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LETICIA

A noite que recaía no céu era com certeza a coisa mais bela que tinha a vista. A casa do desconhecido Ben era bem diferente do o pequeno chalé em que estávamos, mas mesmo assim isso não garantia que minha mente ficasse em paz.

Depois de longos minutos na "reunião" que meus tios estavam, uma funcionária veio até mim e me levou até o quarto em que eu dormiria, confesso que fiquei maravilhada com cada detalhe desse cômodo.

Eu não tinha falado com os dois desde que chegamos, já estava de noite e mesmo assim ninguém tinha vindo falar comigo, o que me deixava seriamente aflita. Não havia nenhuma segurança ou guarda para me vigiar, se eu quisesse poderia facilmente sair pela porta da frente, mas por que essa sensação tão angustiante ainda acompanhava minha cabeça?

Estava fácil demais, não é com isso que estou acostumada.

Olhei a porta de madeira branca e pensei nas infinitas possibilidades do que poderia acontecer caso eu atravessasse ela. Será que alguém me esperava atrás dessa porta?

Não dava para fugir pela janela, o mínimo deslize meu e eu estaria espatifada no chão, o banheiro não tinha nenhuma fuga, então a única maneira plausível para fugir, era por essa porta, mas quais riscos eu estaria correndo se ousasse a fazer isso?

Bom, acho que nunca saberei se não tentar.

Respirei fundo e fui até a porta, cada passo eu escutava o ritmo do meu coração acelerar. Levei a mão até a maçaneta e torci para que nada me acontecesse, escutei o barulho da porta se abrindo.

Esperei algum sermão ressoar pelo corredor, ou algum objeto bem doloroso acertar alguma parte do meu corpo, mas nada aconteceu. Simplesmente estava tudo vazio.

Era preocupante essa calma toda, mas não tinha tempo para perder, então saí sem pensar muito direto para a escadaria.

O lugar era enorme, mas fui esperta o suficiente para decorar o caminho que precisava para alcançar as escadas quando a empregada me trouxe até o quarto de hóspedes. Acho que o desespero estava me fazendo ter uma boa memória.

Fui cuidadosa a cada passo em diante que dei, desviei de qualquer perigo e não me importei com o breu que circulava cada canto da mansão.

Quando finalmente pisei no último degrau um sorriso apareceu em meus lábios. A liberdade estava diante dos meus olhos, foram dois meses presa aqueles dois e agora tudo que eu precisava fazer era passar pela porta e a liberdade estaria em minhas mãos.

Isso aconteceria se uma voz não atrapalhasse todos os meus planos.

— Você vai precisar das chaves para sair — Meu corpo inteiro gelou ao ouvir as palavras.

Olhei para o outro lado e vi Ben apoiado no batente da porta com os braços cruzados. Ele me observava seriamente, mas nada tão raivoso.

— Eu... Estava procurando meus tios, não vieram falar comigo então... — Sua risada baixa escapou.

— Me acompanhe — A confusão se instalou em meu peito — Não se preocupe, não tenho intenção nenhuma de te machucar.

— Acho melhor voltar para o meu quarto.

— Por favor, não faça essa desfeita — Tinha algo muito macabro no tom de voz dele.

Eu não sabia como ele me entregaria, não sabia em como meus tios me matariam e muito menos sabia o que eu tinha na cabeça, mas apenas o acompanhei até a sala.

Aquele silêncio era horrível, eu podia sentir o corpo dele soar sarcasmo. Por que sinto que vamos ter aquelas conversas profundas cheias de baboseiras iguais os filmes?

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora