75 - Luke

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Os dias se passaram do modo mais pacato possível. Dia após dia eu ia para aquela loja aturar clientes e esperar as horas passarem. Por sorte Gustavo se empenhava em atender os clientes para que eu não os espantasse.

- O que é isso? - me perguntou ele depois que um grupo de adolescentes, que passaram as últimas duas horas perambulando pela loja e fazendo perguntas, saíram levando apenas um pacotinho de cordas para violão. - Com essa cara parece que você está oferecendo uma facada de brinde para quem fizer uma compra.

- Eu deveria ter pensado melhor. - Respondi apoiando a cabeça no balcão. - Que merda eu estou fazendo? Odeio estar entre tantas pessoas.

- Se quiser voltar a se isolar e picar alguns caras de vez em quando, pode deixar que eu cuido da Sophia com tanto zelo quanto você. - disse Gustavo dando um tapinha em meu ombro.

- Quer perder os dentes? - ameacei me desvencilhando de sua mão. Ele riu e deu de ombros.

- Pare de fingir que é um puta de um azarado. - disse ele sentando e anotando a última venda. - Aposto que vale a pena sair daqui, buscar Sophia e passar todas as horas restantes do dia e da noite com ela... principalmente depois de tudo que você já fez, né?

Cerrei os olhos para ele.

- As vezes parece que você não está brincando... - comentei. - Parece que você tem um interesse real nela.

- Ora... - Gustavo largou a caneta e girou a cadeira para me olhar de frente. - Uma gata ruiva daquela, e doida ainda por cima... eu tenho é inveja de você. Mas você pode ficar tranquilo, meu interesse na Sophia é puramente amigável.

- Sei...

- Eu gosto de flertar, você sabe... Até me ofereceria pra te dar uns beijos também se você não fosse me socar depois... ou se apaixonar.

Revirei os olhos. Gustavo tinha o dom de dizer coisas sérias seguidas de palhaçadas.

- Você tem sorte de eu gostar de mulher. - comentei rindo. - Você não me aguentaria.

- Ui ui. - Ouvi ele debochar enquanto me dirigia aos fundos da loja. Abri o armário, peguei um travesseiro e me atirei no chão, torcendo para o tédio me fazer dormir. No meu antigo apartamento eu costumava passar dias sozinho até achar algum cara para matar, ou ser contratado para matar alguém... porque então eu estava com tanto tédio em apenas ter que frequentar a droga de uma loja?

Horas depois, ou pelo menos foi o que pareceu, Gustavo entrou jogando uma sacola em cima de mim.

- Ficar cochilando enquanto eu me mato de trabalhar... que belo sócio.

Fingi não ouvir e abri a sacola. Havia alguns bolinhos e doces.

- De onde é isso? - perguntei.

- Aquele menina, aquela tal de Jéssica, sei lá, apareceu de novo perguntando de você. - Respondeu Gustavo enquanto vestia uma jaqueta. - Falei que você não estava e ela deixou os doces para eu te entregar.

Amarrei o saco e coloquei de lado. A garota era uma adolescente que não parava de vir à loja dar em cima de mim ou de Gustavo. Me coloquei de pé e vesti meu moletom.

- Vou buscar Sophia na faculdade, quer ir?

- E ficar assistindo os pombinhos? Não obrigado. - Gustavo vidrou os olhos por um instante e sacudiu a cabeça. - Estou evitando aquela amiga dela, aliás.

- Quem diria... - ironizei. Saímos da loja, Gustavo se despediu e entrou no próprio carro enquanto eu a trancava, quando entrei no meu carro ele já estava fora de vista.

Estacionei em frente ao prédio e vi Sophia cercada pelos amigos, ela estava sorridente e tagarela. Ao ver meu carro acenou para mim, beijou a bochecha dos amigos e correu em minha direção. Senti meu peito vibrar de ciúmes, não era fácil acostumar com tantas pessoas tocando no que era meu.

- Olá. - Disse ela ao abrir a porta e sentar ao meu lado, junto com ela veio uma brisa fria e seu perfume floral. Passei a mão por sua nuca e dei um beijo em sua boca, que estava fria devido ao clima. Sophia pareceu surpresa com o beijo intenso e repentino, mas em segundos cedeu e apoiou as mãos geladas em meus ombros, retribuindo o beijo molhado até seus lábios esquentarem com a temperatura dos meus.

- Hum, o que houve? - perguntou ela com as bochechas vermelhas quando soltei sua boca com uma mordida em seu lábio inferior.

- Senti sua falta. - Respondi ligando o carro. - Quer ir pra minha casa ou para os seus pais?

- Para a sua... - Respondeu ela apertando a mochila no colo e desviando o olhar para a janela. Sorri de lado, acho que eu a atiçei com esse beijo...

- Sim, senhora... - Respondi.

Nota da autora: Meus leitores são os melhores e mais pacientes. Como passaram o Natal? ❤️

Estou de folga (finalmente) e irei postar mais alguns capítulos hoje 🥰

PrisioneiraWhere stories live. Discover now