44 - Luke

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Joguei a xícara na pia com mais força do que pretendia, fazendo ela se rachar. Se minha mãe fosse viva ela não iria gostar nadinha disso...

Fui ao banheiro e enfiei a cabeça na água da torneira tentando conter o estresse.

Por que caralhos eu não posso ser o suficiente pra essa garota? Eu poderia viver pra sempre só com ela ao meu lado, porque ela não pode sentir o mesmo?

Sacudi a cabeça, respingando água por todo o banheiro. Decidi dar uma volta e tranquei a casa ao sair, por via das dúvidas...

Caminhei pelas ruas molhadas, observando as recentes decorações de Natal. Minha infância foi a única época em que me importei com essa data, e agora ela servia apenas pra deixar Sophia melancólica.

Faz tempo que sinto uma pitada de loucura na personalidade de Sophia, caso contrário como ela se apaixonaria por mim mesmo sabendo quem eu sou? Bom, pelo menos parte de quem eu sou...

Tenho que lhe dar o devido crédito, Sophia não é pirracenta ou questionadora, ela sempre aguenta muito tempo e muita coisa sem reclamar.... Isso significa que para ela chegar ao ponto de se estressar assim é porque já está chegando ao seu limite.

O que acontecerá quando ela realmente atingir esse limite? Se ela é louca o suficiente pra me amar... seria louca o suficiente para fugir de mim?

Virei a esquina e vi Gustavo saindo de uma padaria com dois sacos de pão. Ao me ver ele abriu um sorriso e veio em minha direção.

- Fiquei esperando você me visitar. - falou tentando apertar minha mão e se atrapalhando com os sacos.

- Estive ocupado. - Respondi pegando um dos sacos de suas mãos para ajudar. Fiz menção de andar mas ele segurou em meu braço.

- Vamos levar para sua casa e lanchar com sua namorada. Estou me convidando. - disse andando na direção contrária. Franzi o cenho e o puxei pela camisa.

- Sophia não é minha namorada. - resmunguei. - E não vamos para lá, ela está nervosa.

- É mesmo? - perguntou ele suspendendo as sobrancelhas. - E o que você está esperando pra serem namorados?

Dei um muchoco. Não é como se as coisas fossem fáceis assim. Em casa temos a vida de um casal, mas chamá-la de namorada... daria uma falsa sensação de normalidade à nossa relação. Isso não existe entre nós. Eu a mantive presa e nos apaixonamos e agora ela é minha mulher... posso chamar essa bizarrice de namoro?

Gustavo me observou curioso enquanto andávamos em direção a casa dele desse vez.

- O que você fez, heim? - perguntou.

- A tomei de uns sequestradores e a mantive pra mim.

Gustavo estacou, me olhando incrédulo.

- Você a obriga a se relacionarem?

- Claro que não, seu imbecil. - Respondi revirando os olhos e andando na frente dele. - Eu a mantive presa na minha casa... nossa relação veio depois da convivência.

- Hum... - Respondeu Gustavo me acompanhando. - Mas e sobre mantê-la presa?

- Eu ainda o faço.

Gustavo deu uma risada sem alegria.

- Caramba, Luke... você só foi ficando cada dia mais doido, né?

°°°°°

Sophia mal falou comigo pelos dias que se seguiram. Respondia apenas o necessário e evitava meus toques, um dia pegou suas roupas e o gato e se mudou pro meu antigo quarto.

Tudo bem, eu nunca vou obrigá-la... posso fazer com que me queira de novo quando se acalmar.

A velha fofoqueira da Liz a visitava com frequencia, trazendo a neta timida que não parava de me comer com os olhos. Eu vi essa menina quando ela era criança, isso não me impediria de ficar com ela atualmente se eu simplesmente não fosse obcecado por Sophia.

Liz passava as tardes tentando contar fofocas para Sophia, que fingia estar interessada e revirava os olhos quando ela ia embora.

- Ontem ela quase me pegou sem peruca. - reclamou depois de fechar a porta.

Um dia, enquanto eu aparava as plantas no quintal ouvi a voz de Liz com mais alguém que eu não conhecia. Estaquei ao ouvir o que ela dizia.

- Eu tenho certeza que ela é a menina desaparecida que estava na TV à um tempo atrás.

Suspirei e espiei por uma fresta no portão. Ela estava apontando para a janela da sala, tentando mostrar Sophia para uma senhora que a olhava com descrença.

Droga de velha maldita. É uma pena, seu bolo era muito bom..



PrisioneiraWhere stories live. Discover now