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LETICIA

A noite recaía pela cidade toda, a brisa fria que vinha da janela era arrepiante e o único som no quarto inteiro era os meus suspiros baixos. Aparentemente todos já estavam dormindo.

O dia não tinha sido bom para mim, fiquei no quarto praticamente a todo momento e quando eu me arriscava a sair dava de cara com meus tios, foi um longo desafio ter que comer na mesma mesa que eles. Podemos dizer que as coisas não estão boas entre nós.

Respirei fundo e passei a última camada de rímel em meus cílios. Não tenho muito tempo para fazer isso.

Me olhei no espelho mais uma vez e tentei achar algo que não gostasse em mim. Esse é o melhor que posso fazer no momento.

Eu sei que Bruno e Lucas falaram que não era para mim me encontrar com Richard nessa noite, mas eu nunca segui as regras deles e sinceramente ainda tenho muito a descobrir com aquele velho asqueroso.

Peguei meu celular da cama e enviei uma mensagem para Enzo, ele era o único que sabia para onde eu estava indo. Não confio muito nesse loiro, mas ele é a única pessoa que pode me ajudar agora sem muitos julgamentos.

Peguei meu salto, passei o perfume que estava na penteadeira e coloquei o melhor sorriso no rosto.

Assim que me aproximei da porta tive muito cuidado ao abri-la, o mínimo barulho poderia despertar a casa inteira. Andei nas pontas do pé e segurei minha respiração, eu estava tão silenciosa quanto o vento que circulava pelos cômodos.

Desci as escadas e quando cheguei no hall de entrada me apressei para sair. Nada me impediu.

Dei um sorriso comigo mesma e corri até o carro que me aguardava para me levar até a festa.

Espero não morrer hoje.

[...]

Tudo estava diferente da noite anterior. Ao invez da música barulhenta e animada, hoje tocava algo mais calmo e clássico, tinham mesas espalhadas e as acompanhantes vestiam vestidos mais longos e requintados. O lugar estava realmente lindo.

Para entrar no grande salão eu apenas precisei dizer o meu nome que imediatamente a entrada foi permitida, não entendi isso, mas tambem não perdi muito tempo pensando.

Eu sabia dos riscos que corria vindo nesse lugar e por uma mínima segurança compartilhei minha localização com Enzo, mas acho que isso não adianta muita coisa.

Um garçom passou por mim e eu rapidamente peguei uma das taças que ele levava na bandeja. Tomei um champanhe com um só gole.

Era raro eu sentir medo de alguma coisa, mas eu confesso estar mais agitada que o comum. Acho que isso é normal estando diante de algo que você nem sabe como lidar.

Em meio a toda distração senti uma mão em meu braço, meu corpo entrou em estado de alerta mas logo se acalmou. Reparei na pessoa que estava ao meu lado.

— Richard? — Coloquei um sorriso falso em meus lábios.

— Você está linda, Leticia — Ele me olhou de cima a baixo e eu lutei contra a vontade de revirar os olhos.

— Obrigada.

— Sabe jogar?

— Ah... Não muito.

— Vamos tentar a sorte então.

— Richard, eu não tenho nada para apostar.

— Não se preocupe, tudo por minha conta.

Seu sorriso me dava repudia, mesmo assim deixei que o velho me levasse até uma das mesas de poker. Senti os olhares sobre mim.

— Boa sorte, querida.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora