Prisioneira

85 - Gustavo

Após vomitar na frente de Sophia e dizer que tinha interesse nela, ativei o meu modo mais sonso e fingi não lembrar de nada.

Dias se passaram e passei a evitá-la tanto quanto ela me evitava. Luke estava estranhando nossa atitude, mas estava distraído demais curtindo o fato de perceber que não sentia falta de matar... Era engraçado que ele tenha precisado matar para perceber isso.

Acho que Sophia era o suficiente para preencher as lacunas emocionais em sua vida. Que merda. Eu nunca deveria ter posto os olhos nela.

- Quer jantar lá em casa quando fecharmos a loja? - perguntou Luke, tamborilando os dedos no balcão, completamente entediado.

- Isso é um encontro? - Perguntei com sarcasmo. Luke revirou os olhos.

- Sophia vai estar lá. - Comentou após algum silêncio, me olhando de lado pata ver minha reação.

- Legal.

- Você vai ou não, porra?

- Hum... vou estar ocupado. - Respondi sem olhar para ele, fingindo contar notas no caixa. Luke bufou e saiu de trás do balcão, começando a baixar as portas de metal e em seguida as de vidro.

Fechei o caixa e entrei nos fundos da loja para pegar minhas coisas, mas não pude sair pois Luke barrou a porta.

- Pode me dar licença, senhor guarda?

- Acho melhor você me contar o que está rolando. - Disse ele cruzando os braços. Luke tinha o costume de pôr medo nas pessoas sempre que quisesse, mas era um idiota em não perceber que isso não funcionava comigo.

- Pirou de vez? - perguntei cinicamente. - Do que você tá falando agora, coringa?

- Fez alguma coisa com a Sophia? Por que não querem se ver?

Passei a mão pela alça da mochila fingindo estar pensativo.

- Hum... deixa eu ver... - falei olhando para cima. - Com certeza eu não andei trancando ela num porão.

Luke rosnou sem abrir a boca e eu ri. Ele manteve o olhar ameaçador por um tempo, e eu o olhar cínico, então ele suspirou, desistindo dessa abordagem.

- Pode me dizer o que houve? - disse abaixando os braços em rendimento. - São amigos, por que estão se evitando? Sophia me questionou o motivo de eu não ter ciúmes de vocês juntos...

- E porque não tem?

- Eu deveria? - perguntou levantando as sobrancelhas.

- Você é tão possessivo que chega a ser tóxico, então porque não tem ciúmes de mim perto dela? - perguntei revirando os olhos.

- Eu deveria? - repetiu ele cerrando os olhos, que agora brilhavam ameaçadoramente.

- Eu já te falei que meu interesse nela era puramente amigável, não é?

- Sim.

- Pois eu menti.

Esperei Luke rosnar de raiva, ou achar que eu estava brincando, ou me ameaçar, mas seu olhar se transformou em puro choque.

- O que? - perguntou ele. Tirei a mochila e a joguei em um canto, achando que talvez essa conversa demorasse.

- Você não acha que estou brincando, não é? - falei sacudindo os braços. - Então talvez no fundo você sempre tenha desconfiado.

- Se eu tivesse desconfiado te manteria longe dela, Gustavo. - Respondeu ele alterando a voz.

- Não tenho culpa, Luke. - falei em voz alta. - Você também não se apaixonaria por Sophia se ficasse perto dela? Ah, espera aí... foi exatamente isso que aconteceu.

Luke avançou para mim e eu achei que ele fosse me bater, mas apenas aproximou o rosto do meu, exalando hostilidade.

- Sophia é minha. - Disse ele em voz baixa.

- Eu sei. - Respondi. Luke me avaliou por um instante e sua expressão suavizou.

- A quanto tempo? - perguntou.

- Não sei... mas só percebi recentemente, quando vi a relação de vocês evoluindo para algo normal.

- Você é um imbecil... - Disse Luke se afastando. Pegou a própria mochila e parou na porta. - Mas ainda é meu melhor amigo...

- Você não precisa se preocupar... - falei. - Eu posso reprimir isso. Eu nunca vou quebrar sua confiança.

- Assim espero. - Respondeu Luke indo embora sem olhar para trás.

Nota da autora: estou adiantando os capítulos, então não se esqueça de conferir se leu o anterior.