31 - Sophia

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Estava deitada sobre o peito de Luke, que dormia a sono solto depois de termos feito amor de novo. Quando eu estava prestes a deitar ele se arrastou para o meu quarto. Foi a sexta vez no dia... ele estava ficando insaciável.

Apesar do cansaço físico eu não conseguia dormir....

Durante o jantar conversamos sobre os "adolescentes irritantes" que estavam na cachoeira, como Luke os chamou. Particularmente não os achei muito diferentes de mim, alguns até deviam ter a minha idade. 

Luke disse que sim, havia gritos nessa casa, pois há um porão onde seu padrinho resolvia pendências com algumas pessoas. O acesso ao local ficava em uma portinha atrás da casa, entre os arbustos. Ou seja, abaixo de nós havia um matadouro.

E eu nunca havia visto essa porta, é claro. Quem cuida das plantas é o Luke.

Eu sei que naquela porcaria de prédio em que vivíamos deviam acontecer coisas terríveis nos andares de baixo, mas por algum motivo isso aqui me perturbava mais. Luke frequentou esse lugar quando era criança, há fotos dele com a família, com amigos, com a tal Marcela, que eu suponho ser sua ex, sorrindo e brincando nesse lugar. Se na época em que ele era só um jovem normal coisas assim aconteciam ao seu redor... eu posso culpá-lo por quem ele é hoje?

Luke também não parecia preocupado com um bando de adolescentes descobrindo que a casa era habitada.

O dia amanheceu sem que eu pregasse os olhos, passei por cima de Luke, tomei um banho e desci as escadas para tomar café. Luke apareceu pouco tempo depois, jogando a máscara em cima da mesa e se servindo de uma xícara de café.

- Pra quê isso? - Perguntei olhando para a máscara.

- Se aqueles pirralhos forem da vila não podem ver meu rosto.

- Só existe aquela vila por aqui?

- Claro que não. Mas é o lugar habitado mais próximo.

- E ainda assim é bem longe... estamos mesmo no fim do mundo.

- Nem todo mundo pode ser divertir tanto quanto nós dois no fim do mundo. - falou piscando para mim. - mas até eu estou ficando entediado nesse lugar.

Ouvir isso me deu uma ponta de esperanças em Luke nos tirar daqui, mas também me deu medo... o que Luke fazia pra se distrair quando estávamos na cidade?

Percebi que Luke estava me avaliando e tentei mudar minha expressão, mas já era tarde.

- Você não iria querer saber... - Disse abrindo um sorriso.

- Eu não falei nada. - me apressei a dizer.

- Mas eu sei o que você pensou...

Revirei os olhos para ele e enchi o potinho de Mike com leite.

- Já que é um sensitivo tão bom, porque não me diz que horas aqueles jovens vão aparecer aqui?

- Respondona - Luke roubou o sanduíche do meu prato, deu uma mordida e saiu da cozinha o levando.

Bufei e preparei mais um para mim.

Ninguém apareceu o dia inteiro, mas no final da tarde enquanto nos beijavamos no sofá ouvimos barulho entre as árvores e vozes. Luke, que estava por cima de mim, se apoiou nos braços, olhando fixamente para a porta.

- Luke?

- Sophia, vai pro quarto. - falou em voz baixa.

- Por quê?

- Você está aparecendo na TV, lembra? E esse seu cabelo não é exatamente discreto. - Ao falar isso ele beijou minha testa e saiu de cima de mim. Me levantei olhando para ele meio desconfiada.

- Não vai machucar eles, né?

Luke me olhou com um sorriso.

- Por que eu faria isso?

- Não sei. São só adolescentes brincando de explorar...

- Exatamente, Sophia...

Ainda desconfiada subi as escadas para meu quarto, mas antes parei no corredor para ouvir. Luke abriu a porta e o ouvi cumprimentar as pessoas do lado de fora.

- ãh, não sabíamos que havia alguém morando aqui. - ouvi a voz de um garoto, parecendo sem graça.

- Me mudei a pouco tempo. Posso ajudar vocês em alguma coisa? - disse Luke. - É estranho um grupo de pessoas aparecer assim na porta da minha casa num lugar tão isolado...

- Não, não. - se apressou a dizer uma das garotas. - Que droga, Marcos.

- Nosso amigo cismou que essa casa era mal assombrada. Queríamos olhar. Desculpa. - Disse outra.

- Ah, a pessoa que me vendeu também disse isso. Mas posso garantir que não há fantasmas nessa casa. - Respondeu Luke rindo.

Tudo bem, pensei, e entrei em meu quarto. Mas dei um grito, pois tinha um garoto ali, que arregalou os olhos ao me ver.

Luke apareceu em poucos segundos.

- Que porra é essa? - perguntou para o garoto.

Eu... eu... - O garoto olhava de Luke para mim nervoso. - meus amigos iam tentar entrar pela frente e eu pensei em tentar a janela. Não sabia que tinha gente morando.

- Pela janela do segundo andar? - perguntou Luke cerrando os olhos.

- Sou bom em escalar. - Respondeu o garoto.

- Parabéns. - Disse Luke, parecendo usar todas as forças para não atirar o menino pela janela. - Que tal agora você se retirar da minha casa?

Luke acenou para a porta, e o garoto passou por nós, mas não sem antes parar e me encarar franzindo as sobrancelhas.

- Anda. - Rosnou Luke e o garoto apertou o passo. Permaneci no quarto e ouvi Luke ralhar com eles sobre invadir a casa de outras pessoas, batendo a porta da frente em seguida.

- São só adolescentes brincando de explorar, lembra? - falei ao descer e vê- lo se atirar no sofá de cara feia. Luke segurou minha mão e me puxou para ele, enfiando a cara em meu pescoço e respirando fundo em meu cabelo.

- O problema é outro.

- Qual? - perguntei.

- Ele te reconheceu.

PrisioneiraWhere stories live. Discover now