* Sou cacos! *

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Ele a segura pela cintura e seus lábios se encontram em um beijo que lhes tira o fôlego ,  ambos se entregam naquele ultimo beijo e quando Lorena recobra os sentidos tenta se desvencilhar de Augusto,
ele frouxa os braços e novamente a puxa para si e beija-lhe novamente com o mesmo fulgor e com muito mais amor do que poderia caber em dois corações.  Após o segundo longo beijo ela sai e caminha á passos largos, monta seu cavalo e sai galopando para Ouro Negro e Jordão á segue.
Em certa parte do caminho ela chora...
Desmonta de seu cavalo, para embaixo de uma arvore e chora alto feito criança.
Jordão chega e diz:

–Senhorita você está bem?

- Não Jordão, deveras eu não estou bem!
Eu o amo, amo e não posso te-lo em meus braços,  Ele me ama também e não tem coragem de deixar tudo por mim!

-A senhorinha o aceitaria se ele deixasse o pai, a noiva e todos pela senhorinha?

- Me perdoe Jordão, estou á delirar!

Não se apaixone, perdemos a realidade quando estamos apaixonados, basta olhar para mim e enxergar o que o amor pode fazer comigo.

Chamam-me de dama de ferro! Estou mais para dama de manteiga, sinto que meu coração está dissolvendo por dentro de mim.
Juro que se não houvesse tantas pessoas boas meio á isso tudo, eu não pensaria duas vezes em viver este amor, mas como?! Estou perdida Jordão, muito perdida! Não sei mais o que sou! Sem Augusto sou nada, simplesmente um nada.

Nem de ferro, nem de diamante, sou cacos de vidro espalhados pelo chão, não consigo me ajuntar, eu estou partida, quebrada...

Augusto, porque tivestes que me amar e fazer-me amá-lo tanto?!

-Senhorita, o amor não tem pena de ninguém!

Faz a gente amar quem não nos ama e amar quem ama a gente e não deixa que fiquemos juntos, o destino só sabe brincar e machucar nós.

- O destino deveras está brincando comigo e ele está á rir de mim.

E ela chora sem se envergonhar que Jordão a veja naquele estado tão vulnerável.

Após alguns minutos ela seca as lágrimas com a manga da blusa, monta seu cavalo e segue para Ouro Negro em silêncio, acompanhada bem de perto por Jordão que apesar de estar feliz pelo rompimento, também está triste pela dor que sua amada sinhazinha está à sentir.

Chegam a Ouro Negro quando ela apeia de seu cavalo frente à casa grande,  pede para que Jordão não diga nada sobre ela e Augusto.

-Jordão meu amigo peço-lhe que não comentes com ninguém o que sabes sobre eu e Augusto, não gostaria de buchichos nem aqui e nem algum outro lugar isso poderia constranger a mim e a Augusto, fora a família toda.

--Não se preocupe, jamais direi uma só palavra que possa prejudicá-la.

-Obrigada, sei que tenho um bom amigo em você.

E sai andando de vagar, sobe as escadas e ruma para seu quarto que está sendo seu melhor amigo nesses dias conturbados.

Jordão se entristece por ser chamado de amigo, ele queria algo mais e com sua paciência vai esperar que Augusto se case com Sandra e Lorena o esqueça.

Augusto vai até uma casa que está servindo para que os escravos fiquem até que a nova senzala seja construída para a recolocação de todos os escravos,
está sujo de poeira e visivelmente transtornado, seu irmão Otávio se aproxima e bate em suas costas e diz:

-O que há contigo maninho?

Você está tão fora de si, estais há temer o casamento? Não irei me casar se o tal casamento me deixar assim como estás você! Vejo tristeza em vez de alegria em seus olhos, o que esta á acontecer meu irmão?

Ele assenta-se em um tronco de uma arvore e pede que Otávio se assente também.

- Estou á enlouquecer, não amo Sandra eu nem a suporto, não a quero, não a desejo.

Eu não me casarei com ela!

-Se não casares papai irá deserdá-lo ele já disse isto, e você meu irmão o conhece muito bem!

E os dois repetem a mesma frase.

- Palavra dada, palavra cumprida!

-Então maninho, como escaparás de tal casamento? Agora que tomamos este tão grande prejuízo precisaremos mais ainda do senhor Agenor, ele irá emprestar-nos uma grande quantia para levarmos a fazenda até a próxima colheita.

Fora o dote de Sandra que agora será nossa salva guarda, estávamos estabilizados, porém com a queima de toda colheita deste ano estamos em apuros e você com este casamento, irá salvar-nos.

- Não me digas isto!

-Sim, ouvi a conversa toda, papai está á bancarrota.

Seu casamento pode nos livrar da iminente ruína!

- Não creio nisso!

-Converse com papai e verás a verdade.

-O mundo está a me pegar para ser seu saco de pancadas?!

Não me casarei nem que todos morram de fome!

Eu não nasci para cristo! Não vou sacrificar-me por todos, eu tenho minha própria vida e vou lutar para ser feliz, não me importo, não vou me importar, eu juro!

Case-se você com ela!

Eu não me casarei!

- Você é quem sabe maninho, a mãe sofrerá horrores se papai falir, ele vai descontar tudo nela, você mais que ninguém sabe.

Augusto grita alto e serra os punhos e soca o tronco até suas mãos sangrarem.

- O que há com você Augusto, estás enlouquecendo?!

- Sim, sim! Estou louco Otávio, louco!

- Deixe-me ver essas mãos! A queda, as costelas e agora as mãos?

Só podes estar mesmo louco!

Eu me casaria de bom grado com a senhorita Sandra, ela é bonita e garanto que dará uma boa mãe de filhos e se não ficasse satisfeito com seus favores, iria para o bordel! Você Augusto é um sujeito muito romântico, case-se e depois faça o que quiser com sua vida!

Tão mais velho que eu e não sabes viver ainda?!

- Me deixe Otávio, me deixe! Você não sabe o que é o amor és um doidivanas igual a papai, eu não nasci para uma vida vazia sem amor eu encontrei o amor e agora o quero e vou ter esse amor, mesmo que precise deixar tudo e todos!

- Encontrastes o amor! Mas como?

- Estou amando, apaixonado, e não deixarei de viver uma vida feliz, para viver uma vida vazia em bordeis, eu quero mais que isso e não abrirei mão de um amor por um dote, não abrirei!

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now