100 Camadas De Desejo

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LETICIA

Meu coração queimava com o mais puro ódio que eu podia sentir, meu corpo ardia da forma que eu não gostava e parecia ter uma angustia presa na minha garganta pronta para ser liberta em choro, mesmo assim não permiti parecer tão vulnerável.

Eu sabia que essa coisa de amor em algum momento daria errado, tudo ia escorrer pelo ralo e seria o pior sentimento da minha vida. Devia ter seguido o que minha consciência pedia.

Será mesmo que para eles não foi nada? Que eu fui a única a realmente colaborar para que tudo desse certo?

Tentei anular os pensamentos da minha cabeça e arrumei a cama para poder dormir.

Eu estava com raiva, isso era nítido e não apenas por eles terem feito isso, mas também por ter passado o dia me arrumando para eles, ansiosa para agradar os dois.

Batidas na porta surgiram já me indicando que não teria paz tão cedo, escutei a voz de Lucas falando:

— Amor, você ainda tá brava com a gente?

Sim, eu ainda estava e continuaria se não recebesse pelo menos uma justificativa digna para esses problemas. Permaneci quieta e não demorou para que os dois entrassem, devia ter trancado a porta.

— Le, vamos conversar, por favor

Dei as costas para ambos e fui até a ponta da cama já pronta para me deitar.

— Não tenho nada para falar com vocês.

— Claro que têm, será que pode nos ouvir um pouquinho?

— Eu não tô surda, podem falar.

— Não, não é para tratar a gente assim — Lucas sentou na cama e tentou me puxar para perto — Rainha...

— Vocês estavam com cheiro de outra mulher — Me afastei dos dois — Não têm justificativa plausível para isso.

— Claro que têm — Bruno disse com as expressões tristes — A gente só não consegue explicar como.

Respirei fundo e tentei acalmar meu coração que batia de um jeito tão rápido e forte que eu mal podia me conter. Talvez fosse um exagero mas eles trabalhavam com uma realidade muito diferente da minha e sinceramente eu sabia que isso poderia acontecer, mas só queria acreditar que dava para ser diferente.

Fui burra? Talvez. Mas eu gosto deles, gosto de mais para me submeter a passar por isso tudo, que ódio.

— Amor, não têm outra, para com isso — Bruno tirou o celular do bolso e logo em seguida estendeu em minha direção — Olha, esse é todos os lugares que passamos.

Peguei o aparelho e vi o que o aplicativo de caminhada dele mostrava. Indicava nossa casa, a empresa, um depósito e um... Shopping.

— O que foi fazer nesse depósito?

— Trabalho — Apenas pelo seu tom de voz eu entendi o que se passava. O trabalho sujo.

— E no shopping? — Ele suspirou.

— Queríamos comprar um presente para você — Lucas tirou uma nota do bolso, era um comprovante de um vestido — Íamos te chamar para jantar amanhã em um restaurante de um amigo, compramos um vestido.

Ok, isso levemente amaciou meu coração.

— Como vou saber que os dois não estão mentindo?

— Neném, demorou muito para te ter, por que caralhos íamos te trocar por outra? — Lucas disse se levantando e vindo até mim.