82 - Luke

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°°° conteúdo que pode gerar gatilho °°°

Júlia não havia mandado uma mensagem completa, mas o que ela escreveu parecia bem claro para mim.

Desviei das pessoas que esbarravam em mim, olhando sempre ao redor. Ela era baixinha mas era facilmente reconhecível. Perguntei por ela para algumas pessoas que eu sabia terem contato com o grupinho de Sophia. Na área externa ninguém a via tinha um tempo. Tentei entrar na área fechada, onde ficavam cozinhas e quartos no clube, mas fui barrado por funcionários que faziam papel de seguranças.

- Não é nada pessoal. - Disse um deles. - É que a maioria dos universitários querem usar essa área de motel. Estamos aqui para impedir... a mando dos professores.

- Tudo bem. - Respondi.

Dei a volta na estrutura, e vi que havia janelinhas que davam para possíveis banheiros. Apoiei as mãos em uma delas e suspendi o corpo para olhar através. Havia uma pequena salinha com cadeiras. Olhei ao redor tanto dentro quanto fora para garantir que ninguém olhava e dei um soco, quebrando o vidro. Se Júlia não estava lá fora, provavelmente estava aqui dentro. Passei meu corpo pela janela pequena e pulei para dentro. Que bom ter malhado menos nos últimos tempos, ou meus braços me fariam entalar.

Abri a porta da sala e saí para um corredor. Havia claro movimento e vozes pelo ambiente, passei em frente a uma cozinha cheia de pessoas guardando utensílios. A festa já estava acabando, os funcionários estavam se retirando.

O celular da Sophia ainda estava em minha mão. Parei no meio do corredor e liguei para Júlia. No mesmo instante um celular tocou no fim do corredor, antes que eu chegasse na porta ele já havia parado de tocar. Ao me aproximar vi que era um banheiro, ela com certeza estava ali dentro. Bati na porta.

Silêncio.

Certo. Olhei ao redor. Pessoas passavam vez ou outra sem me dar a mínima atenção. Havia um banheiro feminino ao lado, entrei nele e olhei ao redor. Bingo. Havia um basculante para o outro banheiro, porém era muito pequeno para que eu passasse. Subi na privada e decidi ouvir antes de olhar.

Senti meu estômago queimar de ódio com o que eu ouvi.

- Shii... continua quietinha. - A voz de um homem dizia arfando e gemendo. - Continua quietinha sentindo eu te foder a força. Isso.

Abaixei a cabeça respirando fundo. Desci do vaso e voltei a sair do banheiro. Parei em frente a porta trancada. O fecho era daqueles de banheiros públicos, ou seja, uma merda. Chutei a porta com força e ela abriu.

Um homem de no máximo trinta anos prendia Júlia contra a pia e tampava seus lábios. As mãos de Júlia estavam amarradas com uma gravata e ela chorava. Ao me ver ele largou ela com pressa guardando o pau dentro da calça.

- Merda. - disse ele. - Não está vendo que estava ocupado, garoto?

Olhei para Júlia, que subia o short com dificuldades e chorava copiosamente.

- Vem pra cá. - falei pra ela. Ela correu para trás de mim e se encostou na parede. O homem a acompanhou com os olhos e me olhou receoso.

- Escuta, garoto. O que estavamos fazendo foi com consentimento. Não acredite se ela disser o contrário.

Andei até ele sem dizer nada. Ele me olhou curioso com minha atitude.

- O que você... - começou a dizer, mas não pôde terminar a frase pois o desmaiei com um soco.

Eu gostaria de matar esse fodido, mas eu iria me prejudicar se fizesse isso aqui. Virei para Júlia que chorava agachada no chão. Me aproximei dela e me abaixei.

- Além do que esse filho da puta estava fazendo agora... ele te machucou? Você consegue andar? - perguntei. Os olhos azuis da garota me encararam com vergonha e ela sacudiu a cabeça.

- Consigo andar. - Disse ela.

Estendi minha mão e ela pegou. Olhei porta afora, ninguém apareceu. Levei Júlia para o carro de Gustavo e a levei para o hospital.

Esperei apoiado no carro enquanto ela tomava os medicamentos necessários após um estupro. Antes de ela entrar perguntei se queria ir na delegacia e ela negou.

O celular de Sophia ainda estava comigo, então liguei para o celular de Gustavo.

- Oi. - Disse Sophia do outro lado. - Tudo bem? Achou ela?

- Oi, amor. - Respondi. - Achei sim, vou deixá-la em casa e vou embora. Gustavo está bem?

- Está... vomitando. - Respondeu ela.

- Não o deixe vomitar no meu tapete.

- Luke? O que houve com a Júlia - perguntou Sophia receosa. - De que professor ela estava falando? O que ele estava tentando fazer?

Suspirei sem saber o que responder. Chutei uma pedra quando vi que Júlia saía do hospital.

- Falo com você em casa. - Respondi e desliguei o telefone.

Júlia se aproximou de cabeça baixa.

- Obrigada. - Disse ela sem me olhar nos olhos. Eu estava acostumado a ver vítimas de estupro com vergonha. Agiam como se a culpa fosse delas.

- Não vai a delegacia? - perguntei. - Não vai dar parte dele?

Júlia começou a chorar. Era estranho como isso estava me afetando. Passei anos vendo pessoas chorarem antes ou depois de eu matar seus estupradores, mas essa menina... passei os últimos meses convivendo razoavelmente com ela. Era diferente quando era com alguém que eu conhecia... me lembrava Marcela.

- Se eu fizer isso... todos vão saber. - Respondeu ela entre soluços.

- Não se preocupe. - falei. - Entra no carro, vou te deixar em casa.

- Você... não vai contar para ninguém? - perguntou ela.

- Claro que não. - Respondi.

Assim eu posso matá-lo tranquilamente.

PrisioneiraWhere stories live. Discover now