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Os jornais estavam cobertos pelas notícias da família D'angelo, todos na cidade comentavam sobre o terrível incêndio acontecido durante a noite e as pessoas se perguntavam onde os três irmãos foram parar.

As senhoras mexeriqueiras espalhavam a notícia pelo bairro e todos tinham a mesma pergunta "onde os três irmãos foram parar?"

Foi encontrado apenas um corpo em todos os frangalhos da casa, já não sabiam mais onde encontrar o resto da família.

A fumaça tinha evaporado pela manhã, mas ainda se sentia o cheiro de madeira queimada.

Mas aliás, onde os três irmãos foram parar?



LETICIA

Observei atentamente os homens retirando as decorações do velório no jardim e coloquei a mão sob o peito para tentar acalmar as batidas desesperadas. Ainda não conseguia acreditar.

Ele foi embora para sempre, mas os toques dolorosos, a angustia e o desespero continuam a me preencher. Minha cabeça está uma confusão.

Me afasto da janela e olho a porta azul desgastada no corredor, minha respiração começa a falhar diante a todas memórias.



Os gritos de minha mãe preenchiam a casa, minha cabeça já doía com tanto barulho.

Aperto minha boneca de pano no peito e seguro as lágrimas ao máximo que consigo, tento guardar toda a dor para mim.

— Me diga a verdade sua desgraçada! — Papai gritou furiosamente.

— Eu não fiz nada Richard, juro — Ela chorava como uma criança.

Apesar deles estarem no andar de cima eu conseguia visualizar a imagem perfeitamente em minha cabeça. Eles deviam estar no quarto da porta azul, mamãe provavelmente estava caída no chão e papai devia tá com algum instrumento para bater nela, não quero imaginar como ficará os machucados no seu corpo amanhã.

— Richard! Por favor! — Seu choro era angustiante, mas ela pediu para que eu não fizesse nada referente a isso — Por fa...

Escutei um barulho alto e um terrível silêncio ficou no ar. Sem choro, sem pedidos de ajuda, apenas o silêncio.

Escutei os sons de passos na escada e assim que vi meu pai, me preparei para o que estava prestes a acontecer.



— Leticia pode descer! — Escutei a voz de minha mãe e apaguei as lembranças de minha mente. Afastei as lágrimas que se acumularam em meus olhos.

Engoli em seco e passei por aquele corredor evitando ao máximo olhar a porta azul. Preciso parar de misturar o passado com o presente.

Desci as escadas sem nenhuma pressa e olhei minha mãe me esperando na sala. Minha cara se fechou rapidamente.

Notei o quanto seu semblante estava péssimo. Os cabelos ruivos do mesmo tom que o meu estavam presos, as roupas eram todas pretas em respeito ao luto e suas expressões não eram nem um pouco boas, a quanto tempo ela não dorme?

— O táxi chegou para nos levar — Sua voz era uma melancolia preocupante.

— Vai mesmo me deixar na casa de completos desconhecidos?

— Eles são seus tios, Leticia.

— Eu nem os conheço.

— Tenho uma completa confiança neles e você sabe muito bem que esse não é um lugar ideal para você.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora