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O cheirinho de feijão recém temperado, minha mãe cantando alto lá da cozinha, os brinquedos do meu irmão espalhados pelo tapete enquanto ele tentava comer uma peça vermelha de lego

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O cheirinho de feijão recém temperado, minha mãe cantando alto lá da cozinha, os brinquedos do meu irmão espalhados pelo tapete enquanto ele tentava comer uma peça vermelha de lego...

Senti falta disso. Senti mesmo. E era disso que eu precisava, da minha casa.

A casa do Barbosa tinha um silêncio gostoso que nos primeiros dias me deixou muito feliz. Apesar dos pesares, foi bom ter um tempinho em "paz" lá. Também ia sentir falta desse silêncio em alguns momentos, mas nada se compara a barulheira da mansão poncio no mundo invertido.

Miguel notou minha presença assim que deixei minha mochila no chão. Ele me olhou com os olhos curiosos, como se perguntasse quem eu era.

ㅡ Ei, garoto. ㅡ me abaixei, passando o dedo na bochecha do mais novo que estava sentadinho no tapete. ㅡ Sentiu minha falta?

Achei que ele ia danar a chorar, como sempre fazia, mas ao invés disso ele abriu um sorrisinho me fazendo sorrir também. Mas o meu choque veio mesmo quando ele estendeu os bracinhos pra mim. Até arregalei os olhos na hora.

Antes esse garoto não vinha comigo por nada e chorava toda vez que eu o pegava no colo. O que tava acontecendo?

Não hesitei em pegá-lo e fui andando em direção à cozinha vendo minha mãe mexendo nas panelas. Limpei a garganta chamando sua atenção e ela se virou, tomando um leve susto ao me ver ali. Na verdade, tô começando a achar que o susto veio ao notar o mais novo em meu colo, e minha teoria se confirmou após ela abrir a boca.

ㅡ Que milagre é esse que esse menino tá no seu colo?

Ergui os ombros voltando a olhar pra ele que agora enfiava meu cabelo na boca.

ㅡ E eu não o ameacei pra isso, acredita? ㅡ brinquei fazendo ela rir.

ㅡ É o instinto de mãe dando as caras. ㅡ ela disse rindo e eu estalei a língua. ㅡ E como foi lá?

ㅡ Melhor do que eu esperava. ㅡ dei de ombros. ㅡ Mas senti falta se casa.

ㅡ Nós também sentimos sua falta. ㅡ disse sorrindo e se virou para as panelas de novo.

Confesso que fiquei surpresa com a confissão, até porque aqui em casa a nossa linguagem do amor era implicância e dificilmente tratavamos uns aos outros com carinho. Não lembro muito bem quando foi a última vez que recebi um abraço dos meus pais. Talvez tenha sido na minha formatura da faculdade.. Mesmo assim sabíamos do nosso sentimento um pelo outro e eu acho que isso era suficiente.

Era tipo, não te dou um abraço mas mato e morro por você.

ㅡ Cadê todo mundo? ㅡ perguntei, já que até então não tinha notado a presença de mais ninguém em casa.

Minha mãe abriu a boca pra responder, mas bem na hora ouvimos a porta da sala abrir e a voz do meu pai e da Gabi se fizeram presente no ambiente.

ㅡ Mas eu não tô conseguindo tirar o título, pai. Que culpa eu tenho? ㅡ Gabi perguntou indignada.

Pregnant | GabigolWhere stories live. Discover now