Quando Harry tem uma confissão.

5.4K 355 222
                                    

EMMA's POV

"...Ele faleceu com a batida. Sinto muito." Dr. Hugh diz, pesaroso, e eu sinto todo o sangue ser drenado do meu corpo.

"Ah", é tudo o que sai de meus lábios. Isso é uma notícia boa... Não é? Deveria ser. Eu nunca quis o bebê, tenho apenas dezessete anos, ia colocá-lo para adoção... Era melhor assim... Certo?

Mesmo tentando repetindo para mim mesma que aquilo ali era uma obra divina, eu sinto meus olhos arderem com lágrimas, e minhas unhas cravarem no colchão ao pensar no pequeno ser que antes habitava dentro de mim, e que agora nunca verá a luz do dia.

Eu engulo minhas lágrimas em silêncio enquanto o médico diz que vai nos dar alguns minutos antes de voltar para fazer alguns exames em mim. Só Harry e minha mãe estão aqui no quarto, e ambos me observam como se tentassem antecipar meu próximo passo.

"Gente, para, eu estou bem", eu minto, olhando para eles e tentando convencê-los, talvez até convencer a mim mesma.

"Ah, Em", minha mãe balbucia e se aproxima de mim, me abraçando pelo pescoço com cuidado.

"É sério, mãe", eu digo, mas, novamente, ninguém parece se convencer. É errado da minha parte querer que Harry saia? Ele está sendo adorável, ficando do meu lado, mas eu não consigo não me sentir estranha falando sobre o bebê com ele aqui. Ele nunca o quis, até mesmo tinha me dito para abortar... Apesar disso, ele não parece nem remotamente feliz com a notícia de que o bebê não está mais entre nós.

Eu não falo nada, porém, e ele também não. Minha mãe engata em um discurso sobre como eu sou jovem e como terei tempo para engravidar na hora certa. Eu quero educadamente pedir que ela cale a boca, mas também permaneço quieta. Estou tentando ao máximo me convencer de que isso é algo bom. Quer dizer, deveria ser. Meus planos estão de volta, como se nunca tivessem deixado de existir... Yale, virar advogada, juíza...

Quero me dar um tapa. Por que não estou contente? O feto não tinha nem batimento cardíaco ainda, como eu pude me apegar por algo que estava, em tese, destruindo a minha vida? Por que sinto esse vazio dentro de mim se eu estava tão certa de que ele não ocupava um lugar em meu coração?

Harry se mantém em silêncio o tempo todo, e posso ver que ele pode ver que eu estou chateada, mas não me pressiona. Quando o médico volta e pede para que todos saiam do quarto, Harry se levanta da cadeira e dá um apertão de leve na minha mão antes de sair. O gesto é simples, mas não passa despercebido. Sei que é a forma silenciosa dele dizer que está do meu lado.

"Dr. Hugh?" Eu o chamo enquanto ele toma notas dos aparelhos ligados a mim.

"Sim?" Ele pergunta.

"A minha amiga... A Bea. Ela está bem?" Eu pergunto, sentindo minhas mãos tremerem enquanto espero pela resposta.

"Sim. Ela fraturou o tornozelo, mas passa bem. Receberá alta amanhã de manhã." Ele diz e eu suspiro aliviada. "Vocês duas deram sorte grande, senhorita Miller. Poderiam não ter sobrevivido, foi um acidente grave." Ele ilumina o machucado em minha cabeça com uma lanterninha e eu recuo um pouco quando ele o toca.

"Nem todos sobreviveram." Eu murmuro e vejo sua expressão mudar ao perceber que sua fala foi um tiro pela culatra.

"S-Sim, desculpe, senhorita Miller, eu não quis—"

"Tudo bem", eu digo, sincera. Sei que não foi a sua intenção, mas isso não torna o processo menos doloroso. Toda vez que fecho os olhos tenho deja-vus, a maioria me levando de volta ao ultrassom, à quando eu finalmente enxerguei a vida que crescia dentro de mim como uma vida e não apenas mais um lembrete dos meus erros.

SIX ➣ 1d fanficWhere stories live. Discover now