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LETICIA

O dia tinha passado tão rapidamente quanto um piscar de olhos, como todos os dias eu fiquei sentada nessa cama apenas existindo.

O dia anterior tinha sido diferente, eu conheci a casa quase por completo graças aos descuidos de Bruno e tenho que admitir que não foi tão ruim bater nele livremente.

Mas de noite meu sono foi roubado por diversos pesadelos, me vi livre quando Lucas interrompeu aquilo, as lembranças têm sido mais difíceis de esquecer e derrepente tudo parece tão mais... Intenso. Tudo está relacionado ao meu pai e de algum jeito essa casa tá piorando.

Não tinha feito nada de diferente hoje, nem mesmo vi Bruno pela manhã. Percebi que meus tios estavam revisando os dias que podiam sair, hoje era o dia de Lucas ficar em casa por isso apenas vi ele.

Minhas pernas já estavam formigando de tanto ficar sentada nessa cama dia e noite, pelo menos eu podia ver parte do céu pela janela, mas mesmo assim as tábuas ainda me impediam de ver as estrelas que se desenhavam pela linda noite. Será mesmo que minha vida a partir de agora é só isso?


O barulho da porta se abrindo impediu de eu continuar no meu perfeito e atormentado silêncio. Olhei para Lucas entrando no quarto, dessa vez sem nenhuma bandeja.

— Você... Precisa de alguma coisa? — Sua pergunta foi receosa.

— Não — Respondi simplesmente sem tirar os olhos da janela.

Eu ainda podia sentir ele me olhar, já estava me irritando seriamente.

— Você já tomou banho? — Por que essa pergunta?

— Sim, você pode ir embora — Olhei para ele e não demonstrei nada a mais que indiferença.

— Leticia você quer descer um pouco? — Espera, essa pergunta foi inesperada.

Eu nunca tinha saído desse quarto, além da vez que Bruno me tirou daqui, todas as minhas refeições são tragas até mim e minhas necessidades são feitas no banheiro que ficava dentro do quarto. Mas por que agora ele quer que eu desça?

— O que vocês estão aprontando? — Perguntei sem enrolação.

— Nada! Quer dizer, Bruno comprou alguns lanches e trouxe um jogo de tabuleiro pra gente, se você quiser pode descer.

Eu não sabia qual era o plano por trás disso, então acho melhor ficar exatamente onde estou.

— Não quero — Desviei o olhar do dele.

— Mas se você...

— Pode ir embora, Lucas — Ele se calou rapidamente e escutei seu suspiro.

— Tudo bem, se mudar de idéia pode ir até lá embaixo — Seu tom de voz parecia mais triste que o comum.

Meu tio se afastou e saiu completamente do quarto. Ele não trancou a porta dessa vez.

Eu podia pensar em dezenas de coisas que me impediam de descer, mas a minha curiosidade gritava mais alto. Eles não deixam sair desse quarto para nada e agora Lucas me chama para isso?! Ok, é no mínimo suspeito.

Escutei alguns barulhos no outro cômodo e senti aquele puxão fortemente. Me xinguei internamente por ter levantado da cama e ter ido em direção ao corredor.

A casa era bem menor do que eu me recordava e aparentemente não tinha outra saída a não ser a porta principal.

Desci as escadas lentamente e senti minhas pernas reclamando de dor, eu deveria me movimentar mais. Pensei seriamente se deveria subir mas decidi seguir em frente e entrar na sala, eles me olharam surpresos.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora