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29 de janeiro de 1943

Varsóvia, Polónia

Os dias pareciam passar cada vez mais lentamente e todos os dias acordava com um medo terrível de a perder, nos últimos dias fui-me aproximando de Eleanor e acabei por ultrapassar o limite que me estava imposto, eu não podia sentir nada por ela mas aconteceu, Evelyn tinha razão, eu estava a apaixonar-me por Eleanor.

Acordei mais uma vez com aquela sensação estranha no peito e rapidamente me levantei, vesti o uniforme apressadamente correndo para o meu local de trabalho procurando por ela mas não a encontrava, tentava agir normalmente mas o pânico instalava-se um pouco em mim, segui até onde eram as câmaras de gás mas ela não estava na fila, andei por todos os cantos procurando-a até que junto das cabanas onde dormiam vi-a sentada contra a parede a chorar e caminhei até ela, toquei-lhe sobre o braço e a mesma estremeceu assustando-se e percebi o medo no seu olhar, ela tinha medo de mim.

-El...

-Afasta-te...Por favor...

-Não...

-Mata-me...

-Nunca...

-Porquê?- a mesma disse escondendo a cara no meio dos braços e segurei nos mesmos levantando-a e abraçando-a sentindo as suas lágrimas no meu pescoço.- Não quero viver mais...

-Não digas isso... Peço-te.

-Porquê? Eu não faço falta aqui...

-Porque se eu te perdesse o meu mundo acabava.- disse firme afastando-a e agarrando fortemente os seus braços fazendo-a olhar para mim.- Tu não vais morrer, não enquanto eu viver.- disse acabando por encostar o seu corpo à parede juntando os meus lábios aos seus que tanto ansiava sentir e quando me afastei a mesma desviou o seu olhar.- Eu amo-te Eleanor e não te quero perder. Promete-me que vais lutar para sobreviver, promete-me que no fim estarás lá para mim e eu prometo que estarei lá para ti. Promete-me...

-Eu prometo.- Eleanor disse firme e levei a mão ao seu maxilar agarrando-o levemente deixando um leve beijo sobre os seus lábios.

-Agora é melhor voltarmos, antes que duvidem... Não faças nenhuma asneira Eleanor.

-Quero ir embora, quero ver a minha família...

-Diz-me os nomes e eu procuro.

-O meu pai e irmã não estão cá...e a minha mãe foi transferida...Não vale a pena Heinz, acredito que já estejam mortos, já passou muito tempo desde que nos separamos...

-Elea...

-É melhor eu voltar antes que me matem realmente.- Eleanor disse tentando rir-se mas foi em vão, esta seguiu até o campo de trabalho deixando-me sozinho e fiquei por momentos parado a olhar para a parede até que decidi voltar para o meu posto de trabalho.

-Está tudo bem Heinz?

-Um pouco mal disposto nada demais... Isto já passa...

-Também me sinto sempre assim, é por causa do cheiro das câmaras. Hoje vens à vila?

-Não estou com vontade de beber...

-Tens de te divertir Heinz!

-No meio da guerra? Como consegues-te divertir ao saber que o teu país está em guerra?

-Não o faço, uso a bebida para esquecer que estou aqui preso e não a combater ao lado dos meus irmãos como tu já o fizeste, estou aqui a olhar para cadáveres ambulantes longe da minha família, da minha namorada... Eu uso a bebida para esquecer tudo o que me rodeia e devias de fazer o mesmo. Conselho de camarada para camarada.

-Obrigado mas dispenso os teus conselhos agora senão te importas eu irei voltar para o meu posto de trabalho.- disse passando por Adam e o mesmo agarrou-me no braço firmemente aproximando-se mais de mim.

-Eu vi-te com ela. Eu sei o teu segredo Brauer.

-Do que estás a falar?

-Da judia, 3429 se não me engano.

-Não conheço...

-Cuidado com as tuas escolhas Brauer, estás a brincar com o fogo.

O segredo de BełżecWhere stories live. Discover now