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Eu e Julie tivemos toda a manhã no local do acidente a tratar da notícia sobre o mesmo e pela parte da tarde mantivemo-nos no escritório. O meu telemóvel tocou durante todo o tempo que estive no trabalho até que cheguei ao ponto de desligar o mesmo, não me conseguia concentrar no trabalho pois na minha cabeça imagens de Tyler apareciam como se me quisessem atormentar, Julie reparou mas fez questão de não me massacrar com esse assunto, encontrava-me sentada na secretária a olhar para a janela vendo que o tempo em Nova Iorque se encontrava cinzento ameaçando chover, acabei por pegar no diário que pertencia à minha avó enquanto fazia uma pequena pausa.

"20 de agosto de 1932

O Verão estava quase a acabar e os papás decidiram-me levar a mim e Mary até a casa de campo junto de Bordéus, eu adorava ir para lá para estar com os meus primos que vinham de Inglaterra e que me contavam sobre as novidades lá, às vezes parecia que vivíamos em mundos separados. A viagem era longa mas assim que chegássemos podíamos ir nadar para o lago enquanto os mais velhos ficavam no jardim a conversar normalmente sobre uma coisa ao que chamavam poltica...politica, não sei bem. Mary dormiu durante toda a viagem ao colo de minha mãe ao contrário de mim que ouvia as histórias do meu pai enquanto combateu na Grande Guerra, a minha mãe não gostava quando ele falava disso mas eu adorava ouvir as suas aventuras. Ele contava-me de quando combateu o exército inimigo ao lado do seu melhor amigo mas que perderam contacto numa das batalhas.

A tarde começava a cair quando chegamos a Bordéus e seguimos até a casa que ficava afastada da estação, assim que chegamos vi William ao longe atirar-se para o lago, seria a primeira vez desde que Mary nasceu que iríamos passar o Verão ali, corri até o lago mas sendo parada pela minha mãe que se aproximava do meus tios que tive de cumprimentar antes de ir ter ao lago, apenas William estava lá e quando perguntei por Thomas senti o meu corpo ser empurrado para a água ficando assim encharcada. Para ser sincera ainda estou a tremer de frio enquanto escrevo e espero que William tome banho..."

-Madison? Terra chama Madison?  Um rapaz deixou-te isto, talvez o tal Sebastian de que me falaste...- vi Julie entrar com um ramo de flores entregando-me o mesmo continuando assim o seu trabalho, olhei para as mesmas vendo serem rosas acabando por encontrar um cartão.

"Espero que gostes das rosas, assim que elas murcharem tudo mudara."

-Quem me dera que o meu namorado me trouxesse rosas ao trabalho... Que se passa? Parece que viste um fantasma. Tu não estás bem, tens a certeza que não queres ir para casa? Talvez seja melhor...- acabei por concordar com Julie, eu não estava mentalmente nem psicologicamente estável para trabalhar, pelo menos hoje.

Após pegar nas minhas coisas e descer até a entrada vi que me encontrava pronta para abandonar o edifício da redação, sai pouco depois seguindo caminho até a estação sentindo que alguém me seguia mas talvez fosse a minha imaginação, apanhei o metro que ia para Brooklyn que não demorou a chegar e entrei por fim no mesmo olhando à minha volta procurando por alguém suspeito mas não vi ninguém, acabei por sair pouco depois, segui até casa que pertencera à minha avó e quando por fim entrei liguei o telemóvel vendo 10 chamadas não atendidas de Sebastian, outras de Bat, Louise e Steve mais umas três mensagens.

Sebastian:

Madison, onde estás? Diz alguma coisa. Telefona-me.


Sebastian:

Por favor, já passaram horas desde que saíste de casa, liguei para o teu trabalho e disseram-me que saíste, onde estás amor? 


Desconhecido:

Gostaste das flores? Ele não te leva flores ao trabalho, eu poderia fazê-lo.
Brooklyn? Pensas que não te seguiria até aqui? Só há dois sítios onde poderias estar, casa ou Brooklyn. Lembro-me de estarmos ambos deitados no jardim da tua avó a ver os aviões, também te lembras amor?

Pensava que aqui todos os problemas fugiam mas era impossível, espreitei pela janela vendo alguém do outro lado da rua observar a casa e senti o meu corpo enfraquecer, caminhei até a sala reparando na caixa no chão não me lembrando de ter posto a mesma lá, voltei a colocá-la sobre a mesa procurando algo para me distrair, para não pensar em Tyler, em Sebastian, para fugir do mundo real até que encontrei uma pequena carta datada de 1946, segui até o sofá sentando-me no mesmo apesar do pó abrindo a mesma.

"Venho por este meio informar Senhorita Freud que fizemos todos os possíveis para encontrar o seu marido e filha mas após longos dias de procura acabamos por descobrir que o senhor Freud e sua filha, Mary Freud, foram mortos num dos campos alemães em Janeiro de 1940. Lamentamos a perda e dor que esta carta vos poderá causar a si e à sua filha, Eleanor Freud, que deterá a partir de agora a herança deixada pelo seu pai visto ser maior de idade e a única herdeira viva."

Fiquei por momentos a olhar para a carta na minha mão até que vi que dentro do envelope ainda se encontravam duas fotografias, peguei nas mesmas vendo serem de uma rapariga mais nova do que eu, a mesma era datada de 1939 como a outra que apresentava um homem que acabei por deduzir ser o meu bisavô e a irmã da minha avó, fiquei a olhar para a mesma vendo as semelhanças entre nós as duas mas a minha atenção é desviada e assusto-me quando ouço o telemóvel tocar de novo vendo ser Sebastian acabando por atender o mesmo.

-Finalmente atendeste Madison, começava a entrar em pânico. Onde estás?

-Em Brooklyn...

-Porque não me atendeste o telemóvel durante o dia todo?

-Eu... Podemos encontrar-nos aqui em Brooklyn?

-Anda para casa amor...

-Não consigo, por favor vem cá ter Sebastian... 

-Já estou a caminho.- Assim que Sebastian desligou o telemóvel recebi uma mensagem vinda de Tyler.


Desconhecido: 

Apenas gostas dele por causa do seu avô, apenas pela história de vida entre ele e a tua avó Madison, assim que ele tiver o que quer abandonar-te-à. Ele nunca te amará como eu faço, eu faço tudo por ti e ele não, ele não passa de um interesseiro que procura em ti uma maneira de se tornar cidadão americano. Depois não digas que não te avisei, eu apenas me preocupo contigo amor. Amo-te daqui à lua.

Após ler aquela mensagem fiquei petrificada, eu sentia falta da minha avó para me acalmar nestes momentos, após algum tempo no silêncio e no escuro visto ter anoitecido ouço a campainha o que faz com que o meu coração fique a bater a mil à hora, levanto-me aproximando-me da porte receosa mas assim que ouço a voz de Sebastian todo o meu corpo relaxa e acabo por abrir a porta abraçando-o quando este entrou e fechou a porta.

-Madison, sê sincera, estás naquela altura do mês para estares a reagir assim?- o mesmo perguntou mas apenas neguei ainda agarrada à sua camisola.- O que se passa amor? Ontem adormeceste a chorar, disse alguma coisa de mal no baile?

-Não foste tu.

-Então quem foi?

-Sebastian, eu ando a ser perseguida...

-Por quem Madison?

-Tyler... Ele ontem veio ter comigo, ele tocou-me e eu...eu não reagi, eu não consegui fugir... 

-Isso é muita coincidência amor, ontem falamos dele e ele aparecer? Tens a certeza que era ele?

-Não acreditas em mim?- perguntei afastando-me dos seus braços ficando a alguns passos de distância dele.- Desde que acabamos que eu sofro interiormente, tento afastá-lo dos meus pensamentos, quantas noites passei em vão por pesadelos, ainda ontem... Acordei a gritar de pânico, medo,... Eu nunca iria mentir sobre Tyler, eu quero-o longe de mim mas isso já não será possível, ele persegue-me há três anos, sabe toda a minha vida, rotina, amigos... sobre ti, ele já sabe sobre ti Sebastian... Achas que te mentiria sobre isto?

-Eu não estou a duvidar de ti amor... Eu apenas quero ajudar-te a suportá-lo, tu és a minha prioridade e estarás sempre em primeiro lugar, ajudar-te-ei naquilo que for preciso. Eu amo-te Madison e nunca, mas nunca, duvidarei de ti.- Sebastian disse aproximando-se de mim acabando por juntar os nossos lábios num simples e suave beijo.- Eu nunca o irei deixar aproximar-se de ti, nunca.

O segredo de BełżecWhere stories live. Discover now