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LETICIA

Eu não sofria com despedidas, as pessoas nem sequer entravam na minha vida para isso acontecer, mas de algum jeito eles conseguiram, passaram por muralhas bem necessárias que coloquei em volta de mim e não era justo que depois de tudo isso, de tudo que havia acontecido, eles simplesmente saíssem com apenas uma carta de despedida, sem me avisarem que estavam me mandando embora

Passei muito tempo me sentindo sozinha na minha própria jornada e para ser sincera tenho quase certeza que ainda estou, mas eu tive uma companhia, nem que por pouco tempo eu tive a companhia dos dois e isso tudo era tão... Injusto.

Eles pareciam chocados em me ver e até eu estava surpreso a por estar aqui. Mas eu tinha coisas parar falar.

— Leticia?

Levantei do degrau que estava sentada e me aproximei dos dois. O corpo deles pareceu tenso quando estendi o envelope em suas direções.

— Eu não quero isso — Bruno pegou o papel e viu a carta que estava dentro — Sério mesmo? Mandaram uma carta como dois covardes com medo?

— A gente... Pensamos que não queria nos ver — Lucas abaixou levemente a cabeça, não estava acostumada a ver isso.

Respirei fundo e cruzei os braços. Céus, o que eu ainda estava fazendo aqui?

— Querem que eu vá embora?

— Leticia...

— Responde — Mantive o tom de voz firme.

— Não, a gente não quer que você vá embora — Lucas respondeu.

— Mas isso é uma escolha sua — Bruno completou — Estamos disposto a tudo, se você quiser ficar...

— Eu não quero, eu realmente não quero ficar aqui — Olhei as malas no canto da sala — Sabe, eu não sou do tipo estocolmo, não tenho planos de permanecer aqui.

— Então por que ainda não foi embora?

— Porque eu quero um pedido de desculpas descente, não algo escrito em um papel — Meu sangue esquentou — Passei por coisas difíceis com você, confiei nos dois, eu estava disposta a colocar a mão no fogo por vocês, mas quando eu me virei de costas vocês simplesmente me tacaram em uma fogueira sem pensar nos danos que isso me causaria. Então sim, eu quero uma desculpa descente, eu mereço uma desculpa melhor.

— Ok, nos desculpe por ter arruinado a sua vida! — Bruno não poupou o tom de voz — Desculpa por ter feito danos tão drásticos, desculpa por tudo o que falamos, desculpa por termos feito você definhar naquela maldita casa, desculpa não ter conseguido cuidar de você da maneira que precisou quando seu pai morreu — Vi os olhos dele brilhar com as lágrimas — Nos desculpe por tudo isso.

Senti o ar escapar novamente do meu controle e mantive minha cabeça centrada em suas palavras.

— A gente... — Lucas suspirou e prosseguiu com as palavras — Nós dois causamos danos horríveis, como você mesmo disse, e acredite, estamos arrependidos... Mas não podemos dizer o mesmo para você, quer dizer... Caralho tudo melhorou a partir do momento em que você chegou naquela casa, mesmo com as consequências que vieram juntas, mas... Nos desculpe, Tabom assim?

— Peçam de novo — Sussurrei.

— O que? — Eles perguntaram juntos.

— Peçam desculpas mais uma vez.

— Por que...

— Só faça o que eu mandei!

— Desculpa — As palavras foram ditas de uma vez.

O silêncio era estranho, não combinava com o peso das palavras deles, parecia ter um grande elefante na sala.

— Nós já fizemos o que você queria, pode ir agora — Lucas disse.

— Eu... Ainda não estou satisfeita — Engoli em seco quando olhei para os dois — Foram meses dessa porra toda, meses aguentando coisas que eu nem sequer deveria estar passando.

Me aproximei deles como a forma mais impulsiva que consegui. Tinha uma raiva crescente se acumulando em meu peito.

— Sabe como é vê sua liberdade voar para longe? — Mantive contato visual com os dois — Vocês devem muito a mim.

— Você têm razão — Lucas confirmou — Tem a total razão.

Bruno me olhou de cima a baixo e colocou as mãos no bolso, ele ainda fazia isso? Não me deixei intimidar com o gesto.

— Você não quer só um pedido de desculpas, não é? — Suas perguntas foram como um pesadelo.

— Não faz isso.

— Do que tá falando?

— Não tenta assumir o controle — Ele deu um sorriso de lado, mas pareceu triste.

— Não tô tentando assumir o controle de nada, você sabe que manda na gente em qualquer hipótese — Meu corpo estremeceu.

— O que você quer de verdade, Leticia? — Lucas pareceu sacar o jogo.

Eu podia apreciar aquelas palavras por horas, apenas vê-los tão disposto a fazer tudo o que eu pedisse. Era como meu melhor sonho se realizando.

— Fala, rainha — O moreno colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — O que vamos fazer para você conseguir nos desculpar?

Apertei as pontas do meu dedo dentro do salto. Por que aqui tava tão quente?

— Não quero nada de vocês — Minha voz tremeu ao falar aqui.

— Então por que ainda tá aqui? — Engoli em seco — Fala Leticia, como vamos resolver isso?

Não podia indentificar se isso era um tipo de sonho ou apenas um pesadelo. Mas eu sabia que eles estavam certos... Com certeza eu não devia tá aqui, não devia tá sendo tão puxada por eles.

Eu não conseguia dizer nada, não podia falar as coisas que se passavam por minha cabeça, a forma em como minha imaginação trabalhava duro para saciar meu próprio desejo.

Bruno se aproximou junto com o companheiro e senti o calor do seus corpos. Dei um passo a diante e fiquei a poucos centímetros de distância.

— Vocês não são irmãos — Murmurei — E eu não sou a sobrinha de vocês.

— Não, você não é — Minha respiração ficou irregular.

— Até onde podemos ir com tudo isso?

— Até onde você quer ir? — Bruno perguntou me pegando pela cintura — Talvez podemos começar com o vestido.

— O que?

— Tira ele — Olhei Lucas nos observando, não era ciúmes, parecia desejo.

— Aqui? — Meu rosto esquentou.

— Por que não? — Avaliei a situação.

Ben não estava em casa, eu sabia disso, os empregados não tinham permissão para perambular por qualquer comodo e aquele lugar parecia tão pequeno para tudo o que eu queria fazer, tudo o que tinha em mente.

Senti uma mão sendo levada até o zíper do meu vestido e deixei que ele tirasse o tecido do meu corpo. Não me permitir ficar envergonhada com o olhar de ambos.

— Não posso ser a única sem roupas aqui — Avaliei os dois da mesma forma que eles faziam comigo.

— Não — Lucas sorriu de lado — Aqui não.

— Por que não? — Repeti a pergunta no mesmo tom que Bruno tinha feito.

— Porque não vou correr o risco de deixar alguém ver Bruno te fudendo nesse hall de entrada — Ele se aproximou quase me comendo com os olhos, sua boca se aproximou do meu pescoço — Esse vai ser um privilégio só meu — Seu sussurrou foi motivo o suficiente para meus pelos se arrepiarem.

A decisão parecia ter sido tomada.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora