O segredo de Bełżec

16º

Verão de 1944

Bełżec

Como todos os dias nos últimos anos andava perto do campo de trabalho fingindo que procurava erros para castigar os prisioneiros, mas não conseguia ser mais aquela pessoa que era quando cá cheguei após ter conhecido Eleanor. Encontrava-me encostado a um muro para me proteger do sol olhando para Eleanor e por vezes a mesma desviava o olhar até mim sorrindo discretamente e acabei por ir ter com ela puxando-a como se tivesse feito algo de mal levando-a até à enfermaria que nos últimos dias tem andado vazia, tranquei a porta juntando o meu corpo ao de Eleanor colocando o mesmo em cima de uma maca intensificando o beijo mas o som de um alarme fez-se ouvir e separei-me dela.

-O que se passa?

-Não sei... Eu volto já, não faças nenhum barulho. Tentarei ser rápido.- disse deixando um leve beijo sobre os seus lábios saindo e trancando novamente a porta seguindo para o escritório onde recebíamos ordens, assim que a noticia foi nos dita cada pessoa foi fazer algo, aquilo que lhes competia e voltei para Eleanor que observava um pequeno móvel de medicamentos.

-O que aconteceu? Está tudo bem?

-Os exércitos soviéticos estão a avançar sobre os países de Leste. Em breve estarão na Polónia para libertar os campos e prender todos os que aqui trabalhavam...

-O que queres dizer com isso?

-Quero que fujas para longe e que sejas feliz.- disse rapidamente entregando-lhe o papel que escrevera à umas noites ficando a segurar as suas delicadas mãos, os soldados sentiam que o fim da guerra aproximava-se e tratavam de mandar notícias aos familiares.- Não olhes para o passado.

-O que te vai acontecer?

-Provavelmente serei morto, nas melhores das hipóteses preso.- olhava nos seus olhos vendo lágrimas se formarem nos mesmos e apenas abracei-a temendo o pior, perdê-la.- Faz o que te peço Eleanor... Esconde-te, eles vão tentar esconder as provas... Eleanor...- disse com a voz a tremer olhando mais uma vez nos seus olhos juntando os nossos lábios no que poderia ser o nosso último beijo e deixei as suas mãos afastando-me.

-Isto é o adeus?

-Temo que sim.- disse sem ser capaz de virar o meu corpo para ela saindo do local e seguindo o meu caminho sem olhar para trás.

Não demorou muito até ouvir as sirenes tocarem, encontrava-me sentado sobre a cama que me deram nos últimos anos ouvindo todos do lado de fora numa tentativa de apagar tudo o que aconteceu neste local, mantive-me ali, parado, até ouvir tiros vindos de longe e alguém gritar, levantei-me olhando pela janela vendo um exército avançar sobre Bełżec e sai rendendo-me deixando o meu corpo cair sobre a terra sentindo alguém agarrar-me nos braços e empurrar-me contra uma parede, olhei para o lado vendo a fila dos prisioneiros que finalmente estavam livres e no meio vi Eleanor que era empurrada por aqueles que queria escapar, quando por fim todos saíram e todos os soldados que estavam naquele campo foram levados para serem presos.

Passei depois desde esse dia cerca de dois anos preso na Polónia mas depois disso,aqueles que sobreviveram nas mãos dos soviéticos foram exilados e foi então que decidi ir para Inglaterra, foi lá que o meu pai encontrou a paz após a Grande Guerra e iria procurar a minha sabendo que Eleanor estava a salvo e que poderia viver feliz. Eu amava-a e percebi isso tarde demais mas se não fosse a guerra a juntar-nos nada o teria feito.