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LETICIA

Existem momentos onde tudo ao meu redor parece se encolher até ficar minúsculo, as pessoas viram borrões diante dos meus olhos, a iluminação não passa de bolas flutuantes e até mesmo os sons se dissipam, exceto pelo meu coração... As batidas que aconteciam dentro do meu peito era a única coisa perceptível, podia sentir ele na garganta cada vez mais aumento o ritmo. E é nesses momentos que as lembranças viam, que tudo sobre meu passado circulava em minha cabeça e o arrependimento batia de uma forma tão forte que se tornava uma dor física.

As pessoas a minha volta não pareciam notar isso, ninguém sequer prestava atenção no que estava acontecendo, agiam de uma forma tão tranquila que me faziam acreditar que não existem dores na suas próprias histórias. Eu os odiava por isso, odiava a vida tranquila que todos levavam mesmo tendo feito coisas terríveis.

Afastei o tremor da minha cabeça e puxei o ar que já me faltava, tentei colocar a melhor expressão em meu rosto para que ninguém notasse os meus verdadeiros sentimentos.

Felicidade eterna. Foi isso que eles me prometeram e é nisso que eu preciso acreditar para me manter firme com todos os acontecimentos prestes a ser vivido.

Uma senhora muito bem vestida se aproximou de mim e foi a oportunidade perfeita para me afastar dos pensamentos.

— Senhorita D'angelo, devo dizer que seu baile está incrível — Coloquei um sorriso falso na boca.

— É mesmo? Fico feliz que tenha gostado, foi planejado nos mínimos detalhes — Nem mesmo sabia se isso era verdade, não planejei nada.

— Está incrível — Ela parecia tão simpática, mas ao mesmo tempo grandemente falsa — Sou Nilda Sherpes, prazer.

A mulher já carregava sinais de idade em seu rosto, tanto nos cabelos grisalhos quanto a flacidez das bochechas. Não era feia, parecia até mesmo requintada.

— O prazer é meu, senhora Sherpes — Apertei sua mão sem tanta força.

— Bom, agora que nos conhecemos preciso ser sincera com você — Ela se colocou ao meu lado e observou o grande salão — As senhoras da alta classe pensavam sinceramente que você não ia se misturar com a gente.

— Como assim? — Olhei para o topo das escadas em busca de algum sinal.

— Bailes, reuniões, festas... Elas acreditavam que a senhorita nem sequer daria um evento de boas-vindas para a gente, claro que eu fui a primeira a dizer que deveríamos da uma chance a você — Tinha dificuldades para acreditar nessa última parte — Mas pela sua idade ou demonstração de desinteresse pelos trabalhos dos nossos maridos, elas preferiram se fechar.

A conversa não estava sequer me chamando atenção, tudo que ela falava era como um zumbido de marimbondo aos meus ouvidos.

— Agora que você teve a ideia brilhante de fazer um baile de mascaras pode acreditar que todas elas querem conhecer você — Eu odiava essa puxação de saco.

Meus maridos apareceram no topo das escadas e me olharam, meu coração apertou com aquilo. Estava na hora.

— Por isso eu mesma fui enviada para te convidar para uma...

— Ah, senhora Sherpes peço perdão, mas infelizmente preciso sair agora.

— O que? Você nem sequer pode...

— Me desculpe, vamos retornar a essa conversa assim que eu estiver desocupada.

Me afastei da mexeriqueira e disfarçadamente fui até os corredores que davam acesso para as salas restritas, fiz de tudo para chamar o mínimo de atenção.

Quando estava prestes a virar o corredor, uma mão me agarrou e meu susto foi de imediato. Senti o alívio percorrer minhas pernas quando vi o homem ao meu lado.

— Estava com saudades? — Enzo abriu um sorriso para mim.

— Não acredito — Continuei seguindo meu caminho com ele ao meu lado — O que está fazendo aqui?

— Achou mesmo que aqueles dois te deixariam sozinha em um momento como esse? — O loiro rechonchudo colocou a mão na minha cintura e foi me guiando pelo lugar — Não se preocupe, ele deve está seguindo a gente nesse momento, Ben já está pronto para qualquer ataque.

— Têm certeza? — O fôlego me escapava.

— Absoluta, tudo será feito rapidamente e assim que ele estiver em nossas mãos vamos sair daqui.

— Ótimo — Segurei a vontade de olhar para trás.

— Ah e antes que eu me esqueça, — Escutei passos atrás da gente — Você não têm vergonha de pegar a minha idéia sobre o baile de máscaras?

A última coisa que consegui escutar além das palavras que vieram de atrás da gente, foi meu coração desesperado para arrancar meu peito e escapar da prisão angustiante que eu o prendia a tantos anos.

A voz de Richard preencheu meus ouvidos assim que chegamos no corredor sem saída.

— Não estavam fugindo de mim, não é mesmo?

Paramos de imediato, apenas para conseguirmos nos virar e vê o homem que estava diante de nós. Ele me deu um sorriso pavoroso.

— Richard... — Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Olá, querida.

Eu sabia que esse seria o plano, sabia que estava segura, mas eu não sabia que me sentiria tão fraca diante da imagem do velho. Por que eu me sentia assim quando estava com ele?

As lembranças da noite onde tudo começou vieram para minha cabeça. Ele me machucou naquele dia, muito mais do que eu gostaria de admitir.

Antes que o conhecido pudesse se aproximar vi a figura atrás dele se posicionar. Bruno não esperou mais nada para atirar em suas duas pernas.

O sangue de Richard se espalhou pelo carpete, antes que o velho pudesse cair no chão seu olhar veio até mim.

— Vadia idiota... — Ele desabou.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora