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LETICIA

— Se eu fosse você, não entraria aí.

Olho o homem a minha frente e tento controlar toda a surpresa dentro de mim, meu coração batia tão rápido quanto o relógio no final do corredor.

— Quem é você? — Pergunto para o homem que me analisava de cima a baixo.

— Leticia, certo? — Ele ignora minha pergunta.

— Eu mesma — Tento colocar a melhor expressão em meu rosto.

— Você... Cresceu, tá muito parecida com a sua mãe — Ele vai até a sala de jantar e eu o acompanho.

— Eu te conheço? — Ele abriu as portas e senti o aroma da comida, a aparência estava ótima.

— Senta — Quem ele pensa que é para mandar em mim assim?

Vejo o homem de semblante sério e roupas requintadas sentando na cadeira da ponta da mesa, eu poderia simplesmente dizer que ele era um anjo, sua aparência não negaria isso.

Cabelos pretos, olhos tão azuis quanto um mar cristalino e tudo em seu rosto se complementava. Bonitinho.

Vou até a outra ponta e me sento de frente a ele, a extensão da mesa impedia nossa aproximação.

— Sou o Lucas, seu tio — Confesso que uma parte de mim se sentiu surpresa. Na minha cabeça Lucas era um velho, ranzinza, rechonchudo. Vendo meu tio agora, ele só parece ranzinza mesmo.

— Pensei que ia me receber hoje — Comecei a me servir com a comida exposta a mesa.

— Tive alguns imprevistos no trabalho.

Ele tirou o blazer e percebi que seu porte físico não era tão ruim, mas tinha uma mancha vermelha em sua blusa branca social que me tirava a atenção.

Dei a primeira garfada no suculento frango assado e senti uma explosão de sabores, não estou acostumada com uma comida tão saborosa.

Ele observava cada movimento meu, como se pudesse decifrar quem eu era apenas por meus gestos.

Lucas pegou o prato e começou a colocar comida.

— Você cresceu mais do que eu imaginava — Não me lembro se já vi ele em algum momento da minha vida — Meus pêsames pelo seu pai.

— Obrigada — Enfia esses pêsames no rabo.

— Sei que esse é um momento delicado para você, mas precisamos falar sobre algumas regras dessa casa — Ele mordeu um pedaço do frango.

— Regras? — Estreito o olhar e tento descobrir do que ele estava falando.

— Sim — Ele encosta na cadeira e olha para mim — Existem regras nessa casa.

— Ah... Tudo bem e quais são? — Tento não me sentir nervosa já de início, é bom respeitar a casa dos outros.

— Vamos começar por sua etiqueta — Ele me olha e fico sem entender — Talvez você não tenha sido educada da mesma maneira que eu, mas têm coisas em você que me incomoda.

— Você me conhece a poucos minutos.

— E já vejo grandes defeitos — Respiro fundo e volto a escutar as babaquices de regras dele — Não ande pela casa durante a noite, não traga ninguém para cá, não saía de casa sem permissão e principalmente, não entre em lugares que não são da sua conta.

Isso é a porra de uma prisão?

— Só isso? — Tô tentando manter a educação.

— Saiba que vestimentas usar para cada situação — Olho o meu pijama.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora