18 - Sophia / Luke

6.7K 595 65
                                    

Sophia

Luke passou por mim na cozinha segurando o celular no alto da cabeça para tentar achar sinal. Ele fazia isso toda vez que ligava para o tal "padrinho". Eu achava engraçado.

Ouvi o grito dele de "yeah" vindo da varanda e então o som de sua voz mais baixo iniciando uma conversa. Tentei ignorar e comer minhas panquecas, mas eu estava entediada. Empurrei o prato e fui para sala ouvir a conversa.

- Pode transferir para o senhor os valores das compras que seu caseiro trouxe. E eu queria te pedir um favor...

Me aproximei mais da porta.

- .... uma moto sem placa... sem registro.

Ele estava se afastando da varanda, que merda. Desisti e voltei para minhas panquecas. Alguns minutos depois ele voltou e ao me ver parou e cerrou os olhos em minha direção.

- Sua fofoqueira.

- O que? - perguntei fingindo inocência. Ele apenas apertou os lábios e se sentou na mesa à minha frente.

- Está chegando o Halloween... - Comentou batendo os dedos na mesa.

- Não comemoramos o Halloween no Brasil. - Respondi.

- Sua mal humorada. Alguns lugares comemoram e nós também vamos.

Olhei para ele desconfiada. Querendo me levar em outra festa? A última resultou em meu segundo sequestro na vida.

- Sei o que está pensando, medrosa. Mas não está entediada? - Perguntoj franzindo a testa.

- Claro que estou!

- Obviamente poderíamos estar menos entediados se você me deixasse comer você, mas já que está toda cheia de dúvidas sobre a minha pessoa precisamos buscar algo para fazer. - Argumentou ele se reclinando na cadeira.

Fingi não ouvir o comentário sobre me comer. Terminei minhas panquecas enquanto ele me observava e me arrependi no mesmo momento por comê-las, pois não caíram bem. Empurrei o prato e olhei para ele, que ainda me encarava esperando resposta.

- O que você sugere?

- Tem uma vila razoavelmente próxima daqui, eu costumava ir lá pra pegar garotas quando era mais novo.

Revirei os olhos e ele deu uma risada.

- Não precisa ficar com ciúmes, medrosa. Aquele Luke não existe mais... só existe esse aqui, que está ficando louco de vontade de te devorar cada dia que passa.

- Não estou... Argh! O que tem lá?

- Uma vila, ora. Mas tem uma festa de rua de Halloween que enche bastante, podemos ir sem chamar atenção. Quer?

Com o passar dos dias convivendo juntos Luke foi ficando cada vez mais descarado nas palavras, isso me divertia, mas eu também me perguntava se não era unicamente devido ao tédio de não passar os dias fora de casa e voltar coberto de sangue. Ainda não o perguntei que tipo de pessoas ele matava, mas me questiono se ele não sente falta disso. Que tipo de diversão ele está procurando nessa festa e porque quer me levar?

- Temos fantasia? - Perguntei cedendo.

Ele abriu um largo sorriso, se levantou e beijou minha cabeça.

- Daremos um jeito. - Respondeu e se retirou.

*****
Luke

Dois dias se passaram desde que Sophia aceitou ir para a vila. O caseiro apareceu pela manhã trazendo uma moto na caçamba de sua caminhonete, com a placa clonada como eu havia pedido. Sophia o cumprimentou com um sorriso e perguntou seu nome, que era Lucas, me deixando irritado. Ele também tirou uma grande bolsa de dentro da caminhonete e entregou para mim, dizendo que a própria namorada o havia ajudado a escolher.
Sophia pareceu curiosa, mas antes que continuasse puxando assunto com ele eu a puxei para dentro de casa.

- Por que está sorrindo para um estranho?

- Ele não é um estranho, trabalha para seu padrinho. - Argumentou ela com inocência fazendo minha raiva se esvair. Por que eu estava com raiva, aliás? Sophia despertava sentimentos possessivos em mim.

Passamos os próximos dias revezando entre nadar e caçar. Sim, eu a estava ensinando a atirar com a desculpa de ser só uma caça. Sophia precisava aprender a atirar para sua segurança ao meu lado. E ela era razoavelmente boa.

No dia trinta e um de outubro lhe entreguei as roupas que Lucas havia trazido. Era só um vestido negro mais curto do que eu gostaria que ela usasse e botas, mas pela cara de alegria que ela fez parecia estar ganhando um vestido de diamantes. Coloquei apenas minha roupa de sempre com um blazer.

- Não estamos disfarçados. Não há máscaras? - perguntou ela fuçando a bolsa. Tirou maquiagens e tintas e sorriu. - Vamos nos pintar?

- Não quero usar máscaras perto de você, me impedem de te beijar. - Respondi sacudindo o cabelo. Ela abaixou o rosto para esconder as bochechas coradas.

Mais animada do que achei que ela ficaria ela começou a pintar meu rosto tagarelando sobre aula de artes, me lembrando do fato de ela ser só uma garota tão jovem.

Eu estava sentado beirada da cama e ela estava de pé encostada em minhas pernas. Mais próxima do que esteve em dias e usando essa porra de vestido curto e apertado... sem conseguir me conter segurei sua cintura com força.

- Luke, não! - Me repreendeu ela.

- Caralho, Sophia. Você está me torturando.

- Já acabei de te pintar. Agora é minha vez, com licença. - Disse ela tirando minhas mãos de sua cintura, pegando as maquiagens e saindo do quarto igual um furacão.

Respirei fundo e me levantei para olhar no espelho. Dei uma risada ao ver o resultado. O lado esquerdo do meu rosto, o das cicatrizes, estava pintado como a caveira da morte.

Nota: Estamos chegando no capítulo vinte. Uhul. Obrigada por acompanharem até aqui, ainda tem muita história pela frente 🥰

Lembre de apertar a estrelinha pra ajudar essa humilde autora kkkk 🙆🏻‍♀️

PrisioneiraOnde histórias criam vida. Descubra agora