Taças de cristal

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O sol está preparando-se para o seu merecido descanso diário.
A lua meio tímida, demonstra um pouco mais que sua metade, deixando transparecer sua beleza crescente.
Na vila de São Gabriel, os fazendeiros se preparam para uma reunião da câmara, onde todos os maiores proprietários de terras e comércios participam dos debates sobre questões a serem resolvidas.

O senhor Barão se faz complacente quando o assunto é sua futura nora, tudo para agrada-la ou despistar qualquer suspeitas quando  seus planos se concretizarem...

- Ora, vejo sentido nessa proposta, afinal a senhorita Lorena é dona de fazenda e grande parte do comércio da região é provindo de sua propriedade. E ela deveras vem se destacando e questões administrativas.
- Sou obrigado a concordar com o Barão, inclusive ela já conseguiu lhe comprar a metade de sua fazenda e pelo que soube, todos os seus escravos também!!
Se não fosse sua futura nora creio que o senhor Barão já estivesse a conduzido para a forca, ao invés de pleitear um lugar para ela aqui na câmara.

Disse em um tom arrogante o Doutor Lázaro Silveira.

- Deveras o Barão está a puxar as sardinhas para o seu saco!
Diz o senhor; Graciano de Souza.
Ele é um produtor de café mediano, e ainda assim, faz parte das reuniões.

O senhor Barão Inácio Munhoz enfurece- se, porém é obrigado a concordar e a cale-se, pois sua maldita futura nora o humilhou deveras. Ele faz cara de poucos amigos e vai assentar-se.

- Tenho a dizer que a tempos a senhorita Lorena vem reivindicando seu lugar aqui, o que suponho lhe ser de direito, afinal de contas, seu pai fazia parte da diretoria e sempre foi um homem bem quisto e irrepreensível em seus atos.
- Seu Agenor, sabe-se de seu grande apreço pela Senhorita, então eu digo que votemos, para que o voto da maioria prevaleça, se assim o for, ela fará parte das reuniões.
- Que assim seja! Votemos então.

Depois de muito disse me disse, fica acordado que Lorena a partir daquela data fará parte das reuniões.
Augusto que ali estava acompanhando o Barão, ao ver o resultado da votação, monta no sultão e parte para a fazenda de sua amada.

- É uma grande vitória para você meu amor.

Diz Augusto ao contar para Lorena o resultado da tal votação.

- Eu venho lutando muito para isso, e agora que consegui me é uma felicidade sem fim.
Usarei de todas as oportunidades para apregoar que a liberdade é imprescindível para o bom andamento de qualquer fazenda.
- Tenho pena de todos os fazendeiros! Eles pensarão em suas mãos.
Sei que a dama de ferro não perdoará qualquer desatino ou deslize.
- Augusto! Não me amofine se não, o sufocarei de tantos beijos.
E olhando um para o outro sorriem.

Jordão a noitinha vai à casa da Baronesa para ver sua namorada Rita.
O coração do mulato está deixando-se apaixonar por Rita, ela é uma alma muito boa e seu coração pulsa por Jordão desde o primeiro momento em que o viu.
A paciência é amiga da conquista e de tanto esperar com paciência, Rita conquistou seu prêmio,
O afeto de seu amado.
Ele desmonta de seu cavalo perto da porta dos fundos da cozinha, onde fica o quartinho que Rita e Sara pernoitam.
A senhora Baronesa vai à cozinha pedir um chá para aliviar suas constantes dores de cabeça noturnas.
Ouve um burburinho do lado de fora e caminha para perto da soleira da porta, mesmo sendo uma senhora recatada, não se contém em ouvir a conversa, ela custa acreditar quando ouve Rita dizer:
- Ouvi o Barão e o Onofre combinado de matar a Sinhá Lorena...

Jordão cumprimenta Rita que está muito aflita.

- Boa noite Jordão. É muito bom que ocê veio hoji , fiquei sabeno de algo e perciso ti fala, mais aqui não, aqui é perigoso.
Vamo atrás da cozinha, lá é mais bom.
E pegando a mão dele o puxa  apressada.
- Calma nega, o que há com vos mercê?
- Eu tô com medo, desdi onti
Eu escutei uma prosa e é algo ruim pra Sinhá...
E as lágrimas caem dos olhos de Rita, o que faz com que Jordão a Abrace apertado, ele alisa seu cabelo e da lhe um beijo na testa, fazendo com que ela se acalme.

- Me diz o que ti deu tanto medo?
- Onti  de noiti, sai pra toma ar fresco, aí ouvi o Barão e o Onofre combinado de matar a Sinhá Lorena.
- O quê? Me conta isso logo!
- Fala baxo eles pode ouvi nois!

E quase sussurrando ela conta todos o detalhes do plano para a morte da dama de ferro, também o motivo para o tal ato.
Vingança e toda a herança de Lorena.

- O Barão disse que tem que se na festa do casamento, dipois do casório pra que o filho palerma dele herdi tudo.
Eli vai manda a Anastácia coloca o veneno numas taças di cristal que Eli mando vir da capital, elas é diferenti pra ser o veneno só na taça da Sinhá.
Mais o neguinha Anastácia num sabe do nada, ela num sabe que foi pra fazenda só pra matá a Sinhá.
Eu tô com muito medo delis discubri qui eu sei de tudo.
- Vou matá aqueles dois! Como pode?! A senhorita só faz o bem, e aqueles demônios quer tirar a vida dela por causa do dinheiro qui ela tem!
Isso num vai acontecer de maneira nenhuma. Antes eu estripo aqueles assassinos.
- num faz isso! Conta pra Sinhá.
- Ela terá dúvidas, e isso vai acaba com o casamento dela. O que eu e vós mercê podemos contra o Barão e todos os brancos amigos dele?!
Nois somos apenas negros e escravos.
Não valemo nem uma galinha morta pra ninguém!
- A Sinhá vai acredita em nois, ei sei qui vai!
- Deixa comigo, eu resolvo tudo isso, vou salvar a senhorita como ela um dia me salvou.
Mesmo qui eu tenha que fazer uma disgraça com esses sacripantas!

E ele consolou a Rita pedindo que ela não dissesse para ninguém do ocorrido,
Pra ninguém mesmo!

Sai galopando noite adentro para colocar seus pensamentos no lugar e arrumar uma maneira de livrar Lorena da morte e também mandar o Barão e Onofre para o inferno.

A baronesa ao ouvir a grande maldade que seu marido planejava contra a mulher amada de seu querido filho, não suporta e é acometida por um súbito desmaio e cai no chão da cozinha.

Ao sair da porteira da fazenda, Jordão encontra-se com o Barão, Onofre e Otávio.
Seu coração ferve, mas sendo um homem ponderado balança a cabeça em um cumprimento, o que é respondido somente por Otávio.
Ele toca o cavalo e parte a galope para Ouro Negro.

- O que aquele negro fazia em minha fazenda?
- Deve ser a sua nora quem o mandou, Barão.
- Ouvi a negrinha Rita dizer que ele é o namorado dela.
- A coisa vai mal mesmo, até esses escravinhos ficam de fornicação pelas fazendas alheias, agindo como se fosse gente! A coisa degringolou de vez.
- Daqui uns dias Barão, vão convidar o senhor para apadrinhar as crias pretas deles.
- É somente o que está a faltar.

Tão logo entram na casa grande, Otávio vai até a cozinha para beber água e vê sua mãe caída ao chão.
Ele grita por seu pai que o ajudava coloca-la sobre a poltrona  da sala de estar.
A Baronesa recobra os sentidos e olha com um olhar de terror para seu marido.
- O que há contigo mulher?
A velhisse não a deixa mais ficar sobre os pés?
- Papai!
O que ouve mamãe, você está bem?
- Sim meu filho,
Não se preocupe comigo, estou bem.
Vou me deitar e isso logo passa
- Vou pedir um chá para a senhora.
- Está bem.
Sara é chamada e faz um chá para a Baronesa, que não revela o ocorrido para ninguém. Ela conhece muito bem as maldades de seu marido, o amor de seu filho Augusto está em jogo e ela vai tentar reverter essa horrível situação.

Maria Boaventura

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now