52 - Luke

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Quanto sangue já esteve em minhas mãos? Eu perdi a conta... e até agora eu só havia me importado com o sangue de uma pessoa.

Quando matei Marcela senti o sangue dela em minhas mãos por meses, até que comecei a matar outras pessoas para substituir a sensação de seu sangue por outros... mas agora acho que essa sensação nunca vai sair.

Gustavo dirigia enquanto eu encarava minhas mãos, ele havia me obrigado a entrar no carro e eu não estava em condições nenhuma de prestar resistência.

- Você toma um banho e a gente volta pro hospital... - falou me olhando de esguelha, sem tirar a atenção da estrada. Acenei em concordância. Ao chegarmos na minha casa Gustavo foi direto chamar Mike para lhe dar comida. Músicas de Natal tocavam ao longe, nas casas vizinhas.

É, acho que vou sempre odiar essa data, e agora provavelmente Sophia odiará também.

Entrei no chuveiro e apoiei os braços na parede, observando a água avermelhada escorrer até o ralo.

Quando Sophia acordar não irá querer me ver... e eu terei que deixá-la ir. Provavelmente serei preso, pois qual explicação ela dará por estar desaparecida faz um ano além de dizer a verdade? Isso não me incomoda, aliás... sempre achei que seria preso um dia. Mas não quero estar longe dela.

Pensei no filho que poderíamos ter tido e o que isso mudaria em nossas vidas, senti lágrimas queimarem meus olhos novamente. Porra, se eu não conseguir lidar com isso como Sophia irá?

Imbecil... talvez Sophia lide com isso muito melhor do que eu. Ela é mais forte, centrada... e sua mente não está explodindo de loucura e medo como a minha.

Saí do banho e fui até meu antigo quarto me vestir e pegar algumas coisas para que ela não precisasse ficar usando as coisas do hospital.

Peguei travesseiro, cobertor e algumas roupas. Abri meu antigo armário em busca de mais algo que pudesse ser útil e vi um enorme urso de pelúcia que eu costumava dormir abraçado na infância. Eu nem lembrava que isso existia. Parece que Sophia o limpou e colocou dentro de um saco plástico para evitar poeira quando arrumamos a casa. O peguei para levar para ela.

Gustavo levantou as sobrancelha ao me ver chegando próximo ao carro com os braços carregados. Com muito esforço tirei a chave do meu carro e joguei para ele.

- Vamos no meu, o seu tá imundo. - falei.

Ele deu de ombros e entramos no carro após eu colocar as coisas no banco de trás.

Ao chegarmos no hospital fomos informados que ela ainda estava sendo tratada. Esperamos no carro e vimos o natal ir embora conforme a noite passava e o dia vinte e seis chegava.

Uma grande apatia se abateu sobre mim e Gustavo não insistiu em me fazer conversar, apenas ficou ao meu lado aguardando.

Esse era um dos motivos pelo qual eu estava sempre disposto a ignorar suas provocações... Gustavo era o melhor amigo que eu poderia ter arrumado. Quando minha mãe faleceu ele não saiu do meu lado por dias, e quando matei Marcela ele foi o responsável por me manter vivo, pois tentei diversas vezes me matar pela culpa que sentia.

Na manhã do dia seguinte Gustavo saiu do carro e voltou com lanches e água. Aceitei apenas a água e entrei no hospital em busca de informações. Sophia seria transferida para um quarto normal no dia seguinte, hoje ela ficaria sob supervisão. Mandei que Gustavo fosse para casa descansar mas ele se recusou e fomos para a sala de espera.

Mais um dia e uma noite passamos alí até que fomos informados que Sophia estava em um quarto privado. Peguei as coisas no carro e fui até ela, que estava dormindo.

PrisioneiraWhere stories live. Discover now