100 Camadas De Desejo

15

LETICIA

— Aii! — Bruno reclama enquanto olha para nós dois.

— Não fomos nós que acordamos a casa inteira.

— O que posso fazer? É o efeito que eu causo nas mulheres — Esse aí tem um ego grande — Isso é sorvete? Já viram que horas são?

Meu tio se aproxima de nós e senta do meu lado. Ele pega o pote de sorvete e a colher da minha mão.

— Pensei que você ia dá um castigo pra ela, não mimar com sorvete.

— Estávamos discutindo sobre isso agora, têm alguma sugestão? — Lucas pergunta.

— Sei lá, deixa ela sem comida por uns dias.

— É por isso que você não têm filhos Bruno — Os dois deram risada com meu comentário — que sugestão horrível.

— Nunca tive uma criança debaixo do meu teto.

— Não sou uma criança — Tomo o pote de sorvete da mão dele — Você já faz esse trabalho.

— Ótimo Leticia, eu estava tendo uma noite incrível, até você abrir a boca.

— Olha aqui...

— Têm como vocês pararem de brigar? — Lucas perguntou com um tom de voz firme, ficamos quietos.

— Tabom papai — Bruno murmurou.

...

Ficamos conversando e tomando sorvete por muito tempo, é estranho pensar que consegui me divertir com esses dois.

Os assuntos variaram bastante e no geral ficamos a maior parte do tempo rindo iguais idiotas, até os dois dormirem como bebês.

Senti eles apoiados em mim e tentei me afastar sem acordar ninguém, por que essas pragas são tão pesadas?

Tive que ter muito cuidado com meus movimentos, precisava deles dormindo e contando com o fato de que os dois estão podres de cansaço, não ia ser fácil acordar eles.

Fiz movimentos leves e por um milagre me livrei de meus tios.

Tudo bem, a noite que tivemos pode ter sido maravilhosa e até divertida, mas eu não posso desperdiçar uma oportunidade dessas.

Andei na ponta do pé até o escritório e assim que cheguei respirei aliviada. A adrenalina me faz bem.

Não esperei um segundo para ir atrás do que eu estava procurando. Eu precisava do número daquele homem de hoje.

Enzo, esse é seu nome, acho que com ele vou conseguir informações bem importantes

Tinham pastas e mais pastas que eu nem fazia idéia de como abrir, não sabia por onde começar.

Demorou um tempo até encontrar o algo que me parecia útil, mas finalmente achei. Era um caderno com vários nomes e números do lado.

Talvez aqui tenha o que eu preciso.

Folheei as páginas rapidamente e não tive muita dificuldade para encontrar o nome que queria.

Peguei meu celular e tirei foto do número que tinha. Se isso não for o suficiente eu não vou saber o que fazer.

Coloco tudo no seu devido lugar e levanto da cadeira de frente a mesa. Tento conter a satisfação por sentir que meu objetivo estava cumprido.

Abro a porta do escritório e assim que vejo as duas figuras meu coração acelera. Essa não.

— O que você tá fazendo aqui? — Lucas pergunta e eu vejo a raiva em seus olhos.

Era difícil achar uma desculpa com esses dois me olhando.

— Eu queria explorar a casa — Foi a primeira coisa que veio em minha cabeça — Nunca conheci essa parte.

— Por que será que não acredito em você? — Bruno me pergunta.

—Porque você têm sérios problemas de confiança — Não resiste ficar quieta.

— Esse lugar é extremamente proibido para você.

— Por quê?

— Porque sim— Bruno me responde friamente — Saía, agora.

Não consegui movimentar minhas pernas, simplesmente travei como se o orgulho tivesse tomado conta.

— Você por acaso é surda? Mandei sair — Precisei de muita, muita paciência para não voar no pescoço dele.

Olhei para ele com ódio no fundo do meu coração, simplesmente não o suporto.

Nem me dei o trabalho de questionar, eu tinha o que queria e precisava me livrar dessa situação, por isso apenas passei por eles e subi as escadas.

Fui para o meu quarto o mais rápido que pude.

BRUNO

Ok, eu devo confessar que aquela garota não me agradou desde o momento que eu soube da existência dela e que as vezes, só as vezes, eu penso em mata-la.

Mas isso é totalmente normal.

Leticia é o perfeito exemplo de adolescente que não suporto, podemos começar pela sua inteligência surpreendente.

Ela não é boba, sabe onde e quando procurar as coisas que quer e o fato que na noite anterior ela estava dentro de um lugar, cheio de informações, é bem preocupante.

Entro na sala de jantar e vejo meu irmão pronto para o trabalho, a ruiva não estava lá.

— Onde está sua acompanhante? — Foi a primeira coisa que Lucas perguntou.

— Já mandei ela embora — Sento na outra ponta da mesa — Quais são nossos compromissos de hoje?

— Vamos ter uma reunião com as Lions.

— Já tinha me esquecido delas — Termino de servir meu café da manhã.

— Deveríamos falar com ela?

— Quem?

— Leticia — Só de ouvir seu nome eu já me irrito.

— E por que faríamos isso? Ela estava no lugar que não devia, sabe muito bem disso.

— Você sabe que foi bem indelicado.

— Você não espera que eu dê um pedido de desculpas, não é?

— Só estou avisando que ela pode não estar mentindo, as vezes entrou alí por engano.

— Tá Lucas, nem você acredita nisso.

Seria muito ruim se eu dissesse que não me sinto culpado por nada?

Quer dizer, ontem as coisas fugiram do controle e não consegui conter a raiva e talvez eu tenha me revirado na cama pensando se devia falar com ela.

Mas não, eu sei que não estou errado, não vou cair no papo dela.