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LUCAS

O silêncio na casa não era ruim, tinha algo reconfortante em finalmente ter paz, mas não era com isso que eu estava acostumado, com certeza não era.

As vezes eu sinto falta da outra casa, de como todas as vozes insuportáveis me atrapalhavam, agora eu só sinto essa terrível solidão e sinceramente não gosto tanto disso.

Respiro fundo e termino de colocar tudo na bandeja, precisava urgentemente fazer compras.

Subi todos os degraus da escada cuidadosamente, não queria fazer nenhum barulho que fosse incômodo. Assim que cheguei no pequeno corredor fui até a porta mais próxima e bati duas vezes, não recebi uma resposta.

Leticia finalmente está um pouco mais "humanizada" com a gente, ela pelo menos consegue nos olhar agora, mesmo assim não é a mesma coisa. Desde que fomos no bar da Pepita, seu comportamento melhorou muito, mas hoje foi diferente, ela nem sequer desceu.

Abri a porta com a chave e fechei os olhos na hora de entrar.

— Desculpa ter entrado assim, é que você não tomou café então eu trouxe uma bandeja... — Assim que abri os olhos observei uma cena bem peculiar — Leticia?

— Saí daqui, não quero comer — Ela estava encolhida na cama, totalmente coberta.

Coloquei a bandeja na penteadeira e rapidamente fui até ela. Meu peito apertou sem saber o que fazer.

— O que aconteceu?! Você tá com febre? — Coloquei minha mão em sua testa mas ela logo tirou.

— Já falei para sair daqui! — Minha sobrinha sentou na cama e olhei sua expressão ficar tensa.

Não bastou muito tempo para entender o que acontecia, o cobertor branco apenas caiu um pouco para eu ver a mancha vermelha que estava pela cama. As bochechas da ruiva ficaram vermelhas.

— Ah... Acho que entendi — Tentei não olhar o sangue que machava seu shorts — Por que não me disse que estava nesse período?

— Não é da sua conta, pode deixar que eu vou lavar tudo isso.

— Não, não precisa lavar! Você tá sentindo dor?

— Lucas, saí — Tinham lágrimas de puro ódio em seus olhos.

— Deixa eu ajudar — Olhei em volta em busca de algum milagre, eu com certeza não sei como ajudar.

— O que você pode fazer?

— Ah... Por que você não toma um banho?

— Ai meu deus — ela colocou as mãos no rosto — Não faz essa situação ser pior do que já é.

— É sério! Pode ajudar se você tiver sentindo dor.

— O que você sabe sobre isso?

— Muita coisa — Nada — Toma um banho, eu já volto.

Não deixei ela falar mais nada, apenas saí antes que Leticia pudesse levantar e eu a deixasse ainda mais envergonhada.

Peguei o celular no meu bolso e liguei para o meu irmão imediatamente, não demorou muito para ele atender.

≈ Alô?

≈ Bruno, preciso que compre produtos para Leticia.

≈ Produtos?

≈ É, ela tá menstruada.

≈ Ata, você quer que eu compre as fraldinhas de sangue?

≈ Absorventes, Bruno — Podia jurar que vi ele retorcendo os olhos — Vai logo!

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora