Quando Harry toca piano.

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Eu acordo na sexta-feira mais enjoada que o normal. Consigo engolir a ânsia enquanto me arrumo, mas minha vontade ressurge quando escovo meus dentes. Acabo debruçada na privada, sentindo lágrimas involuntárias escorrerem por meu rosto. Eu me levanto e escovo os dentes mais uma vez, lavando meu rosto e respirando fundo antes de descer as escadas. Vou ter que correr para alcançar o ônibus da escola, já que não lembrei de colocar "vômito matinal" na minha programação.

Abro a porta com cuidado para não acordar ninguém e—

"O que você está fazendo?" Ouço a voz de Harry. Ele está descendo as escadas com a testa franzida. Eu me viro para ele.

"Ahn... Indo... Indo pegar o ônibus", eu gaguejo.

"Por que você vai pegar o ônibus se pode ir comigo?" Ele arqueia uma sobrancelha, como se estivesse falando com uma retardada.

"Eu... Não entenda isso errado, mas—Você tem todo o direito de falar o que quiser, eu mereço isso e muito pior, mas... Ouvir as coisas que você fala... Não sei, não é o melhor jeito de começar o dia", eu digo e ele bufa.

"Que seja. Eu não direi nada. Vamos", ele diz, passando direto por mim.

"Não quero que você me dê carona porque se sente na obrigação, ou—"

"Não me sinto. Vamos." Ele me corta.

"Harry, sério, você não precisa—"

"Que porra! Ok, Emma, faz o que você quiser, então." Ele entra no carro e bate sua porta com força, me fazendo pular em meu lugar. Bem, eu já perdi o ônibus, então eu provavelmente devo aceitar sua carona. Eu ando até o meu lado e entro em silêncio. Harry não diz nada, apenas dirige até a escola.

Nós chegamos lá e ele some também sem dizer nada. Esse silêncio está me matando, apesar de não gostar das palavras que ele solta quando sua boca se abre. Encontro Bea na primeira aula, de Redação Avançada. Ela está com seus fones de ouvido, mas os tira quando me vê.

"Bom dia, querida amiga. Como foi sua noite?" Ela pergunta rindo e eu dou ombros.

"Uma merda. Mas já estou me acostumando." Eu suspiro. "Harry chamou... isso de 'um câncer' e disse que eu deveria abortar. Você acha que eu deveria? Não, não, não posso. Não posso tirar uma vida."

Bea morde seu lábio. "Ele realmente disse isso?"

Eu assinto e ela suspira.

"Ok, vem." Ela se levanta, pegando seu livro e pegando em meu braço. Eu arqueio uma sobrancelha. "Vem, preciso te contar uma coisa."

"Vamos matar aula?" Eu pergunto. A professora ainda não está em sala, mas se alguém nos pegar, podemos ser suspensas.

"Não... Só vamos fazer xixi... Por uns cinquenta minutos." Bea diz e me puxa novamente. Eu pego meu material e nós vamos até o banheiro. O sinal toca logo em seguida e nós ficamos sozinhas. Entramos na cabine de deficientes e ela se senta no parapeito da janela, e eu me sento em cima da tampa do vaso.

"Então?" Eu incentivo-a a falar.

"Urr, queria um cigarro agora. Ou uma vodka. Mas tudo bem. Posso fazer isso sóbria." Ela diz e suspira. "Primeiro, eu sei que você está perdoando o Harry pelo que ele fala porque acha que ele tem o direito de dizer essas coisas, mas ele não tem, entendeu?" Eu assinto lentamente. "Agora, tem algo que eu preciso te contar. E eu provavelmente deveria ter contado para você quando o seu teste deu positivo, mas eu não tive coragem, porque ninguém sabe disso."

Eu franzo minha testa e aguardo pacientemente enquanto ela faz uma pausa longa.

"Eu... Eu já engravidei, uma vez." Ela diz e eu arqueio minhas sobrancelhas automaticamente, surpresa com sua revelação. "E eu abortei."

SIX ➣ 1d fanficKde žijí příběhy. Začni objevovat