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LETICIA

Observo a cafeteria a minha frente e tento achar algo que seja suspeito. Ok Leticia, você finalmente ficou louca.

Sei dos riscos que corro ao me encontrar com um desconhecido, não deveria simplesmente deixar a minha curiosidade tomar conta de mim.

A coisas fora do normal naquela casa, talvez seja algo da minha cabeça, mas preciso deixar bem claro para mim mesma que estou em um ambiente seguro.

Respiro fundo e finalmente crio coragem de entrar no estabelecimento. Talvez não seja tão perigoso assim.

Entro na aconchegante cafeteria e percorro meus olhos pelas pessoas. Vejo Enzo acenar para mim.

Tudo bem, estamos em público, nada de ruim vai me acontecer.

Confesso que não foi difícil entrar em contato com ele, aparentemente o loiro se interessou muito em me encontrar. Deveria me preocupar por isso.

Caminho até o homem e vejo seu sorriso se abrir assim que sento em sua frente.

— Bom dia, Leticia — Ele estende uma mão para mim e eu o cumprimento — Pedi dois cafés para gente, espero que não tenha problema.

— Não têm.

Vejo os dois homens de preto afastado dele. Pareciam seguranças.

— Tenho que admitir que foi uma surpresa quando você me ligou — Aquela simpatia dele me estressava — Me diga, como posso te ajudar?

— Preciso de respostas — Arrumo minha postura e me mantenho com um olhar firme — Qual era o intuito daquele baile?

— Seus tios sabem que estão aqui? — Seu sorriso se tornou malicioso.

— Responde... Sei que não foi apenas "negócios".

— Como tirou essas conclusões?

— Ouvi a conversa de vocês.

— Você realmente é muito esperta, até onde ouviu?

— Tudo.

— Não minta para mim, se tivesse escutado tudo da conversa não estaríamos aqui agora — Que inferno!

Uma moça se aproximou de nós e colocou duas xícaras na mesa. Ela saiu sem dizer nada e com medo no olhar.

— Têm razão. Vi você entregando um papel para meus tios, pareciam tensos — Ele bebeu um gole do café — Sei que você pode tirar minhas dúvidas.

— Olha querida, eu gostei de você, seu olhar, seu cabelo, sua postura... Você é intrigante Leticia — Por que isso parecia tão sincero? — Mas não posso dizer nada justamente por esse papel que entreguei ao seus tios.

A raiva preencheu meu corpo mas não demonstrei.

— A única coisa que posso te falar é que aquele papel era um contrato.

— Um contrato de que?

— Paz, um contrato de paz — Que porra é essa?

— Mas... — Antes que eu pudesse falar ele me interrompeu.

— Um conselho que eu dou para você é, procure no escritório deles, lá você vai achar o que quer.

— Aquele escritório não tem nada de útil.

— Não tô falando do escritório da casa — Enzo retira uma nota de cinquenta da carteira — Estou falando do escritório da empresa, muitas coisas acontecem por lá.

Como eu posso chegar até o escritório daqueles imprestáveis?!

— Se cuide menina e tome cuidado com o que você procura, pode encontrar coisas que não deseja.

Foi a última coisa que ele me disse antes de levantar e sair. Não foi tão inútil assim.


[...]


Quando cheguei em casa levei uma bela de uma bronca da Valentina, ela simplesmente citou centenas de vezes que eu estava de castigo e não deveria desobedecer as ordens do meu tio.

Ignorei completamente isso e fingi que nada aconteceu.

Passei o resto da tarde no meu quarto me preparando para o que ia fazer agora.

A lua já brilhava no céu e a noite recaía por toda a cidade. Eu me olhava no espelho do corredor enquanto me preparava para o que ia fazer.

De algum jeito eu vou conseguir o que quero.

Não costumo me dedicar a coisas superficiais como essa, mas quando algo martela minha cabeça eu preciso resolve-la.


Respirei fundo e caminhei pelo corredor, abri as portas da sala de jantar e a atenção rapidamente focou em mim.

Lucas pareceu... Sem ar.


— Leticia... — Seus olhos percorreram a camisola que eu usava.

Não era nada muito exagerado, pelo menos não para mim, mas tinham certas partes em meu corpo que se ressaltavam  com esse pijama.

— Boa noite, tio —  Fechei as portas e sentei no lugar de sempre.

Por uma sorte do destino Bruno não estava presente nessa noite.

— Ah... Boa noite — Ele tirou os olhos de mim — Tenho uma notícia boa para você.

— Notícia boa? O que aconteceu? — É um milagre algo da certo em minha vida.

— Fui até sua escola hoje, conversei com sua diretora e você vai poder fazer uma prova para pular esse ano.

Uma confusão me atingiu, vou me livrar de todos aqueles idiotas?

— Uma prova?

— Sim, você vai ter que estudar muito para passar nessa prova, a escola te deu um mês para se preparar. Se conseguir a quantidade suficiente de pontos, vai terminar a escola.

— Eu... Isso é incrível — Vejo minha deixa de entrar no assunto — Inclusive, vai ajudar muito no que quero fazer.

— O que você quer fazer?

— Eu sei que estou de castigo, mas eu quero muito me desculpar com o senhor e me tornar uma pessoa mais responsável, por isso eu pensei em começar a trabalhar.

O silêncio recaiu sobre nós por alguns segundos e quando pensei que ele não diria nada, um sorriso frouxo escapou de seus lábios.

— Leticia isso é incrível! Onde quer começar? Posso ajudar você a escolher se precisar.

— Na verdade, pensei que poderia trabalhar na empresa — Ele precisou de um tempo para raciocinar.

— Na empresa?

— Sim, sei que não sou a pessoa mais indicada mas uma parte também é minha e quero me adaptar já.

— Você não tem nenhuma experiência com isso.

— Por isso mesmo, administração sempre me pareceu uma boa ideia — Mentira — E agora tenho a oportunidade de progredir, pode ser um cargo pequeno.

— Eu... Preciso falar com o Bruno, vamos pensar nisso — Um sorriso abriu em meus lábios.

— Obrigada Lucas, não sabe como isso é importante para mim — Levantei da cadeira e me aproximei de meu tio.

Ele me olhou confuso e todo seu corpo ficou paralisado quando aproximei meus lábios de sua bochecha.

— Não estou com fome mas obrigada pela conversa.

Me afastei do seu calor e o deixei sozinho na cozinha. Espero que dê tudo certo.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora