Quando Em pede um cigarro.

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"Pai?"

Eu posso ouvir sua respiração, mas não ele não diz nada. Eu sei que é ele. Eu sei que é.

E ele desliga.

Não consigo esconder minha decepção ao ouvir a ligação ser encerrada. Eu tiro o celular do ouvido e encaro o aparelho, vendo a tela inicial sendo exposta. Meu pai me ligou e depois desligou na minha cara.

Eu não sabia como me sentir sobre isso. Eu não estava triste, só estava... Confusa. Por que ele me ligou? Ele está morando em Wyoming? É perto da Califórnia. Como ele conseguiu meu celular?

Eu joguei a mochila sobre meu ombro e andei para fora da escola. Harry não demorou a aparecer e eu entrei no carro, movida demais por aquela ligação para sequer me preocupar em dizer "olá". Harry não pareceu ligar, e saiu com o carro sem dizer nada também. Meu cérebro estava borbulhando e eu não conseguia parar de tremer. Que inferno. Parecia que eu ia surtar, desmaiar e vomitar, tudo ao mesmo tempo.

"Harry", o chamei, mas minha voz acabou saindo alta demais, e Harry levou um susto, fazendo o carro desviar um pouco rapidamente. Eu arfei. "Meu Deus, desculpa, não quis-"

"Não, não, eu estava distraído. O que foi?" Ele disse, limpando a garganta e se acertando no seu assento.

"Você tem... Ahn... Um... É..." Eu gaguejei, meio nervosa de pedir aquilo para ele. Ele me olhou, tentando reprimir um riso.

"Um...?" Ele me incentivou a continuar.

"Um... Um cigarro. Você tem um cigarro?" Eu tomo coragem e peço. Não gosto de estar pedindo isso porque me dá a impressão de que estou tentando fugir do problema, mas, sinceramente, qual é o problema? Sim, meu pai me ligou pela primeira vez em anos, mas, mesmo assim, a ligação logo se encerrou e eu provavelmente nunca ouvirei falar dele de novo.

"Ah. De maconha ou um normal?" Ele pergunta, seu tom de voz normal, mas um pequeno sorriso se esconde no canto de seu lábio.

"Normal", eu digo. Não quero ficar chapada, só quero relaxar um pouco. Ele assente e se inclina sobre mim, abrindo o porta luvas e tirando um maço ainda fechado do fundo.

"Seu favorito", ele brinca. É o mesmo que nós fumamos no telhado no outro dia, um de canela. "Só acho que roubaram o meu isqueiro. Mas você pode acender aqui no carro."

"Não precisa." Eu digo, pegando na minha mochila o zippo que ele me deu de Natal. Ele dá um sorriso e logo tenta escondê-lo. "Você pode... Ahn... Fumar comigo?"

Ele franze o cenho. "Por quê?"

"Sei lá. Me sinto como uma viciada fumando assim, sozinha", eu confesso e ele dá uma risada, e faz uma curva brusca, entrando em uma rua que está fora de nossa rota usual, mas que eu reconheço de automático. Estamos indo para o telhado.

"Pronto. Agora você pode fumar relaxada e, de preferência, não deixar meu carro com cheiro de cigarro." Harry diz logo que chegamos ao estacionamento, tirando seu cinto de segurança.

"Sinto te dizer isso, mas seu carro já tem cheiro de maconha." Eu digo, saindo também.

"Sim, mas maconha tem cheiro bom, cigarro não." Ele justifica enquanto caminhamos para o prédio e eu me questiono brevemente por que ele fuma cigarro se não gosta do cheiro, mas logo noto que eu também odeio o cheiro e, mesmo assim, estou aqui indo fumar.

Nós logo chegamos ao telhado e eu agradeço por não estar de calça hoje. Apesar de estarmos no meio do inverno, o sol está castigando a Califórnia. Se eu não estivesse de vestido, estaria derretendo. Harry está de calça, mas trocou sua usual camiseta por uma regata branca estampada. Ainda assim, ele está usando uma touca verde musgo que me faz questionar se sou só eu que estou sentindo calor.

SIX ➣ 1d fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora