55 - Luke

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Pensei em segui-la, mas Sophia se trancou no meu antigo quarto e achei que seria melhor deixar ela se acalmar.

A campainha tocou novamente. Espero que aquela garota não tenha voltado. Tudo que eu menos preciso agora é de Sophia tendo crises de ciúmes.

Abri a porta e fui empurrado para o lado por Gustavo, que passou por mim olhando em volta.

- Sophia está aqui ainda? - perguntou.

- Olá pra você também. - Respondi rabugento, arrumando minha blusa. - Está. Ela só tirou o gesso hoje, ainda não está recuperada...

Gustavo me olhou de cima à baixo, então me segurou pela manga e me arrastou para a sala de estar.

- Mas que caralho...?

- Precisamos conversar. - Disse em voz baixa, parando em frente a estante de livros.

- Pois fale, senhor dono de toda a minha paciência. - debochei. Gustavo sorriu e aproximou o rosto ainda mais.

- Passei alguns dias no projeto do Ângelo. - disse quase sussurrando.

- Sério? - perguntei levantando as sobrancelhas. A última vez que Ângelo tentou me recrutar pra essa merda foi no baile de máscaras. Era difícil ser chamado novamente já que meu contato com ele era zero. No entanto... ele chamou Gustavo?

- Não é nada de mais... - falou Gustavo. - envolve intercepto de armas das forças armadas e etc. Nada muito... requintado.

- Okay... obrigado por matar minha curiosidade. - Respondi revirando os olhos.

- Não, Luke... não é isso que quero dizer. - disse Gustavo. - Ângelo ainda quer matar você, está sendo sutil, mas pretende te achar.

Gustavo conseguiu minha atenção com essa frase. Quando Ângelo queria me matar ele era um garoto, e após uma conversa bem longa, em que eu segurava uma faca na garganta dele, ele pareceu mudar de idéia. Mas agora ele tinha um negócio grande, funcionários e dinheiro... muito mais poder do que eu um dia poderia ter.

- Parece que vou ter que matar mais um parente do meu padrinho... - comentei. Gustavo franziu as sobrancelhas.

- Luke, enquanto você escolhia a dedo as pessoas que ia matar, ele reuniu os amigos do pai na base da lábia... e cumpriu tudo que prometeu a eles, afinal ficou rico.

Suspirei pensando em como gostaria de socar aquele cara. O pai de Ângelo era irmão do meu padrinho, e eu o matei. Ângelo veio até mim com dezessete anos e jurando vingança, lhe dei uma surra e cuspi verdades na sua cara, mas os anos passaram  e aparentemente ele pretendia manter o juramento.

- Ele realmente quer fazer justiça por aquele fodido do pai dele? Um estuprador de merda?

Gustavo deu de ombros, me perguntei por um segundo como ele havia descoberto isso, mas me lembrei no mesmo momento do carisma que ele possui. Descobrir coisas não é difícil pra ele.

Ouvimos a exclamação de Sophia na escada, Gustavo se virou para ela sorrindo e recebeu um grande abraço. Desviei os olhos com ciúmes.

- Ouvi a campainha. - disse ela.

- E veio ver se era a Liria? - perguntei, recebendo uma careta como resposta.

Os dois passaram o resto da tarde jogando jogos de tabuleiro na cozinha e comendo porcarias. Fiquei na sala bebendo e ouvindo as gargalhadas de Sophia.

Gustavo era tão assassino quanto eu, com a diferença de que ele matava qualquer um desde que fosse bem pago por isso. Então por que conviver com ele parece ser mais fácil do que comigo?

Quando anoiteceu eu já estava muito mais do que rabugento. Os dois apareceram na sala com ar feliz e Gustavo se despediu.

- Então você gosta de jogos de tabuleiro? - perguntei quando Sophia fechou a porta atrás dele. Ela se voltou para mim e o ar de riso em seu rosto já havia sumido.

- Sim.

- Você nunca me falou...

- E você nunca perguntou.

Nos olhamos em silêncio por um instante e então Sophia fez menção de ir para as escadas, mas me levantei e me pus em sua frente.

- Não. - Ela fechou os olhos e respirou fundo. - Não começa, Luke.

- Começar com o que? - perguntei fingindo inocência. Sophia sacudiu as mãos frustrada.

- Sophia... - falei agora em um tom de voz muito diferente. - Eu não tenho muita experiência em ser atencioso. Mas se você me disser o que posso melhorar...

- E então eu teria sempre que estar te dizendo o que fazer? - perguntou cruzando os braços. Me aproximei dela, que tentou recuar mas a segurei pela cintura.

- Só até eu aprender... - falei tentando olhar em seus olhos mas me distraindo com sua boca. - Eu quero te agradar...

Sophia levantou as sobrancelhas.

- Por que eu acho que essa frase tem duplo sentido? - perguntou.

- Porque tem. - Respondi. Sophia se irritou e tentou se desvencilhar, mas a segurei com mais força. Merda, eu não vou deixar ela escorregar das minhas mãos pra sempre.

- Luke... se você não me soltar eu vou gritar.

- Você pode gritar a vontade... - falei sorrindo. - na minha cama...

Sophia abriu a boca indignada e eu aproveitei a oportunidade para enfiar minha língua dentro e beijá-la. Ela deu alguns empurrões em meus ombros sem sucesso, eu apenas puxei mais o seu corpo para mim, beijando sua boca com ferocidade, aproveitando o sabor dos seus lábios, liberando todo meu desejo reprimido. Sophia parou de lutar e passou os braços em volta do meu pescoço, me abraçando e retribuindo o beijo.

Tive que usar de muito empenho para soltá-la. Minha vontade era mesmo levá-la para a cama e fazer com que gritasse.

A olhei esperando sua reação após o segundo beijo roubado do dia. Ela mexeu em meu cabelo e retirou as mãos como se levasse um choque, parecendo confusa e desconcertada, mas pelo menos não estava me empurrando.

- Fui o pior primeiro namorado que você poderia ter, não é? - comentei. Ela me olhou impressionada.

- Primeiro o que? - perguntou.

- Namorado. - Respondi. Neguei essa palavra por muito tempo, por que sabia que eu estava sendo a pior definição da palavra, mas a verdade é que éramos sim namorados. - Eu também não tenho experiência com isso, você foi a minha segunda namorada desde a adolescência.

Sophia abaixou os olhos. Segurei seu queixo e fiz com que me olhasse.

- Me dá a chance de ser um namorado melhor? - perguntei aproximando minha boca da sua novamente. Mas dessa vez Sophia se abaixou e desviou para o lado, fugindo dos meus braços. Passei a mão no cabelo, frustrado mas me divertindo.

- Você nunca me pediu em namoro. - Respondeu ela em pé na escada. - Não somos namorados.

Ela se virou e subiu as escadas, rápido demais pra quem estava machucada, e ouvi a porta do quarto batendo quando ela se trancou nele.
No dia seguinte eu chamaria sua atenção para não se esforçar tanto antes de estar sarada.

- Ainda, querida... - falei sorrindo.

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