4 - Sophia

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A cama dele tinha um cheiro bom, o mesmo cheiro das camisas que ele havia me emprestado. Levantei e peguei os remédios que ele havia deixado na mesinha ao lado da cama com um bilhete.

"Tome esses remédios de 8 em 8 horas, entendeu?"

Ele falava comigo como seu eu fosse uma criança burra. Revirei os olhos e sai do quarto, não dormiria ali de novo nem que ele me ameaçasse. Tomei um banho e comi uma fruta. Lavei roupas e varri a casa, mas não havia mais nada para fazer. Sentei para ler mas não consegui me concentrar, que merda! Não conseguia parar de pensar nele sem camisa me prensando contra a geladeira.
Sério, eu ia ficar afim do cara que está me sequestrando? Bufei, largando o livro de lado. Eu nem vi o rosto dele, aposto que deve ser feio.

- Ei, Sophia! - Levei um susto desgraçado. Ele estava me olhando pelo lado de fora da janela. Não estamos no décimo andar? Fui até ele e olhei pela janela pela primeira vez, havia uma pequena sacada de ferro e uma escada que ia apenas para cima, para o terraço do prédio provavelmente. - Vem cá. - disse ele me estendendo a mão.

- Não acho que estou boa o suficiente pra pular a janela. - Menti. Ele cerrou os olhos percebendo meu tom de voz.

- Você tem medo de altura ou de estar comigo?

Revirei os olhos.

- Revirou os olhos para mim, Sophia? - Perguntou indignado, então me agarrou e me fez atravessar a janela para o lado de fora. Vi meus pés em cima das grades de ferro e o chão da rua deserta lá embaixo, fiquei tonta e me agarrei na cintura dele.

- POR QUE FEZ ISSO, IDIOTA? - Gritei, e o vi levantar as sobrancelhas surpreso com minha reação.

- Não é que você consegue falar alto? - Falou pegando minhas mãos e as colocando na escada. - Vamos subir, medrosa. Vou estar atrás de você, não vai cair.

Fechei meus olhos por instantes para tomar coragem, ele estava cercando meu corpo com o dele, respirei fundo e comecei a subir com ele. Ao chegar ao topo exclamei surpresa. Haviam plantas, muitas plantas. Terminei de me içar para o terraço e ele veio atrás de mim.

- São suas? - Perguntei fascinada. Haviam até mesmo pequenas árvores, alguns bancos de jardim e luzes.

- Uhun. - Respondeu ele com as mãos nos bolsos. O vento estava forte, bagunçando ainda mais seus cabelos negros. Avancei para uma roseira próxima e toquei na flor. Era tão bom ver e sentir algo além do que havia naquele apartamento.

- Por que está me mostrando isso? - Ele me olhava, ainda com as mãos nos bolsos. Era muito difícil identificar suas emoções através dos seus olhos escuros.

- Você estava entediada a ponto de querer morrer deixando uma infecção entrar na sua corrente sanguínea, então resolvi ser bonzinho. - Respondeu dando de ombros.

Bonzinho seria me libertar, mas não comentei isso. Não é como se ele estivesse sendo absolutamente mau comigo, na verdade. Claro que estava me mantendo presa e me obrigando a cozinhar, mas comparando a qualquer outro sequestrador até que tenho sorte em ele ser o meu.

- Posso mesmo te fazer algumas perguntas? - perguntei com cautela. Ele estava com ar de riso, mas não tinha como eu ter certeza com aquela máscara cobrindo metade de seu rosto.

- Algumas, pode.

- Quem é Marcela? - Havia mil outras coisas que eu queria perguntar, porque diabos essa foi a pergunta que saiu da minha boca? Mesmo com máscara vi que ele ficou claramente lívido e com raiva.

- Outra pergunta. Não vou responder essa.

- Estou segura com você? - Essa era uma pergunta que eu realmente queria fazer. No primeiro dia tive medo dele, mas esse medo foi embora bem rápido, eu não sentia que ele iria me machucar. Mas não tinha como eu ter certeza. E se um dia o sangue nas roupas dele fosse o meu?

Um vento forte bateu de novo, fazendo meus cabelos voarem e ele os acompanhou com os olhos. Suspirou.

- Se você prometer não fugir de mim. - Disse se aproximando e colocando uma das mãos em minha cintura. - você é minha agora, Sophia. Entende isso? Observe minha casa e verá que cuido do que é meu.

Seu toque pareceu me dar um choque, mas suas palavras me assustaram um pouco. Isso significa que ele tem um sentimento possessivo sobre mim? Significa que nunca vai me libertar?

Olhei ao redor e suspirei. O cheiro das flores era maravilhoso.

- Obrigada por cuidar de mim e por me mostrar esse lugar. - Falei com sinceridade.

- Pode vir aqui para ler ou para cuidar das plantas, se conseguir enfrentar o medo de altura. - disse ele se virando. - Vamos descer? Tenho um compromisso.

Descemos a escada com ele me cercando novamente. Na sacada me me levantou pela cintura com uma facilidade absurda e me passou pela janela, pulando logo em seguida.

- Como está seu machucado? - perguntou indo em direção ao quarto dele, respondi que estava bem e ele me mandou trocar o curativo a cada banho, se fechou no quarto por um tempo, ouvi o barulho do seu chuveiro e então ele saiu usando o capuz.

- Não sei se volto hoje, não faça comida para mim. - Passou por mim e saiu, trancando a porta atrás dele.
Suspirei frustrada. Sozinha de novo.

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