6 - Sophia / Luke

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Sophia

Luke passou os próximos dias em casa, mas mal falou comigo, a não ser para avisar que não me beijaria mais. Será que ele me culpava pelo beijo? Mas eu não fiz nada, ora bolas. No sétimo dia sendo ignorada e cansada de estar presa tomei coragem e pulei a janela para a grade de ferro e subi as escadas.

Foi mesmo muita coragem da minha parte pois tenho muito medo de altura, tanto medo que antes dele me obrigar a subir naquele dia eu nunca nem havia aberto as janelas. O tempo estava esfriando, nuvens carregadas passeavam pelo céu e era provável que eu pegasse uma chuva antes de descer. Meu Deus, eu teria coragem de descer sozinha? Evitei pensar nisso e passeei entre as flores bem cuidadas. Como um homem que vive de máscara, faz negócios com bandidos e chega em casa coberto de sangue poderia ter a delicadeza de cuidar dessas flores com tanto zelo?

Eu não sabia nada sobre ele, mas como eu poderia saber sem perguntar o que ele faz quando sai? E essa é justamente a pergunta que ele me proibiu de fazer... além da pergunta sobre quem é Marcela.

A chuva começou a cair levemente e eu suspirei, era bom sentir as gotas na minha pele, e o cheiro de terra molhada dos grandes vasos e canteiros das flores de Luke me invadiu trazendo a sensação de liberdade que eu tanto queria. Eu quase podia me imaginar andando pelo parque com meus amigos num dia chuvoso, ou assistindo meus pais pescarem em sua casa do campo.
Comecei a chorar e me debrucei sobre minhas pernas. Sentia saudade de casa e da minha família.

A chuva apertou e começou a relampejar fortemente, levantei o rosto assustada. Era melhor eu descer. Me aproximei da escada, mas ao olhar para baixo e ver as grossas gotas de chuva descerem até o chão distante daquela rua deserta fiquei tonta. Me afastei da beirada e um raio caiu ao longe. Merda, o que eu fui inventar de fazer aqui em cima?
Voltei para o centro do terraço com as plantas sacudindo violentamente ao meu redor, a chuva estava tão forte que eu mal enxergava um palmo à minha frente, o barulho do vento estava me ensurdecendo. Comecei a entrar em pânico, me abaixei perto de uma Oliveira e escondi o rosto nos joelhos, chorando.

Alguns minutos se passaram quando senti meus ombros sendo sacudidos violentamente, era Luke. Ele me agarrou pelos braços e me pôs de pé, eu chorava copiosamente então ele me abraçou. Fiquei em choque, ele estava mesmo me abraçando? Rodeada pelos seus braços e com o rosto escondido em seu peito o som da tempestade parou de me assustar e aos poucos parei de tremer.

- Consegue descer comigo? - Ele perguntou em meu ouvido. Confirmei com a cabeça, então ele me afastou gentilmente e me pegou pela mão. Descemos como antes, com ele me cercando com o próprio corpo, mas mais um raio caiu com um barulho ensurdecedor e eu paralisei fechando os olhos, não conseguia mais descer. Ele pôs as mãos em cima das minhas e encostou o rosto próximo ao meu ouvido. - Não vou te deixar cair, Sophia. Confia em mim.

Respirei fundo e continuamos descendo, apoiamos os pés nas grades de ferro e ele me ajudou a pular a janela.

Mesmo me sentindo segura dentro de casa eu não conseguia parar de chorar. Ele me olhava como se eu estivesse quebrada, e acho que estava mesmo.

- Sophia? - Me chamou pegando na minha mão novamente. - Sophia, você já está segura.

Vendo que eu não me acalmava ele me abraçou de novo e passou a mão pelo meu cabelo. Ficamos assim por vários minutos, até que eu finalmente não tivesse mais lágrimas para derramar.

- Vamos pôr uma roupa quente, okay? - Ele falou me afastando do seu abraço e me puxando para seu quarto. Fiquei parada próximo a porta enquanto ele pegava dois moletons e uma calça em seu armário. - Preciso arrumar roupas para você. - comentou pegando um par de meias. Jogou tudo em cima da cama e então tirou sua camiseta molhada e jogou no chão e começou a desabotoar a calça. Corei ao perceber que ele estava se despindo na minha frente e virei de costas. Ouvi sua risada e fiquei com raiva, ele fez isso para me provocar.

- Eu já falei que você pode me olhar se quiser. - Comentou rindo. - Tire esse roupa molhada e coloque essa que separei, okay? Não vou olhar se você não quiser, vou buscar alguma coisa quente pra beber.

Ele passou por mim e fechou a porta do quarto atrás de si. Conferi se estava mesmo fechada e então tirei minhas roupas molhadas e coloquei o moleton que me servia como um vestido e as meias. Mesmo com o moletom imenso dele eu me sentia nua sem roupas íntimas, mas não havia o que fazer, a única calça que ele me deu agora estava encharcada.

*****
Luke

Eu estava preparando café quando ela apareceu usando meu moletom, os cabelos compridos e molhados e o rosto vermelho de tanto ter chorado. Ela tinha um ar inocente e sexy, e essa era minha desgraça.

- Se acalmou? - Perguntei colocando uma xícara na mesa para ela.

- Sim, obrigada! - Respondeu com as bochechas coradas. - Por me ajudar e pelo café... e desculpa.

- Desculpar o que? - Ergui as sobrancelhas.

- Desculpe pela crise, eu só... minha cabeça não está funcionando muito bem.

Acho que tenho parte nisso, não é? Estou mantendo ela presa em um apartamento de seis cômodos a quase um mês. Por que não liberto ela? A resposta é bem simples, embora eu negue para mim mesmo.

- Não tenho nada para desculpar. - Respondi dando de ombros. Apoiei minhas costas na pia e cruzei os braços observando ela beber e evitar me olhar. Por que evitava me olhar? Ela garantiu não ter medo de mim.

- Sophia? - Chamei e ela mordeu o lábio. Se ela soubesse o que me deu vontade de fazer com essa boquinha vendo isso... - Por que tem medo de altura?

- Quando tinha cinco anos fiquei presa no topo de uma roda gigante com meu primo, ele ficava sacudindo o banco para me fazer chorar. - Respondeu ela sem titubear. Fiquei impressionado dela me contar tão facilmente.

- Aproveitando que estamos nos conhecendo melhor... qual sua cor favorita? - Perguntei. Ela me olhou de cima à baixo e então desviou o olhar com vergonha.

- Preto.

Essa garota...

- Não quer me fazer nenhuma pergunta? - Descruzei os braços e me aproximei da mesa. Ela me olhou nos olhos parecendo pensar se valia a pena arriscar.

- Posso perguntar qualquer coisa?

- Exceto aquelas duas perguntas que já mencionamos, pode. - Me apoiei na mesa e aproximei meu rosto do dela, curioso.

- Por que usa essa máscara? - Perguntou empurrando a xícara de café vazia. Suspirei. Bom, eu prometi, né?

- Alguns caras me deixaram com cicatrizes bem feias quando eu era mais novo. Não é uma imagem agradável, você não gostaria de ver.

Ela se levantou e eu a acompanhei com o olhar.

- Não é uma imagem agradável para você? - Perguntou ela cruzando os braços.

- Não.

- Mas você não pode responder por mim. - Falou ela parecendo repentinamente irritada. - Posso ver?

Ergui as sobrancelhas surpreso. Essa menina não é nem um pouco previsível.

- Ainda não. - Eu não estava pronto para ver as reações de nojo e pena, e até medo que as pessoas costumavam fazer. Não vindas dela.

Ela suspirou mas não questionou mais. Ela parecia estar sempre desanimada com tudo, então tive uma idéia, uma idéia muito arriscada.

- Vou te levar em uma festa.

- O quê? - Perguntou ela arregalando os olhos.

- Amanhã à noite. - Pisquei para ela e fui me deitar.

PrisioneiraWhere stories live. Discover now