Quando Leslie e Charlie viajam.

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Harry saiu correndo da escola, novamente, para não me dar carona. Essa rotina já estava ficando velha conforme eu chegava no final da minha primeira semana na Califórnia. Era sexta feira, mas nem parecia. Tudo correu como o usual: Harry ignorando a minha existência, eu sentando com Bea nas aulas que tínhamos juntas e sozinha nas quais eu não conhecia ninguém.

Enquanto Harry ignorava a minha existência na escola, ele fazia da minha vida um inferno em casa. Era o plano, afinal. Muito porém, minha mãe não poderia ligar menos. Ela estava muito submersa em seus planos para o casamento que nem percebia o quão infeliz eu estava.

A única pessoa que realmente se importava com os meus sentimentos era Zayn. Desisti do meu plano original de ignorá-lo na segunda à noite, e ele me ligou, implorando pelo meu perdão e jurando que não iria acontecer novamente. Eu aceitei suas desculpas e, desde então, nós conversávamos regularmente.

Louis parecia outra pessoa no telefone. Sua voz cansada, seu pouco resquício de fé na melhora de Maggie.

"Ela continua na mesma. Não melhora, não piora. Ela precisa melhorar, se não... Vão querer que..." Sua voz oscilava.

"Eu sei." Eu disse. Se Maggie não melhorar e sair do coma, daqui há um tempo, vão querer desligar seus aparelhos. E aí... Bem, aí ela vai dessa para melhor. "Você precisa se manter esperançoso, Louis. Eu sei que é difícil, mas..."

"Você não sabe como é. Você nem está aqui." Ele disse entre soluços. Eu engoli em seco. Não, eu não sabia como era ter uma mãe em coma.

E eu também não fazia ideia de como responder àquilo.

"Lou..." Eu falei, baixinho.

"Eu sei, desculpa. Só... Tá difícil, Em. Desculpa, eu não devia descontar em você, nem em ninguém." Ele murmurou e eu senti meu coração se reduzir ao tamanho de um feijão.

"Eu entendo, você não precisa se desculpar. Eu realmente queria estar aí, Lou."

"É. Também queria que você estivesse aqui." Sua voz baixa replicou. Eu me virei na cama, fechando os olhos enquanto sentia uma lágrima escorrer. Esse plano com o Niall e com o Harry não estava dando certo. Precisávamos piorar as nossas relações, ou eu nunca veria os arranha céus de Nova York de novo. "Vou... Assistir TV, Em. Obrigado por ligar."

"Ah, ok. Te ligo mais--" Eu tinha a intenção de terminar a frase, mas Louis desligou antes que eu pudesse. Só me restou suspirar. Eu não podia culpá-lo. Era muita pressão em cima de uma pessoa só.

Uma mensagem de Zayn havia chegado enquanto eu conversava com Louis.

"Previsão do tempo para a aula de Cálculo Dois: chuva de cuspe do professor Higgings. Eu deveria ter trazido um guarda chuva. Olhando pelo lado bom, é sexta-feira. O que você vai fazer hoje?"

Eu sorri com a mensagem e logo respondi.

"Usando o celular durante a aula, que coisa feia. Planejo assistir Netflix e comer algo bem gorduroso. E você?"

A resposta não demorou à chegar.

"Hum. Parece divertido. Tenho uma festa no campus. Você tem que vir comigo em uma quando vier pra Manhattan."

Até queria dizer que fiquei animada com a proposta, mas torci o nariz ao pensar em festas. Nesse tipo de momento eu questionava se eu tinha dezessete anos ou cinquenta. Qualquer garota da minha idade ficaria completamente em êxtase ao receber um convite para uma festa na NYU. Eles eram famosos pelas festas temáticas regadas de cerveja e substâncias um tanto ilegais. E também pelas garotas bonitas, o que me fazia grunhir ao pensar em Zayn ali sem mim.

"Eu sei o que você tá pensando. Se não quiser, eu não vou."  Dizia a mensagem dele, interrompendo os meus pensamentos. Eu sorri. Ele definitivamente me conhecia bem demais.

"Não, tudo bem. Divirta-se! Vou almoçar. Te amo."  Eu respondi, sincera. Eu confiava em Zayn mais que em mim mesma.

Desci as escadas, e ouvi Niall logo atrás de mim. Pela primeira vez na semana, Charlie nos brindou com a sua presença durante o dia. Normalmente ele só chegava na hora do jantar, e passava o mesmo todo no celular. Minha mãe fervia em raiva (o que me deixava feliz) mas ela disfarçava assim que ele desligava as ligações, pintando um sorriso flácido em seus lábios. Ele parecia acreditar - ou simplesmente não ligava.

"Niall," Eu chamei-o, puxando-o pela camisa para um canto no qual nossos pais não nos ouviriam. "Isso não está dando certo. Ela ainda está vivendo a vida dos sonhos, e eu preciso voltar para Nova York."

"Talvez ela simplesmente não ligue para você tanto quanto você idealiza." A voz de Harry me fez revirar os olhos enquanto eu sentia ele se aproximar de mim e de Niall. Ele parou ao meu lado com seu sorriso usual. Aquela porra estava quase grudada na cara dele. Se eu fosse analisar Harry cruamente, eu diria que ele simplesmente é um babaca. Mas se eu resolvesse olhar pelo lado freudiano, eu concluiría que Harry esconde muito por trás daquele sorriso cínico.

"Não começa." Niall avisou-o e ele deu ombros.

"Ué, tô falando sério. Nós estamos tornando a vida da Emma um inferno e a Leslie só dá uma bronca na gente, ou pede pro Charlie dar uma, o que é uma piada. Ele nem sabe o que significa uma bronca." Harry disse e eu suspirei.

"Ela só tá fingindo. Eu consigo ver como ela está incomodada, mas ela quer fingir que está tudo bem para não causar brigas." Eu disse, olhando para baixo. "Mas a gente precisa melhorar esse plano. Ela vai continuar fingindo até as coisas ficarem insuportáveis. Nós temos que torná-las insuportáveis logo."

Eles assentiram e eu pude ver Harry se preparando para dizer algo, mas ele manteve para si mesmo quando ouvimos a voz da minha mãe nos chamar para o almoço.

Sentados na mesma posição de sempre, Charlie passou grande parte da refeição checando seus emails, o que fazia minha mãe soltar fogo, mas ela continuou sem dizer nada.

"Então, crianças, eu e Charlie vamos viajar hoje. Certo, amor?" Ela perguntou, mas ele não pareceu notar. Pude ver seu pescoço ficando vermelho enquanto ela pedia mais uma vez por confirmação. "Certo, amor?" Ele finalmente notou e virou-se rapidamente para minha mãe, concordando rapidamente com a cabeça.

"Sim, sim. Vamos decolar em algumas horas e voltamos amanhã à tarde. Vocês vão ficar sozinhos, mas tem que prometer que irão se comportar. Sem festas. Ok, Harry?" Charlie disse e Harry bufou.

Nenhum dos empregados da mansão ficava aqui durante os finais de semana, a não ser que Charlie ou minha mãe pedissem. Parte de mim queria que eles ficassem só para ter certeza que Harry não ia aprontar nenhuma - parte de mim tinha certeza que as ordens de Charlie não faziam diferença nenhuma para Harry. Ele não podia arruinar a minha noite calma e serena.

"Claro, Charlie." Harry concordou, mas eu já podia ver ele planejando cada detalhe da noite em seu - pequenino - cérebro.

SIX ➣ 1d fanficWhere stories live. Discover now