltam à casa grande e logo anoitece em Ouro Negro.

Após o jantar Lorena e Hugo vão à senzala conversarem com os trabalhadores.

- Boas noites para todos! Diz Lorena.

Este é meu primo Hugo ele irá passar um tempo aqui na fazenda comigo, ele é um irmão para mim, espero que todos o tratem bem como se fosse eu.

Todos responderam a boa noite e o saudaram e começaram a conversar sobre todos os acontecimentos da fazenda.

- Sebastião, como vai seu nariz e como estão os jovens brigões?

- Parece sinhá, que criam juízo. Jordão ando dano uns conselhos para eles e eles se aquietaram.

- Muito bom Sebastião! Espero que eles não deem trabalho porque se eles continuarem assim infelizmente vai ter que se cumprir minha promessa de troca-los.

-Não sinhá! Acho que o susto deu pra eles se acalma. Não vai ter mais briga.

Hugo e Lorena se retiram, pois segunda feira seria um dia de muito trabalho o café seria transportado para o armazém na vila.

Conversaram mais um pouco de tempo e ambos subiram para o quarto descansarem.

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now