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LETICIA

A lua estava linda, brilhante e iluminando a cidade inteira, poderia observa-la por muito tempo. Quase fazia minha noite ser um pouco melhor.

Apesar de ter recebido a proteção dos meus noivos, as palavras de conforto e a garantia que ficaria tudo bem, eu ainda me sentia péssima, suja. Sabia que esse mundo deles poderia ser ruim, mas o que vi hoje foi... Terrível.

A sede nos olhos, a pura crueldade no rosto, a forma como eles passeavam seus malditos olhos por mim foi como um bando de porcos, fez eu sentir repulsa por cada pessoa, cada maldito monstro que tinha naquele lugar.

Lucas abriu a porta e senti o peso da exaustão que estava carregado em meus ombros. Larguei o salto no meio do hall de entrada e encostei na parede, os dois me observaram.

— Você tá bem? — Lucas foi o primeiro a perguntar.

— Eu tô viva, isso é o importante.

— Desculpa por tudo, não podíamos fazer nada e... Se pudéssemos matar cada um que tentou induzir você a...

— Não é culpa de vocês — Interrompi as palavras de Bruno — Eu sei que tentaram e tá tudo bem, eu só preciso de um banho e cama.

Eu precisava esquecer das palavras daquele maldito, o que ele disse sobre Carlos, sobre mim. Essas coisas se apagam com menos facilidade do que eu gostaria.

Todas as noites eu sonhava com ele, com os toques doloridos, com as palavras ditas a mim, ou apenas pelo acumulo do ódio em seu peito. Eu realmente tinha tanta culpa nisso?

Em meio a tanto caos dentro da minha cabeça senti dois pares de braços me abraçarem, os meninos me apertaram fortemente e escutei o som do choro baixinho.

— Nos perdoe amor, queríamos que você não passasse por isso — Eles estavam chorando?!

— Não queríamos te contar, mas Custódio é amigo do Richard e vê as coisas que ele disse para você é como escutar os sons dos portões dos infernos se abrindo — Lucas me apertou com mais força em meio as palavras.

— Os dois são amigos?

— Não queríamos te machucar — Eles me largaram a poucos centímetros e observei os olhinhos vermelhos, me partiu o coração.

— Por que estão chorando?

— Porque você não tá se sentindo bem — Bruno fungou e notei em como eles pareciam vulneráveis, totalmente diferente dos homens de algumas horas atrás.

— Meninos... — Fui até eles e depositei um beijo calmo em seus lábios — Eu tô bem, só preciso descansar, não chorem.

— Amor, desculpa — Eles me agarraram de novo dessa vez com mais força.

— Ok, por que a gente não toma um banho, coloca um pijama bem quentinho e dormi agarrados?

— Você tá bem mesmo?

— Claro que tô, mas não vou ficar tão bem se vocês continuarem chorando.

— Só queríamos proteger quem a gente ama — As palavras de Lucas foram como uma faca bem pontuda cravada em meu peito.

Amor, de novo essa palavra. Bruno disse isso para mim uma vez e eu ainda consigo sentir o peso que foi colocado em minhas costas quando escutei isso.

Certo, isso era algum tipo de ilusão? Talvez eles amem o tempo que passa comigo, ou amem o que eu aparentemente sou... Mas eles me amariam se eu mostrasse a verdade? Se eu simplesmente falasse de tudo?

E o pior, eu correspondia esse sentimento intenso? Passamos por muitas coisas e agora estamos nesse ponto.

— Eu... — As palavras fugiram da minha boca — Acho que eu... Vamos dormir, é melhor

Não conseguia explicar o que sentia, nem sequer raciocinava esse tanto de pensamentos que corria solto pela minha cabeça. Amar é algo tão forte.

— Vou cuidar de vocês agora — Segurei a mão deles e os puxei para as escadas.

Foi difícil a caminhada mas mesmo assim conseguimos chegar dentro do meu quarto sem que eles chorassem mais uma vez. Só queria tirar essa dor dos meus meninos.

Tranquei a porta e fui surpreendida com um beijo assim que virei em direção a eles, para variar era Bruno e sinceramente o toque não pareceu sexual, só um gesto romântico mesmo.

Disformei nossa união e os puxei até minha cama, fiz os dois sentaram na ponta, eles ainda estavam com os olhinhos vermelhos.

— Eu vou tomar um banho e vocês vão fazer o mesmo.

— Não, fica aqui com a gente — Lucas tentou me puxar.

— De jeito nenhum.

— Então a gente toma banho juntos — Era impossível minha mente não levar para outro lado.

Como pode uma coisinha dessa ir do modo fofo para o coelho no cio em questão de segundos?

— Odeio admitir isso mas não podemos, vocês estão com as emoções afloradas e estão em meio de uma promessa.

— Só vai ser um banho — Bruno disse abraçando minha cintura e apoiando a cabeça na minha barriga.

— Nós três sabemos que não é assim que funciona entre a gente.

Levantei o rosto dele delicadamente e deixei um selinho em seus lábios antes de me afastar. Esse aí era uma verdadeira criança.

— Tomem um banho e me encontrem aqui daqui a pouco — Fui em direção ao banheiro mas uma voz me interrompeu.

— Leticia! — Olhei para eles — Só mais um beijinho.

— Acho que tô mimando vocês de mais.

— Por favor! — Soltei uma risada baixa e fui até eles.

Ainda me impressionava a maneira em como ambos faziam os problemas da minha cabeça evaporar. Acho que isso sim era de fato um alívio.

Foi a minha verdadeira calma acordar no meio da madrugada depois de um péssimo pesadelo e vê os dois dormindo sem preocupações no rosto.

Por que meu coração têm batido tão fortemente nessas últimas semanas? Não parece normal gostar tanto assim.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora