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15 de dezembro de 2016

Varsóvia, Polónia

O dia anterior tinha sido incrível, ouvir as histórias de um veterano de guerra era simplesmente incrível, desde o quanto sofrera no campo de batalha até quando foi transferido para Bełżec, Heinz era um homem cheio de história dentro dele que tal como a da minha avó um dia se iria perder. No dia seguinte, ou seja, hoje, Sebastian prometeu levar-me a Bełżec juntamente com o seu avô, esperava na entrada do hotel abraçando-me a mim própria devido ao frio até que vejo o seu BMW parar à minha frente e entro rapidamente cumprimentando Mr. Brauer que se encontrava no banco da frente e Sebastian mete-se logo à estrada visto ser uma longa viagem, eram cerca das 09:30 da manhã quando partimos o que fazia com que chegássemos por volta do meio-dia.

-Quando é que voltas para Nova Iorque?- ouvi Sebastian falar o que me fez desviar o olhar da janela para o mesmo que conduzia com toda a atenção e voltei a olhar pela janela vendo a paisagem.

-Daqui a dois dias, tenho voo às 10:35 no dia 17. Já tenho saudades de Nova Iorque mas terei de voltar mais vezes à Europa, especialmente a Varsóvia.

-Será sempre bem-vinda menina Madison, não é Sebastian? Já devemos estar a chegar...

-Já alguma vez tinha regressado aqui depois da guerra Mr. Brauer?

-Não, nunca tive a coragem de o fazer... Mas hoje é o dia em que meto o medo de lado e vou enfrentar aquilo que aconteceu de realidade.

-Normalmente muitos dos veteranos de guerra recusam-se a falar ou até mesmo a relembrar-se do que aconteceu, especialmente o lado derrotado, mas porque o faz sem qualquer hesitação?

-Falas como uma verdadeira jornalista, sabes disso?- ouvi Sebastian comentar e ri-me do mesmo voltando a prestar a atenção no homem à minha frente.

-Nos inícios era difícil para mim falar de tudo o que aconteceu mas com o tempo eu apercebi-me de que aquilo tinha acontecido e de que era história, por isso não poderia guardar tudo para mim, talvez o meu testemunho fosse valioso.- disse rindo-se e sorri olhando agora para Sebastian que estacionava o carro até que desligou o mesmo, sai do veiculo apertando o casaco devido ao frio que se fazia sentir, senti o braço de Sebastian atrás das minhas costas e seguimos até a entrada do memorial, Mr. Brauer ia à nossa frente e quando se aproximou do memorial apenas encostou lá a cabeça, seguimos ambos atrás e Sebastian foi ver o avô enquanto eu me mantive parada à frente da entrada até que segui caminho pelo corredor onde os nomes de muitas das vitimas se encontravam e estes fizeram com que sentisse que ia cair a qualquer momento e mantive-me ali até sentir alguém chegar perto de mim e vi ser Sebastian.

-Tantos inocentes que foram mortos por nenhuma razão em particular...- disse olhando mais uma vez para o muro com os nomes voltando a olhar para Sebastian.- Como está o teu avô?

-Está lá fora a apanhar um pouco de ar, talvez a relembrar-se do que aconteceu aqui...E tu? Como estás?

-Pensava que ia ser menos doloroso, apesar de não ter sido eu a estar aqui durante a guerra isto faz parte da minha história... da nossa.- disse olhando para Sebastian que me observava.- Eu vou continuar a ver o memorial...

-Eu vou contigo...Vou só buscar o meu avô. Espera aqui.

Sebastian afastou-se para ir buscar o avô e eu mantive-me ali naquele corredor lendo os nomes na parede à minha frente acabando por me encostar há parede oposta ainda com o olhar fixo nas gravações.

" –Avó, ajudas-me no trabalho de história? É sobre a 2ª guerra mundial e tenho de falar dos campos de concentração. Posso fazer-te uma entrevista?- disse acabada de entrar em casa e de pousar a mochila no corredor seguindo para a cozinha.

-Olá querida, claro que te ajudo. Apôs o almoço tratamos disso.

--//--

-O que me queres perguntar?- ouvi a minha avó perguntar enquanto preparava o gravador pousando o mesmo na mesa e sorrindo-lhe começando com perguntas básicas como nome entre isso.

-E como era viver no campo de Bełżec?

-Bastante frio e sem condições, acredito que aconteceria o mesmo nos outros campos... Não nos davam de comer muitas das vezes e quando o faziam era pão duro... Foram tempos difíceis, todos os dias acordava sem saber se iria viver até o pôr-do-sol... Vivia todos os dias com medo de tudo, até o som dos pássaros já me assustava..."

O som dos pássaros acordou-me de uma espécie de transe e quando olhei para a entrada vi Sebastian com o seu avô, estes aproximavam-se de mim e segui mais à frente entrando numa espécie de museu que contava a história do campo, senti mais uma vez a mão de Sebastian pousar nas minhas costas mas desaparecendo rapidamente e segui vendo imagens e lendo sobre o que outrora aquele sitio tinha sido até que sinto alguém parar ao meu lado vendo ser Mr. Brauer que observava a imagem que antes estava a ver.

-Eu reconheço este sitio, passava todos os dias ali a caminho do campo de trabalho e...

-Para ver a minha avó?- disse olhando para a pessoa ao meu lado vendo-o assentir e voltei a encarar a imagem à minha frente.- Como é que se conheceram? Como é que se apaixonou por ela? Sendo isso contra o regime? Como é que isso aconteceu?

-Conto-lhe na viagem de regresso, prometo-lhe menina. Agora apenas tenho de lhe agradecer por me ter trazido aqui novamente, se não fosse por si nunca teria posto aqui os pés novamente, fi-lo por Eleanor como forma de a homenagear.

-Eu não fiz mais nada senão cumprir uma promessa. Senão o fizesse agora talvez nunca mais o faria, e fico feliz por ter vindo nesta aventura porque conheci pessoas incríveis...

-Como o meu neto...?- o mesmo disse e olhei para ele mas o mesmo sorriu afastando-se sem me dar tempo de falar e voltei a encarar aquelas imagens que a cada passo que dava era mais um aperto no coração até que senti novamente a mão de Sebastian nas minhas costas.- Tens um terrível hábito de meter as mãos nas minhas costas.- disse virando-me para o mesmo sorrindo-lhe e este sorriu-me de volta sem tirar os seus olhos de mim até que desviei os mesmos encarando agora uma caixa com o que me parecia arame farpado respirando fundo.

"-O que nos separava da liberdade era uma cerca de arame farpado."

Continuei a visita sempre ao lado de Sebastian e assim que acabamos esperamos por Mr. Brauer que falava com uma senhora de idade até que se despediu vindo ter connosco, quando saímos já era quase de noite e quando chegássemos a Varsóvia já seria completamente de noite, fizemo-nos à estrada e já a meio da viagem Mr. Brauer começou a falar sobre a questão que lhe tinha colocado no museu e toda a minha atenção foi depositada naquele ser que se encontrava à minha frente.

O segredo de BełżecWhere stories live. Discover now