Quando Em não pede para Harry ficar.

5.1K 354 36
                                    

Não sabia o que esperar quando entrei no carro do Harry. Seu maxilar estava travado, e seus olhos se escondiam atrás de um Rayban preto. Eu sabia que ele estava irritado, mas seu silêncio me intimidava. Ao invés de alimentar seu ódio, passei a encarar a mensagem de Zayn. Acho que já chega de ignorá-lo, né? Não gostei do fato dele não saber o porquê deu estar irritada, mas tudo bem. Ninguém é perfeito.

"Oi. Você demorou muito para me responder, mas tudo bem. Também estou com saudades, e acho que vou conseguir ir para NY no ano novo. Te aviso até o final da semana!", escrevi.

Por mais lisonjeada que eu estava com a proposta de Zayn, ele não podia vir para cá, por milhões de motivos. Primeiro, minha mãe achava que nós tínhamos terminado e que eu estou me apaixonando pelo Harry. Segundo, Harry já contou para ele que nós nos beijamos uma vez. Não dava para prever o que ele faria se visse Zayn ao vivo.

Harry continuava com o olhar fixo na rua, e eu comecei a ficar nervosa. Ele podia dizer alguma coisa, pelo menos. Jogar na minha cara suas razões, como ele sempre fazia. Esse silêncio era péssimo.

"Harry, o que há de errado?" Eu perguntei, mesmo que eu já soubesse a resposta. Ele bufou, rindo debochadamente.

"Você tá de sacanagem, não é? Eu te defendi e você quase foi atrás da Brooke. Você é masoquista, ou só que retardada?" Ele perguntou, e sua ofensa foi como um soco no estômago.

"Você foi muito grosso com ela..." Eu disse. "Você não pode tratar as pessoas desse jeito, falar que o que elas fazem de melhor é transar."

"O que que tem isso? Sabe, nem todo mundo gabarita todas as provas e entra para as melhores faculdades que nem você, Emma!" Ele grita, sua voz inundada de ódio.

"Isso não te dá o direito de falar isso para ela, Harry!" Eu grito de volta e ele revira os olhos.

"Ela nem ficou chateada." Harry dá ombros.

"Que?! Ela saiu da sala chorando, é óbvio que ela ficou chateada!" Protestei. Para mim estava bem óbvio que Brooke ficou ofendida. Qualquer uma ficaria! Harry não tem limites...

"Ah é?! Então por que ela acabou de me oferecer sexo por mensagem?" Ele perguntou, um sorriso presunçoso decorando seu rosto. Eu franzi o cenho, sem entender. "Veja por si mesma", ele disse, pegando o celular do painel e jogando no meu colo. Quando a tela acendeu, vi o nome de Brooke, e sua mensagem logo abaixo.

"Quer vir aqui em casa mais tarde? Meus pais estão viajando ;)", dizia o texto. Inacreditável. Ele humilhou ela e ela faz isso? Ela, sim, é masoquista, e não eu. Sabe, eu não tenho nada a ver com o que ela faz, e ela é dona do próprio corpo - ou seja, pode transar com quem quiser. Mas eu não entendo ela contatar Harry. De todas as pessoas, ela chama Harry, que acabou de fazê-la chorar.

"Viu? Ela não merece o seu pesar." Harry murmurou, e eu engoli em seco. Não sabia o que dizer.

"Não gosto quando você é grosso." Eu murmurei de volta.

"É quem eu sou. Não posso mudar. Nunca serei bom o bastante, lembra?" Sua voz era pesada, carregada de rancor e até o que parecia tristeza. Eu olhei para ele, mas sua expressão era a mesma. Era difícil desvendar seus sentimentos por trás dos óculos escuros.

"Harry..." Eu tentei me desculpar, mas não encontrei palavras. Não deveria ter dito aquelas coisas.

"Não importa, Emma. Você tem razão." Ele disse, sua voz agora vazia.

"Não, eu falei sem pensar... Estava com raiva, mas não é verdade..." Eu mordi meu lábio.

"Claro que é. Mas eu não ligo. Estou bem sendo o babaca que todos odeiam e todas querem transar." Ele disse, mas eu não acreditei em nenhuma palavra. Eu sabia que ele não estava feliz desse jeito, mas não podia forçá-lo a se abrir. Tem que partir dele. Fiquei em silêncio o resto do caminho. Algo me dizia que as vozes na cabeça dele já estavam perturbando-o demais.

*

Niall entrou no carro falando baixinho no celular, provavelmente para que eu e Harry não ouvíssemos, mas nós não estávamos interessados. Nossa briga recente estava ocupando a maior parte do meu cérebro, e acho que do dele também. Mas ele nunca admitiria isso.

Quando chegamos em casa, Harry parou em frente ao portão, ao invés de na garagem. Niall saiu, mas eu hesitei.

"Não vai entrar?" Eu perguntei, minha voz cautelosa.

"Não." Ele respondeu, seco, sem nem me olhar.

"Aonde você vai?" Questionei novamente.

"Por que você quer saber?" Ele me olhou, suas expressões rígidas.

"Só para... Saber." Eu dei ombros. Nem eu sabia o porquê.

Ele olhou para frente de novo. "Vou para a casa da Brooke."

Ai. Não sei por que, mas saber que ele ia para a casa da Brooke foi como um soco no estômago - o segundo do dia. Eu engoli a dor que subia, e assenti com a cabeça.

"Divirta-se." Eu disse, e me virei para abrir a porta.

"Espera." Ele me pediu, e eu me virei para ele. "Não vai tentar me convencer de ficar?"

"Não." Eu respondi simples.

"Por que?" Harry perguntou, e eu franzi a testa levemente.

"Por que eu tentaria?" Minha pergunta era sincera, e não irônica. Harry não era nada meu se não meu meio-irmão, e, por mais que eu não gostasse de imaginar o que ele ia fazer na casa da Brooke, não era como se eu tivesse uma autoridade sobre isso. Mesmo se eu falasse que não queria que ele fosse, ele me perguntaria o porquê, e eu ficaria sem resposta.

"Eu ficaria, se você pedisse. Você sempre fica quando eu peço." Ele disse, e eu tentava desvendar suas emoções por trás do óculos. Era difícil. Seu rosto estava relaxado, mas eu não conseguia entender o que ele queria com tudo isso.

"Eu não saberia explicar o porquê de eu querer que você fique." Eu falei baixo.

"Nem tudo precisa de motivo ou explicação." Ele repetiu sua frase, e eu lutei comigo mesma, tentando entender o que estava acontecendo, e porquê eu queria que Harry ficasse.

"Não vou te implorar para fazer nada, Harry, você deve fazer o que quer e o que acha certo", eu murmurei, e ele voltou seu olhar para frente, seus músculos resetando. Quando não recebi uma resposta, abri a porta e saí do carro. Fechei a porta, e Harry continuou em sua posição. Eu sabia que ele estava tendo sua própria batalha mental para decidir se ia ou ficava.

O carro deu partida, e saiu, sumindo em uma das muitas curvas de Belvery Hills. Queria dizer que Harry foi, sem mais nem menos, e que eu fiquei, e continuei meu dia, mas a verdade era que ele levou uma parte de mim com ele. Eu não sabia que parte era mas, conforme o dia passou, eu vi que era impossível viver sem ela.

SIX ➣ 1d fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora