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BRUNO

A exaustão me consumia por completo, todo meu corpo queria apenas deitar na cama e capotar como eu merecia. O trabalho tinha sido puxado e sinceramente não lembro da última vez que pensei tanto, acho que eu só não queria voltar para casa mesmo.

O dia foi composto por muitas reuniões, revisões de papéis chatos e alguns adiantamentos de serviço. Pensei que no final do dia ia finalmente poder sair para beber alguma coisa com Lucas, mas não, ele decidiu ir embora mais cedo, então apenas me entupi de mais trabalho.

Terminei de trancar a porta principal e não me surpreendi com a escuridão e o silêncio que cobria a casa, já estava tarde.

Andei pelo hall de entrada e senti um olhar sobre mim, parecia perfurar até minha alma. Apenas fui até as escadas e quando subi o primeiro degrau a voz feminina me chamou, não foi uma surpresa.

— Bruno — Olhei para trás e vi a ruiva.

Sabrina usava um pijama fresco todo branco, seus cabelos estavam soltos e tinha uma diferença no tom de ruivo da Leticia. Com certeza não chegava aos pés da minha mulher.

— Precisa de alguma coisa? — Mantive a cabeça erguida.

— Podemos conversar?

— Sabrina, está tarde, recomendo que você vá para seus aposentos.

Tentei continuar meu caminho mas ela me impediu. Não era hora para conversas, eu estava esgotado de mais para aguentar isso.

— Espera! — Ela se aproximou — Temos que ter essa conversa, por favor — Suspirei fundo.

— Tudo bem, o que você quer? — A mulher pareceu sem palavras.

— Eu... Eu vou embora, Bruno.

Suas palavras saíram de uma maneira tristonha mas com certeza a luz que se iluminou dentro de mim foi como fogos de artifício explodindo de felicidade. Esse era o significado da paz?

— Isso é ótimo — Comentei contendo o sorriso.

— É, imaginei que você fosse ter essa reação.

— O que esperava, Sabrina? Queria que eu te implorasse para ficar, ou talvez que eu fosse correndo atrás de você como nos velhos tempos? — Ela engoliu em seco.

— Está mesmo apaixonado pela Leticia? Por que vai ser casar com ela?

— Despreza tanto a sua filha a ponto de pensar que alguém não consegue amar ela?

— Não é isso que estou falando, claro que não, mas... Por que ela?

— Isso não é sobre você.

— Levando em conta a mulher que você escolheu para se casar, acho que é sim.

— Não ouse se colocar no mesmo nível que Leticia, ela está em um patamar muito alto para ser comparada a alguém como você.

Meu coração explodiu com aquilo, as palavras tão frias e asquerosas de uma mãe. Como ela não enxerga o ser incrível que colocou no mundo?

— Meu deus, está mesmo apaixonado por ela... — Foi minha vez de ficar sem palavras.

— Boa noite, Sabrina.

Tentei subir mais um degrau mas seu murmurinho foi impossível de ser ignorado. Ela não queria encerrar a conversa.

— Leticia precisa de cuidados — Me virei em direção a ruiva — Ela pode ser... Sensível a algumas coisas.

— Do que tá falando?

— Talvez eu tenha percebido tarde de mais, as coisas que aconteciam na minha própria casa — Olhei os olhos dela cheios de lágrimas — Eu nunca quis ser mãe, não quis me casar com Carlos, Denise me obrigou, mandou eu te machucar e ficar longe de você.

— Sabrina...

— Eu estava encantada por ele, encantada por uma ilusão, até que Leticia nasceu, até que ele descobriu que ele não era o pai, até que... Ele a machucou.

— Do que você tá falando?

Algo dentro de mim estava desesperado, desesperado para entender sobre o que ela falava, entender quem tinha machucado Leticia.

— Eu tentei, juro que tentei, quando descobri tudo não suportei nada daquilo, então tinha uma varanda, estávamos discutindo e ele... Ele caiu e era tarde, era tarde mais.

— O que aconteceu, Sabrina?

As mãos dela tremiam, o pavor em seu rosto era perceptível, uma dor que quase me fazia sentir pena. Mas minha única preocupação era a minha menina, do que essa louca estava falando?

— Bruno, precisa cuidar dela, têm que prometer cuidar dela.

— O que tá...

— Prometa, prometa que vai cuidar da minha filha.

— É claro que eu vou, mas o que tá acontecendo?

Ela arrumou a postura e pareceu se recompor de tudo. Levou alguns instantes para que a mulher estivesse calma, estivesse fora da sua própria mente.

— Desejo felicidades a vocês e peço desculpas pelo que fiz... Boa sorte Bruno.

Sabrina se afastou me deixando coberto de incertezas, perguntas e com certeza muitas dúvidas. Eu queria ir atrás dela, exigir uma explicação mas aquilo era de mais para minha mente.

Precisei do meu próprio momento para voltar a seguir o meu caminho e subir toda a escadaria. Até chegar no meu quarto.

Isso sim tinha sido uma surpresa, entrar no cômodo e vê os dois lá. Lucas e Leticia estavam sentados na minha cama com um pote de sorvete nas mãos, os problemas fugiram rapidamente.

— O que estão fazendo aqui?

A ruiva levantou de imediato e me abraçou, ela cobriu meu rosto de beijos e precisei raciocínar aquilo. Olhei Lucas nos observando, ele tava... Bonito, claro que tava.

— Ei, boa noite pra você também — Afastei a garota do meu corpo — O que estão fazendo aqui?

— Bom, imaginamos que você estaria cansado então trouxemos sorvete para conversámos.

— Sorvete?

— É uma coisa nossa para ajudar — Foi a vez de Lucas explicar.

— Então, por que não vai tomar um banho enquanto a gente te espera aqui?

Olhei Leticia vestindo uma camisola curta cor de rosa e logo depois passei os olhos para Lucas vestindo apenas uma calça moletom. Isso era suspeito.

— Não vamos transar, né? — A ruiva revirou os olhos.

— Não, Lucas mandou eu me comportar — Deixei uma risada escapar.

— Tudo bem então.

Fui até o moreno e vi ele ficar confuso com minha aproximação, seu corpo ficou ainda mais tenso quando juntei nossos lábios. Eu queria os dois.

— Vai ter que se acostumar com isso — Sussurrei no ouvido dele.

— Filho da...

— Não ofende minha mãe.

Me afastei do homem e fui em direção ao meu banheiro. A única coisa que ouvi no final foi Leticia dizendo:

— Vai ser bem mais difícil não transar com vocês do que eu imaginei.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora