33 - Sophia

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Acordei com o som de vozes no corredor, que cessaram em seguida. Tentei me sentar e senti dor por todo o corpo. Mas que diabos? Levantei as cobertas e vi o estrago que Luke havia feito. Havia mordidas sujas de sangue seco e a pele em volta delas estava arroxeada, hematomas escuros circulavam minha cintura e o exterior das minhas coxas em formatos distindos. Os mais doloridos estavam quase pretos, os menores pareciam esverdeados ao redor. Meus pulsos estavam esfolados com a força com que ele amarrou minhas mãos.

Ainda assim... ainda assim eu acho que Luke não usou a força que realmente queria.

Desci da cama e senti uma dor forte na parte de trás das coxas, olhei e vi que Luke havia mordido até seus dentes entrarem ali também.

Canibal.

Tirei os lençóis sujos de sangue e levei para o cesto no banheiro. Deixei a banheira enchendo de água quente enquanto limpava o sangue das mordidas com uma gaze molhada.

- Boa tarde, leãozinho. - Luke estava parado na porta, de braços cruzados. Um sorriso brincando em seus lábios. - Quer ajuda?

- Já não fez o suficiente? - perguntei revirando os olhos. Luke se aproximou e tomou a gaze da minha mão.

- Foi você quem pediu. - falou em voz baixa, limpando a mordida em meu pescoço. Olhei para ele tentando decifrar sua expressão. As cicatrizes em seu rosto estavam bem aparentes na luz morna do banheiro, mas não atrapalhavam em nada sua beleza. Ele devia ser bem vaidoso para achá-las feias. Luke jogou a gaze fora e molhou outra, começando a limpar a mordida em meu seio. Doeu e eu fiz uma careta. - Não precisamos fazer desse jeito se não quiser... eu também gosto do modo como sempre fizemos.

- Quando transou com a Sarah pegou ainda mais pesado, não é? - perguntei. Luke segurou em meus ombros e me virou, se abaixando para limpar minhas coxas.

- É diferente. - Respondeu.

- O que é diferente? - perguntei, começando a ficar com raiva, gerada por um provável ciúme. Luke deu uma risada.

- Nunca senti pela Sarah o que sinto por você. - Ele parou de passar a gaze, senti seu dedo deslizar por cima de uma das mordidas, me causando tremores de dor e me deixando levemente excitada, então Luke deu um beijo no local e se levantou. - Quer ajuda pra tomar banho?

- Não, obrigada. - Respondi, não confiando em minhas ações caso Luke continuasse deslizando os dedos por meu corpo. Entrei na água e ao submergir todo o corpo dei um gemido alívio. Luke me olhou como se fosse um predador e eu uma presa muito fácil.

- Hum... - exclamou Luke, voltando a si com uma sacudida de cabeça. - venha lanchar com nossas visitas, já que perdeu até o almoço, dorminhoca. - e saiu, fechando a porta atrás de si.

Terminei o banho bem rápido pois a água quente estava dilatando meus vasos sanguíneos, fazendo sangue voltar a sair das mordidas.

"O que sinto por você", e o que ele sente por mim, afinal?

Era sorte estar frio, vesti uma calça jeans e um moletom do Luke, tentando esconder os hematomas.

Desci as escadas tentando disfarçar a dor a cada passo e encontrei todos na cozinha. Os seguranças estavam de pé dessa vez, Sarah deu um sorriso receptivo ao me ver. Falsa.

- Olá, minha querida. - disse Mathias com um gesto para que eu me sentasse. - Espero que Luke poupe sua energia hoje a noite, pois irei embora amanhã e espero poder me despedir.

Falou isso sorrindo como quem comenta o clima e empurrou um prato de torradas na minha direção ignorando o rubor em minhas bochechas.

Luke arrastou a cadeira para meu lado e começou a passar manteiga nas torradas e jogá-las em um prato menor para mim. Não era cavalheirismo, ele sabia que esse pequeno serviço faria as mordidas em meus seios doerem.

Mathias fez sinal para os seguranças saírem, e se serviu de café.

- Como você deve saber eu criei esse menino como filho - continuou Mathias. - já que o pai dele virou um bêbado quando a esposa faleceu...

Olhei para Luke, que estava agora servindo leite para mim sem levantar os olhos, claramente desconfortável. Eu não sabia, é claro... não sabia nada sobre Luke.

- Eu não meço e nunca medirei esforço para ajudá-lo. - Mathias agora apontava uma espátula suja de manteiga para mim. - Espero contar com você para lembrá-lo disso.

- Padrinho...

- Ele tem o costume de achar que não merece a ajuda de ninguém, ou que não precisa.

Luke parecia uma criança que estava sendo constrangida na frente dos amigos.

- Tá bem, ela já entendeu. - Disse Luke, pegando a jarra de café e misturando ao leite em minha xícara.

Entendi mesmo, ele viajou por horas para passar duas noites em uma casa no meio da floresta, apenas para saber se Luke estava bem. Tudo bem que era uma casa bem confortável, mas ainda assim...

Tomei meu café devagar, descobrindo que minha garganta doía ao engolir, graças a noite anterior. Ouvi eles conversarem sem participar, prestando atenção em apenas algumas coisas. A primeira é que Sara iria ficar aqui uns dois dias a mais depois que Mathias fosse embora, para ir até a vila descobrir se ligaram a foto da menina desaparecida na TV à Luke e eu, ou se o garoto que invadiu meu quarto andou falando algo por lá, e para pegar a moto de volta, se possível. A segunda coisa era Luke perguntando se Ângelo voltou a aparecer. E a terceira era as insinuações de Mathias para que Luke usasse a casa do pai dele, que estava vazia, para que pudesse voltar à sociedade.

Quando terminamos de comer Mathias fez Luke procurar uma vara de pesca no armário de vassouras e um pote com iscas artificiais, agradeceu e saiu para pescar no lago, sendo seguido por seus seguranças.

- Ele tem medo de ser atacado pescando na floresta? - perguntei e Luke apenas sorriu, segurou em minha mão e me levou para o quarto.

- Descansa mais um pouco, leãozinho. - Disse ele pegando um lençol limpo e forrando na cama, depois pegou outra coberta e trocou as fronhas dos travesseiros.

- Deita comigo? - pedi. Luke terminou de pôr a última fronha e me olhou. - vamos conversar.

- Conversar? - ele deitou e abriu os braços, fazendo sinal para que eu me encaixasse ali.

- Não sei nada sobre você. - respondi, tirei a calça jeans e depois deitei, sendo envolvida por seus braços.

- O que você quer saber?

- Tudo.

- Tudo é muita coisa.

- O que você pode me contar então?

- Hum... - Os olhos de Luke vagaram para o teto, pensando. - Meus padrinhos eram amigos de infância dos meus pais, como você ouviu agora a pouco na mesa, meu pai virou álcoolatra quando minha mãe faleceu, eu tinha dez anos. Meu padrinhos assumiram minha criação. Quando eu tinha dezesseis anos algumas coisas aconteceram, sobre isso não quero falar, mas resultou na morte de alguém que eu amava e nessas cicatrizes, e também resultou na pessoa que sou hoje. - Luke olhou para mim, esperando minha reação. Então ele ganhou essas cicatrizes tão novo? A pessoa que ele é hoje... Isso significa um assassino?

- Sinto muito! - falei com sinceridade, ele sorriu e beijou minha testa.

- Você não precisa sentir nada, eu não mereço.

-Eu te amo, Luke. - Falei sem pensar.

- Eu sei. - Luke respondeu parecendo ficar triste.

PrisioneiraWhere stories live. Discover now