83 - Sophia

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Deixei meus amigos em casa e levei Gustavo para casa de Luke. Arrastei ele com grande dificuldade e o larguei no sofá, era o máximo que eu conseguiria devido ao seu peso.

- Hoje é meu último dia de vida. - balbuciou Gustavo tolamente.

- Não é não. Passou por coisas piores que uma bebedeira.- Respondi virando as costas e indo até a cozinha fazer um café para ele. Minutos depois ouvi o som de vômito batendo no chão e revirei os olhos.

Coloquei o café em um copo e enchi de açúcar. Levei para Gustavo, que agora estava sentado com os braços nos joelhos e a cabeça apoiada nas mãos.

- Sujei o tapete do Luke... - comentou com a voz abafada.

- É só um tapete. Toma. - falei lhe entregando o café. Gustavo tomou como se fosse um shot e me devolveu o copo vazio.

- Luke é ciumento com as coisas dele, vai me matar.

- Luke nunca te mataria. - Respondi rindo. Gustavo sacudiu a cabeça e disse algo que não pude entender. Apoiei o copo em uma mesinha e perguntei se ele precisava de algo.

- Preciso tomar banho mas tudo está girando. - Disse ele, e tinha total razão,  estava sujo de vômito e tinha uma mancha verde e laranja em sua camisa.

- Certo. - Respondi enrolando o tapete. - Espere um momento.

Levei o tapete para a lavanderia para lavar depois. Vômito não era algo que me incomodasse, eu pretendia ser enfermeira. Quando voltei Gustavo estava de olhos fechados no sofá e seu telefone estava tocando no bolso. Peguei sem que ele abrisse os olhos e atendi, era Luke dizendo que achou Júlia e logo voltaria para casa, me deixando muito mais tranquila. Ouvi Gustavo vomitar de novo e desliguei para cuidar dele.

- Vem... - falei passando o braço dele por meu ombro e o obrigando a levantar. - Não ligo de limpar vômito, mas agradeceria se você facilitasse meu trabalho vomitando no banheiro.

O peso de Gustavo era grande, e o cheiro de álcool invadiu minhas narinas, misturado ao perfume caro que ele costumava usar. Abri a porta do banheiro e Gustavo se atirou ao chão, abraçando a privada.

Me sentei na lateral da banheira e esperei até que ele esvaziasse o estômago.

- Se sente melhor? - perguntei quando ele finalmente parecia disposto a parar de vomitar.

- Não.

- Certo. - me virei e liguei a torneira da banheira, depois o ajudei a tirar a camisa. Gustavo estava de olhos fechados e com a cabeça virada para o lado, como se temesse que meu toque lhe desse choques. - Tem vergonha de mim? - perguntei.

- Não... é outra coisa. - Respondeu ele ainda de olhos fechados. Suspirei. Não dava pra tentar encontrar lógica nas atitudes de alguém bêbado.

- Consegue tirar a calça sem se estatelar no chão?

- Uhum. - Respondeu ele. Me virei de costas e esperei até ouvir o barulho de água sendo derramada. Quando voltei a olhar ele estava dentro da banheira, reclinado, segurando nas laterais e de olhos fechados. Sem perceber encarei seu abdômen que brilhava por causa da água, observei a cicatriz do tiro que ele levou por mim... a maior prova de que quando ele me ofereceu sua amizade estava sendo sincero.

- Por que não continuou se atracando com garotas ao invés de se embebedar? - perguntei.

- Qual o sentido de me atracar com garotas? - Respondeu abrindo os olhos.

- E qual é o sentido de se embebedar?

- Nenhum. - Respondeu mirando a água quente. - minha vida não tem sentido.

Franzi as sobrancelhas... Gustavo era sempre tão confiante e seguro de si. O que era isso agora?

- Quer conversar? - perguntei.

- Não. Obrigado.

- Somos amigos, não? Por que acha que sua vida não tem sentido?

Gustavo voltou a fechar os olhos e se reclinar.

- Sempre na sombra do meu pai, depois sempre na sombra de Luke. Ele virou um assassino por traumas? Eu virei apenas para segui-lo. Ele sumiu por anos enfiado em um apartamento do submundo? Fiquei sem rumo e fui seguir meu pai. Luke voltou? Voltei a fazer o que ele fazia. Luke decidiu levar uma vida normal? Lá vamos nós fazer o mesmo que ele. Meu melhor amigo de infância... sempre tão legal em minha visão. Mas me interessei pela garota dele...

Pisquei algumas vezes tentando processar o que ele havia dito.

- Ham...?

- Esquece o que eu disse, por favor. - pediu Gustavo e logo em seguida se abaixou até cobrir a cabeça de água. Observei por alguns segundos pensando que talvez ele pudesse se afogar, mas ele não estava tão bêbado assim, então virei as costas e saí do banheiro, fechando a porta atrás de mim.

Nota da autora: perguntinha... vocês querem que eu comece a postar a próxima história agora ou espere essa terminar? É um dark romance (mais pesado que esse) com fantasia.

PrisioneiraTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang